quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Icones




Há quem goste de apenas consumir. De usar apenas o que outros concebem e fazem. Cinema, fotografia, literatura, música, gastronomia, tecnologia…
Eu gosto disso, mas também gosto de usar coisas ou objectos que saíram das minhas mãos. Ou porque segui o que alguém concebeu, ou porque decidi conceber de raiz.
Esta fotografia é um desses casos, se bem que não completamente de raiz.
Fotografada em diapositivo, já nem sei há quantos anos e com uma Pentax LX, a objectiva foi concebida por mim, tanto quanto possível.
Um tubo de extensão de comprimento variável, uma lupa de dez dioptrias, vários cartões pretos perfurados com agulha, variando entre si na quantidade de furos.
Para garantir a focagem, para canalizar a luz à pelicula, para controlar a quantidade de luz.
Este resultado, quase que o clássico “fundo de garrafa”, será exactamente o oposto do que fabricantes e fotógrafos procuram nos tempos de hoje. E desde quase o início da fotografia, acrescente-se: nitidez.
Mas aquilo que começou por ser um desafio – construir uma objectiva a partir de quase nada – acabou por redundar na produção de algo de que orgulho: a capacidade de juntar estados de alma à imagem técnica.
O sistema, com aperfeiçoamentos no que toca a controlo de fluxo luminoso e de focagem, foi melhorado de então para cá, pese embora as peças usadas estarem guardadas em separado.
Tenho-o usado em momentos formativos e quando me apetece fazer diferente. Não diferente dos outros, que isso em nada me preocupa, mas diferente da minha própria rotina fotográfica, procurando jogar com a luz e o suporte e encontrar o ícone certo para o que vejo bem atrás da retina.
Pouco importa, neste processo de grafar com a luz, se se usam métodos ou objectos saídos das fábricas ou se improvisos ou invenções meio malucas.
Importa, antes sim, que o resultado corresponda ao que sentimos.
E se, por mero acaso ou por esforço aturado, conseguirmos atingir e provocar emoções em quem o vir, tanto melhor.
Mas se não gostarmos do que fazemos, não importa como, mais não seremos que mercenários ou prostitutas da fotografia.


By me

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