sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O encontro



Sentadas em duas mesas de uma casa de hambúrgueres, duas mulheres.
Já é tarde, o jantar foi já há muito, e estão a usar o local como ponto de convívio, cada uma com os respectivos filhos, entre os dez e os doze anos.
Reconheceram-se após um interregno de oito anos, se bem ouvi a conversa.
De onde se reconheceram?
De terem estado em simultâneo alojadas numa casa-abrigo de apoio à vítima.
O que foi bom de ver?
O tom mais ou menos natural com que falaram desses tempos e do que lhes sucedeu depois de se terem separado. E do que sabiam de outras, desses tempos.
Falam das dificuldades financeiras e trocam números de telemóvel. Que não creio que venham a usar, que aquele passado quer-se bem enterrado e tão longe quanto possível dos filhos.
Fechados nos nossos casulos burgueses, na monotonia das nossas vidinhas, com mais ou menos meios económicos, nem desconfiamos das tragédias da porta ao lado. Por vezes na verdadeira acepção da palavra.

Espero que não contassem com uma imagem das intervenientes, mães ou filhos.

Fiquem-se com a fotografia do caderno onde foi registado o encontro.

By me 

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