sábado, 22 de março de 2025

Valores não materiais




Estive recentemente numa lojinha de fotografia a boa distância de casa para ir buscar este conjunto. Estava anunciado on-line, o preço parecia-me simpático e fui até lá.

Nem a câmara nem a objectiva estão em perfeitas condições, mas nada que impeça o seu funcionamento. Já o flash, não sendo novo, tem a caixa de origem e está perfeito. Qualquer um destes itens fica muito bem com o restante que aqui tenho.

Mas há dois aspectos que tornam este conjunto menos comum.

Começando pela tampa traseira da objectiva: é de metal. Já as tinha visto assim, tanto as das objectivas como as de corpo, mas sempre relativas a sistemas com montagem M42, nunca de baioneta PK. Suponho que tenha sido aqui colocada para compor o conjunto.

O que é realmente curioso é a correia, que não sei se de origem se de um freelancer. Contem ela duas bolsas, uma em cada extremo, que tive dificuldade em entender a sua utilidade. Mas têm o tamanho exacto para, numa delas, guardar as pilhas da câmara e na outra (são iguais) guardar as tampas do suporte de flash e do visor. Fazem-me recordar alguns estojos em couro para transportar filtros que tinham um pequeno rasgo para ser colocado na correia, estando eles sempre disponíveis. Mas é um acessório arcaico, algures dos anos ’60, que não vejo à venda faz muito tempo.

Por aquilo que pude saber por quem me vendeu o conjunto, câmara e flash chegaram-lhe às mãos em momentos diferentes por troca por câmaras mais recentes que vendeu.

São estes detalhes, bem como a sua história, que acrescentam valor não material às peças que aqui vou tendo.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

sexta-feira, 21 de março de 2025

Anúncios




Na entrada de um pequeno café, apenas com três mesas, num centro comercial num bairro bem fora de Lisboa, este aviso.

O bairro começou como uma cooperativa, teve comissão de moradores, havia competição sobre a beleza dos jardins em frente de cada prédio.

Hoje, dos quatro multibancos que já existiram resta um. O mais próximo fica do lado de lá da estrada e de um pinhal, inserido num supermercado. E nem sempre há a certeza de haver dinheiro num ou no outro.

Dos jardins restam terra batida e ervas. Do parque infantil, construído pelos moradores, pouco resta.

Mas tem um posto da GNR, um centro comercial minúsculo com 36 anos e uma densidade populacional por habitação muito elevada.

E este aviso diz-nos bastante sobre a população que o frequenta.

Soube de tudo isto porque um dos pioneiros mo contou, num misto de orgulho e tristeza. E pela boca do dono da lojinha de fotografia onde fui, por via de um anúncio on-line. Uma surpresa, o pequeno museu fotográfico que nela existe.

Já o aviso indica-me que o consumo de chá será habitual e não creio que o seja por senhoras velhotas a meio da tarde.


By me

Credibilidades




Hábito antigo: em saindo de casa, mesmo que só para ir beber um café ou comprar cigarros, levo uma câmara comigo.

Tanto faz ser ou não digital, tanto faz ser uma câmara reflex ou de bolso, tenho sempre (ou quase) uma câmara comigo. Neste último ano e meio tenho alternado entre uma Pentax K1 e uma Pentax K50, variando apenas na objectiva, que depende de como me sinto.

Morava eu, aquando deste episódio, perto de uma escola onde a fotografia e o vídeo fazem parte do curriculo. Volta e meia lá via eles ou elas a fazerem alguns exercícios e, nariz comprido é o meu, metia conversa para simplificar aquilo que me parecia estarem a complicar. E referia a minha experiência em ambos os campos para que pelo menos me ouvissem.

Um dia decidi sair com esta câmara: uma Pentax K-x. O objectivo era habituar-me a ela, que era coisa recente no meio da minha tralha.

Pois nesse dia fui abordado por três vezes por jovens dessa escola perguntando-me se eu seria fotógrafo. Uma vez ao balcão do café onde me encontrava, de permeio com uma dezena bem medida deles, as outras duas na rua, em grupos de dois ou três.

Acredito que a minha “saída do anonimato” tenha sido a côr da câmara, pouco comum como se entende. Aliás, comprei-a exactamente por isso.

Não me questionaram sobre a qualidade dela em comparação com outras. Apenas os olhos se prenderam por parecer um brinquedo pendurado no ombro.

Pergunto-me qual seria a reação dos seguranças se eu comparecesse num evento formal e oficial, com todas as credenciais devidas, e transportando esta câmara para fazer o meu trabalho. Ou que diriam os noivos se eu fosse contratado para fotografar o seu casamento com uma câmara branca. Ou vermelha. Ou azul. Ou verde.

Mas ficariam satisfeitos ou mais tranquilos que eu a guardasse no saco e de lá tirasse uma Pentax K100D, preta, uns bons anos mais antiga, com metade da resolução e com um sensor bem mais antigo.

“Os olhos também comem” e na fotografia isso também se aplica ao fotógrafo em todos os sentidos.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

quinta-feira, 20 de março de 2025

Eterno e global




Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

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quarta-feira, 19 de março de 2025

Uma questão de memória




A minha memória para nomes nunca foi boa e, com o tempo, não melhora. Aliás, de manhã tenho que repetir para o espelho “este é o JC”, só para garantir que não esqueço.

Mas para outras coisas, ela é perfeita, ou muito perto disso. Um desses casos é o que acontece com estes objectos.

Encontrei este cálice numa montra de uma loja de velharias em Sintra. Dizia um cartaz na montra que eram doações e que o lucro revertia  para uma associação de apoio a animais abandonados. Nunca quis discutir o negócio. Mas achei graça ao objecto e fui por ele.

Se bem recordo pediam 3 euros por ele e não me fiz rogado. Percebendo que tinham cliente, apresentaram-me duas taças: esta e uma outra em aço polido. Não faziam pandam perfeito, mas por oito euros (a de aço veio por dois e sei isto porque ainda têm as etiquetas) não as quis deixar.

Pese embora não tivesse utilidade imediata, o simples desafio de as fotografar seria suficiente. E o imaginar que poderiam ter feito parte de um altar de uma capelinha de uma quinta dá-lhes outro valor. Emocional ou não.

O negócio aconteceu há mais de dez anos e ainda me recordo dele. E não deixo de passar por aquela montra, não vá encontrar algo com a mesma utilidade para mim que estes cálice e taça.

A minha sorte é que, das muitas inutilidades que tenho vindo a comprar para fotografar, algumas primam pela raridade, que não pelo valor, pelo que as tenho vindo a conservar e, de quando em vez e em mexendo em caixas e sacos, dou com elas.

Ou, em tendo um texto ou ideia geral para ilustrar, vou por elas, algures no meio de muitas outras.

Claro que há sempre o prazer imenso de as fotografar ou, por outras palavras, escrever com luz. Mas isso é outra história.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5

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segunda-feira, 17 de março de 2025

O fazer da coisa




Ele há as notícias falsas, a Inteligência Artificial, a manipulação digital...
E depois há as fotografias que são feitas de dentro para fora.

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domingo, 16 de março de 2025

Frascos


 


Encontrei estes dois numa loja de objectos de vidro, em Lisboa.

Fui a ela de propósito, por via de um galheteiro que me convencesse, mas nada me prendeu a atenção.

Excepto estes frascos. Caiu-me em cima um manto de nostalgia que me fez retroceder muitos anos, aos meus tempos de catraio. Na casa de família havia-os iguais, no formato e cores de tampa mas francamente maiores, talvez com o triplo da capacidade. O que não estranho, já que éramos seis sentados à mesa todos os dias.

Tinham, ou têm, uma característica que hoje é francamente rara de encontrar: a robustêz. Vidro grosso, capaz de não se importar se escorregar das mãos e embater na pedra do balcão ou pia. Os de hoje, por bonitos que sejam, ficam logo lascados ou mesmo em cacos com pequenos acidentes.

Na época em que os recordo, esses acidentes não poderiam acontecer, que a substituição custava dinheiro. E esse não abundava. Além do mais, aquilo que se guardava nestes frascos eram comprado a granel e pesado no balcão da mercearia ou venda, não havendo sacos de plástico onde pudessem ser guardados em casa. Na melhor das hipoteses, ficaria nos cartuchos de papel pardo riscado onde era transportado para casa, com o topo fechado e dobrado e um cordel a garantir que não se abriam.

Esperaram eles, os frascos, que tivesse inspiração para a fotografia e as palavras já aqui andassem a bailar. Foi hoje, nesta viagem aos meus tempos de catraio, que os estreei com recheios apropriados à forma, função e memória.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5


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sexta-feira, 14 de março de 2025

Velharias


Há quem quem confunda velharia com antiguidade. 
Por velharia entende-se tudo o que, já não sendo novo ou recente, tem menos de cem anos. Por seu lado, consequentemente, antiguidade será tudo que seja mais antigo que cem anos. 
Claro que esta diferença, na prática, não faz diferença se a diferença for curta, excepto no preço, que uma antiguidade tem mais valor de mercado que uma velharia. 
Já os negociantes têm uma noção de tempo um pouco estranha.
Esta objectiva com obturador, é uma velharia, apesar dos seus 75 anos. E não está funcional.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5


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quarta-feira, 12 de março de 2025

Memórias




Vocês me desculpem mas não resisti. E apesar de ter a DSLR ali ao lado, em cima da mesa, foi mesmo com o telemovel.
Conheço o local há um ror de tempo. Desde os meus tempos de estudante ainda numa época pré-revolucionária. Ficava-me no caminho do liceu, quando decidia não fazer o transbordo de autocarro e poupar o segundo bilhete.
Antes de abrirem as portas ao público, este café, que agora também serve refeições, entregava de borla os bolos da véspera a quem lá fosse. E havia sempre alguns miúdos a fazerem fila, vindos de um bairro de lata nas imediações.
Nunca ali fiz fila. Preconceitos da época faziam com que os meninos do liceu não se misturassem com os meninos de pé descalço. Como se uns valessem mais que outros! Além de que as rivalidades entre os grupos dos já não tão meninos por vezes terminavam com arnica, merurocromo ou mesmo uma ida ao posto de enfermagem.
Este era um dos bolos que eu cobiçava noutros espaços, de permeio com as pirâmides, os duchasse ou as bolas de berlim. Com creme, claro. Mas estas últimas surgiam todos os dias em frente ao liceu, no intervalo grande, pelas mãos de uma vendedeira ambulante que as trazia num cesto de vime coberto com um pano branco. Quando tinha poupado nos bilhetes quanto bastasse, lá ía eu escolher uma, a que tivesse mais creme, e lambuzar-me até às orelhas.
Hoje já não há vendedeiras às portas dos liceus, com panos e batas brancas. E já não me lambuzo até às orelhas, que fico com as barbas cheias de doces vestígios. Mas os paladares são os mesmos, mesmo que comidos com faca e garfo.

By me

segunda-feira, 10 de março de 2025

Já foste



 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5


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