As coisas são o que são e o tempo muda as embalagens mas não
os conteúdos.
Está toda a gente, das redes sociais ao governo, passando
por classes profissionais, escandalizadas com uma entrevista feita a um líder de
extrema-direita. Dizem, com alguma razão, que foi dar tempo de antena e
visibilidade a gente que melhor seria estar longe de nós, que os seus ideais
são perigosos, tal como as suas práticas.
É um consenso de opiniões. Atitudes equivalentes às que
aconteceram no pós revolução, em que os simpatizantes do antigo regime eram
votados ao olvido, meio para que as suas ideias não voltassem, meio como forma de
muitos sobrevivessem ao “caça às bruxas” da época.
Faz sentido considerando o pensar colectivo. De então e de
agora.
Mas vejo os mesmos (ou quase) a ficarem indignados com a
anunciada perseguição a pensadores comunistas e socialistas no brasil.
Anunciada pelos novos governantes e sem disfarce algum. Logo no dia seguinte a
estar em funções.
Convenhamos que o pensamento fascista não se pode comparar
ao pensamento socialista ou comunista. Pese embora algumas ditaduras ditas
comunistas não serem melhores que qualquer ditadura fascista. Nem as práticas.
Mas os crimes de pensamento (ou a polícia do pensamento,
como descreveu Orwell) são tão perigosas num como noutro regime, sejam quais
forem os alvos.
Pensar faz parte da liberdade. Privar o direito a pensar é
limitar a liberdade. E o conceito “excesso de liberdade” é perigoso na medida
em que haverá que definir os limites à liberdade e saber quem os define. Um
ditador também defende a liberdade, dentro dos seus próprios moldes.
Perseguir, seja de que forma for, quem pensa diferente de
nós é limitar a liberdade. E sabemos o que isso foi por cá, noutros tempos. Ou
o que está a começar a acontecer por cá, agora. Um bom exemplo de perseguição à
liberdade de pensar é o que acontece com as críticas à entrevista deste
perigoso extremista. Este é de direita, mas poderia ser de esquerda, ou de uma
profissão de fé, ou de um clube de futebol.
Deveremos agir, individual ou colectivamente, para que os
pensamentos que atentem contra a liberdade não possam tomar forma. E uma boa
forma de o fazer é não lhes dar publicidade.
Mas impedir que se expressem, calando-os ou censurando-os, é
tão grave quanto atirar para um calabouço ou despedir alguém porque segue outra
linha de pensamento. Ou fé.
Não será fácil gerir o equilíbrio entre os pensamentos e as
paixões. Mas quando deixamos que as segundas tomem posse dos nossos actos,
estamos a renegar os nossos próprios pensamentos.
Qualquer tipo de ditadura é perigosa. A que incide no
pensamento será a pior, vinda de que lado vier.
By me
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