segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Do contra



Em torno de tudo se pode contar uma estória. Basta olhar para o que quer que seja e dar asas à imaginação.
Sobre esta metade de laranja posso imaginar como as flores que lhe deram origem escaparam a um casamento e foram objecto de uma salutar orgia de insectos que as polinizaram. Posso ainda imaginar mãos a colhe-las e depositá-las em caixotes, que seriam levados para calibre e posterior venda. E ainda posso imaginar estar ela, junto com irmãs e primas num escaparate de um mercado ou lugar de hortaliça e a ser apalpada, metida num saco, pesada e trocada por dinheiro. Até chegar aqui e ser violentamente seccionada e esburacada.
Só parte desta estória é passível de ser verdade. A partir do momento em foi colhida não foi enviada para escolha e venda, mas sim amavelmente trocada por um pouco do sei sobre fazer esta e outras fotografias.
E o estar aqui desta forma impede-a de ser comida. Foi cortada e colocada neste pires, tal como a sua outra metade, e cravada com estes cravinhos de cabeça, com o único fito de aromatizar a casa. Que a combinação do aroma da laranja com o dos cravinhos é fresco e agradável. E não provem de uma lata nem consome energia eléctrica.
Quanto ao porquê de usar a luz assim: Bem, por um lado é a primeira fonte de luz que concebo – o chamado contra-luz. As demais que coloco são apenas para a controlar e às sombras que ela provoca.
Em seguida, porque permite delinear razoavelmente bem alguns volumes e texturas.
Depois porque eu mesmo sou “do contra” e usar a luz ao contrário do habitual é algo que me agrada.
Por fim, porque cria uma certa dose de mistério, se pouco atenuada, o que se adequa ao deixar a imaginação voar.
Manias!


By me

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