sábado, 5 de janeiro de 2019

Polícia do pensamento




As coisas são o que são e o tempo muda as embalagens mas não os conteúdos.
Está toda a gente, das redes sociais ao governo, passando por classes profissionais, escandalizadas com uma entrevista feita a um líder de extrema-direita. Dizem, com alguma razão, que foi dar tempo de antena e visibilidade a gente que melhor seria estar longe de nós, que os seus ideais são perigosos, tal como as suas práticas.
É um consenso de opiniões. Atitudes equivalentes às que aconteceram no pós revolução, em que os simpatizantes do antigo regime eram votados ao olvido, meio para que as suas ideias não voltassem, meio como forma de muitos sobrevivessem ao “caça às bruxas” da época.
Faz sentido considerando o pensar colectivo. De então e de agora.
Mas vejo os mesmos (ou quase) a ficarem indignados com a anunciada perseguição a pensadores comunistas e socialistas no brasil. Anunciada pelos novos governantes e sem disfarce algum. Logo no dia seguinte a estar em funções.
Convenhamos que o pensamento fascista não se pode comparar ao pensamento socialista ou comunista. Pese embora algumas ditaduras ditas comunistas não serem melhores que qualquer ditadura fascista. Nem as práticas.
Mas os crimes de pensamento (ou a polícia do pensamento, como descreveu Orwell) são tão perigosas num como noutro regime, sejam quais forem os alvos.
Pensar faz parte da liberdade. Privar o direito a pensar é limitar a liberdade. E o conceito “excesso de liberdade” é perigoso na medida em que haverá que definir os limites à liberdade e saber quem os define. Um ditador também defende a liberdade, dentro dos seus próprios moldes.
Perseguir, seja de que forma for, quem pensa diferente de nós é limitar a liberdade. E sabemos o que isso foi por cá, noutros tempos. Ou o que está a começar a acontecer por cá, agora. Um bom exemplo de perseguição à liberdade de pensar é o que acontece com as críticas à entrevista deste perigoso extremista. Este é de direita, mas poderia ser de esquerda, ou de uma profissão de fé, ou de um clube de futebol.
Deveremos agir, individual ou colectivamente, para que os pensamentos que atentem contra a liberdade não possam tomar forma. E uma boa forma de o fazer é não lhes dar publicidade.
Mas impedir que se expressem, calando-os ou censurando-os, é tão grave quanto atirar para um calabouço ou despedir alguém porque segue outra linha de pensamento. Ou fé.
Não será fácil gerir o equilíbrio entre os pensamentos e as paixões. Mas quando deixamos que as segundas tomem posse dos nossos actos, estamos a renegar os nossos próprios pensamentos.
Qualquer tipo de ditadura é perigosa. A que incide no pensamento será a pior, vinda de que lado vier.



By me

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