terça-feira, 12 de novembro de 2024

Eu tive um avô




Bem... na verdade e como toda a gente tive dois avôs e duas avós.

Os meus antepassados que contam para esta história viviam numa casa de agricultura, na extrema de uma aldeia do interior algarvio.

Quando eu era pequeno costumava ir até lá uma temporada nas férias de verão. E vivia por uma semanas aquela pacatez de uma aldeia envelhecida, numa casa um pouco afastada e onde não havia electricidade.

A minha avó pouco saía de casa. Entre a sua idade, os afazeres no tanque, na cozinha, na horta, com as galinhas, coelhos e porcos e outras tarefas agricolas domésticas, pouco lhe sobrava para ir à aldeia, coisa mais ou menos reservada a meu avô. Mesmo quando vinha o homem do peixe, na sua motoreta com cestos de vime e a sua buzina que ecoava longe. E que parava só no largo da aldeia.

Mas a sexta-feira à noite era sacrossanta para a minha avó. Juntava-se com outra aldeã na casa de uma terceira, e ali aqueciam o forno, amassavam a farinha e deixavam-na a levedar, para o cozerem no dia seguinte. Entre o que faziam e o tempo de levedar, era tempo de se falar de vizinhos e conhecidos, dali ou de outra aldeia.

No fim de semana havia pão fresco lá em casa, com manteiga ou compota que era um pitéu. E esse pão, feito uma vez por semana, durava até à cozedura seguinte, sempre comestível mesmo para os menos bons dentes dos velhotes.

E se a minha avó fazia o pão, o meu avô cortava-o. Teriam feito essa distribuição de tarefas haveria muito, que nunca vi a minha avó a usar a faca. Esta faca.

Por aquilo que soube, teria sido prenda de casamento, não sei se com outros talheres. Mas aquela, com cabo de alpaca a que chamavam a prata dos pobres, nunca teve outro uso que não fosse o de cortar o pão. Apenas isso e durante dezenas de anos.

O formato da lâmina bem atesta a quantidade de vezes que o seu gume foi recuperado. Numa pedra de amolar bem guardada num pano na despensa, tão gasta quanto esta faca e outras que por lá havia.

Nem numa nem na outra o catraio que eu era estava autorizado a pôr a mão. Que, ao fim de uma semana a casca do pão começava a dar sinais e a faca haveria de lhe poder entrar. E se o “menino” tentasse, sempre haveria a possibilidade de lá deixar um bife.

Quando os meus avós foram para um lar, a faca lá ficou, suponho que na gaveta direita da mesa da cozinha onde sempre a conheci, mas sem cortar nem ser afiada, ganhando com isso sinais de corrupção na lâmina. Quando faleceram quis ficar com ela. Não só porque dela tenhos boas recordações mas também porque passei a poder cortar o pão com ela, finalmente. Coisa que não faço, que a lâmina está tão fina que tenho receio de a usar.

Tenho-a ali, numa prateleira e bem à vista, mesmo com o tempo a marcar o ferro, que a alpaca está incorrupta.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

 

By me

domingo, 10 de novembro de 2024

Contradições ou talvez não


 


O antissemitismo é proibido e punido pelos países europeus.

Já para as limpezas étnicas até se enviam equipamentos e munições.

Faz algum sentido isto?

Faz, mas é censurado e punido quem o disser.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

A tirania do enquadramento




É teoria minha, faz muito tempo, que o conceito de “enquadramento” é uma tirania!
Por um lado, é o obrigar a que a imagem que queremos criar fique restrita aos limites do papel ou ecrã, obrigatoriamente excluindo o que não lá cabe e obrigatoriamente incluindo tudo o que é projectado pela objectiva.
Por outro lado, esta projecção é rectilínea (enfim, quase já que também é ondulatória). E está obrigada a cumprir as regras da perspectiva e da geometria que, definida ou inventada pelo Homem actual, são adoptadas pelo consumidor, criador e fabricante de imagens como padrão. O que ou quem não as seguir é rotulado de disfunção ou erro, marginal, excêntrico ou louco.
Acrescente-se que consumidores de imagem, produtores de imagem e conteúdos e fabricantes de equipamentos se atêm a normas e formatos de imagem. Pela necessidade de produção de máquinas e suportes, pelas imposições das manchas gráficas nas publicações, pelas limitações de compatibilidade entre emissor e receptor nas telecomunicações, a actual sociedade de imagem técnica e mecânica está formatada. E o produtor ou o consumidor de imagem, levado pelo facilitismo, formata os seus conceitos estéticos por estas restrições, produzindo, aceitando ou consumindo imagens de acordo com estes padrões.

Enquanto elemento integrado na sociedade ocidental fui e sou formatado deste modo. Nascido nos anos cinquenta do séc. XX, a minha vivência visual foi objecto destes moldes e uniformizações, tanto em livros e periódicos, como na fotografia, como no cinema, como na televisão. Tem escapado a pintura e a arquitectura, mas estamos a falar de outras coisas. Os rectângulos em três por quatro, dois por três, dezasseis por nove, cinemascope, de ouro ou alguns outros, impuseram-se como formatos não apenas socialmente recomendáveis como também os únicos válidos.
Ao iniciar a minha actividade como produtor de imagem (fotografia, cinema, TV) não pude deixar de estar por isto mesmo influenciado. Culturalmente e por aquilo que me era exigido no ofício. A necessidade de as minhas imagens se integrarem num sistema de comunicação de massas, procurando que elas chegassem ao entendimento e aceitação do maior número possível de consumidores assim me levou a ser e fazer.

Mas, algures num tempo que não sei precisar, achei que estava peado. Se a minha produção de imagens profissionais tinha que seguir os cânones existentes, a minha satisfação com ela estava a diminuir. À medida que o tempo passava (passa) sinto que a rectangularidade e as proporções impostas não me satisfazem. Continua a haver limites no enquadramento a prenderem-me. Continuam a existir proporções formatadas a limitar-me.
No que ao vídeo e ao cinema diz respeito, pouco ou nada posso fazer. Não tenho poder, quiçá energia, para alterar o que quer que seja que me faça sentir mais livre na criação e comunicação.

Mas no que à fotografia toca…
Da existência de limites não posso fugir. Estou mesmo em crer que, a este respeito, os únicos realmente livres foram os nossos ante-ante-passados, com as suas pinturas rupestres e os nossos contemporâneos com os seus graffitis. Aplicam as suas imagens nas superfícies, independentemente das áreas ou limites desta. Se as imagens terminam antes dos limites, tanto melhor, senão, tanto pior. Não é este aspecto que condiciona.
Já no que às proporções diz respeito, a coisa muda de figura. Quando fotografo, excluo mentalmente do enquadramento do visor o que lá está que entendo estar a mais. Procuro que a perspectiva se ajuste aos centros de interesse e às relações entre eles, fazendo um enquadramento virtual em torno deles. Mais tarde, no processamento da imagem, ajusto as proporções da imagem em função do seu conteúdo e do que, na tomada de vista, imaginei.
O resultado? As mais das vezes é um rectângulo assumidamente horizontal, em que as proporções entre a largura e a altura são as necessárias e suficientes ao que tenho em vista. Conteúdo e mensagem. E se existir algum tipo de relação matemática entre uma e outra dimensão, é questão que não me perturba nem um pouco.
Se ao receptor das minhas imagens fotográficas agrada ou não esta abordagem, é uma questão que também não me tira o sono. Porque com as minhas imagens, as que faço para minha satisfação, não as faço para que sejam eficazes em termos de comunicação de massas mas, antes sim, para a minha própria satisfação. E esta não se prende com cânones, formatações culturais ou limitações impostas por fabricantes.

By me

sábado, 9 de novembro de 2024

Enganos




Fui enganado! Não é a primeira vez que acontece num supermercado, mas desta vez ultrapassaram as marcas.

E só dei por isso em chegando a casa!

Então não é que tinha bolachas o diacho da caixa de costura!?

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me