Já tem uns anitos (sete,
para ser rigoroso) esta estória.
Mas, por um qualquer
motivo, recordei-me dela há pouco.
E recordei-me que
difícilmente um episódio destes se poderá repetir. Não por uma questão
geográfica ou de calendário, mas antes pela desconfiança que cada vez mais
grassa pelo mundo fora.
Estava eu pacatamente
encostado ao balcão do café da minha rua, à espera da “banheira e hambúrguer”,
(código privado para café cheio e pão-de-deus com queijo e manteiga), quando
chega o carteiro.
Aqui na rua são
habitualmente três que fazem a distribuição de correspondência, sendo que os
conheço de vista e de dois dedos de conversa, para verificar se tenho correio,
para falar do tempo ou de fotografia com um deles. Confesso que não sei o nome
de nenhum deles, que nunca o perguntei, mas primam todos pela simpatia e
afabilidade.
Pois este, assim que
entrou e depositou as cartas para o café, exclamou para mim:
Ainda bem que o vejo, que
andava a pensar em si. Tenho aqui uma coisa que acho que lhe é destinada.”
E, metendo a mão no
pesado saco que carregava, retirou uma caixa, cúbica, aí com uns 20cm de lado.
“Vem do estrangeiro,
parece-me.”
Fixe! Ganda pinta! Baril!
Afinal também o tipo das barbas brancas recebe encomendas do Pólo Norte.
Bem… Não veio exactamente
do Pólo Norte, mas tão só do norte, da Grã-Bretanha, para ser mais exacto. Mas
é lá de cima, do norte e do frio, prontos!
E explicou-me ele que
tudo na morada estava correcto e legível, excepto a letra correspondente ao meu
apartamento, que poderia ter várias interpretações. Tinha ele comentado a coisa
com colega de giro e ele alvitrara que seria eu, o das barbas e da fotografia.
Já uma pessoa não pode
andar por aí, conversando e fotografando, que até os carteiros nos conhecem
pelo nome, num bairro dormitório suburbano e num megatério de 96 apartamentos.
Pois dentro da tal caixa
estava, muito bem acondicionada contra choques e humidades, o que aqui se vê na
imagem: uma objectiva fotográfica.
A sua alcunha é
”traveling 28”, e trata-se de uma objectiva Pentax, de 28mm, já com alguns
anitos valentes e pertencente a um companheiro norte-americano que conheço de
um fórum em que participo.
A ideia é esta óptica
andar de membro em membro, através do mundo, e cada um de nós mostrar o que é
capaz ou quer fotografar com ela.
Tenho um projecto
específico para ela e, apesar de ter um igual ou quase, tenho-a esperado para
tal. No fim de contas não teria graça subverter o projecto colectivo.
Resta-me, para além de a
usar, saber quem é o seguinte na lista. Por qualquer motivo, tenho na ideia que
será um Australiano, mas também não descarto a ideia de ser um Islandês, o
único desta nacionalidade neste fórum.
Seja como for, este ano o
Pai Natal, disfarçado de carteiro, chegou uns dias antes do prazo. Mas sendo
verdade que “é Natal quando um Homem quiser”, já abri esta minha prenda.
By me
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