Eu tenho esta
pedra.
Em boa verdade,
tenho várias pedras parecidas, mas uma especial predilecção por esta. Cabe-me
bem na mão, foi minha confidente durante uns tempos complicados, nunca deixou
de me proporcionar a paz que procurava…
Eu tenho uma
pedra, esta, e gosto dela.
Mas também tenho
um fotómetro. Um Sekonik Studio Delux.
Tenho-o há mais de
trinta anos, sempre fiel e rigoroso, sem nunca me ter deixado mal visto. Se
algo correu menos bem com o seu uso, fui eu que fiz asneira.
Pode-se agora
perguntar: destes dois objectos, ambos antigos, de qual mais gosto? Qual deles
me é mais íntimo, mais próximo da alma? Qual o que melhor fala comigo?
Francamente não
sei!
De qualquer um
encontraria substituto material, igual ou quase igual na matéria, na forma, na
idade e na função. No entanto, e por muito iguais que pudessem ser, não seriam
aqueles que passaram horas e horas e horas na minha mão, no meu bolso, na minha
mochila. Não teriam neles parte de mim, da energia que para eles passei. Nem
teria eu parte deles, das energias que me passaram.
Que os objectos,
por muito neutros e vazios de significado que aparentem, têm personalidade
própria e afazem-se aos que os usam da mesma forma que o oposto. Dando um
exemplo muito prosaico, como um par de botas ao fim de dois anos de uso.
É por isso que
gosto de fotografar objectos. E quanto menos novos melhor. Para além da matéria
de que são feitos e que reflecte a luz que capturo, há algo neles que fala
comigo, dos seus usos anteriores e de quem os usou.
Uns falam-me mais
que outros, naturalmente. Talvez que mais faladores. Ou eu mais sensível com
alguns que com outros.
O pedal de
acelerador de um carro, ainda que gasto, não me é muito perceptível. Já uma
peça fotográfica ou que, de algum modo, se relacione com a luz… sou todo
ouvidos. E quanto mais usada for mais tem para contar, que diabo.
Então,
perguntareis, porquê uma pedra por confidente e não uma objectiva, ou um
filtro, ou um fotómetro?
Bem, ela estava no
meio muitas outras, uns milhares sem exagero. Mas, ao passar por elas, esta
como que me chamou. Foi-me impossível não parar para tentar perceber de onde
vinha aquela voz não materializada, aquele “Oh tu! Olha p’ra mim!”
E eu olhei,
estiquei a mão e ela aninhou-se-lhe como se sempre ali estivesse estado.
Não escolhemos
sentimentos. Os nossos ou os dos outros. Acontecem e, se estamos por perto,
ajustam-se.
E é pouco
importante se os sentimentos são por um “ser vivo”, algo “inerte” ou
“manufacturado”.
Nos dois sentidos,
se abrirmos a alma a tal.
By me
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