Tivesse eu a
oportunidade e a coragem de conceber de raiz uma formação em imagem
(fotografia), e seria radical na diferença.
Presumindo que
alguém alguma vez teria a coragem de querer aprender o pouco que sei e os
primeiros tempos, talvez dois meses, seriam passados sem recurso a câmaras fotográficas,
computadores ou quejandos.
Cada sessão, de
duas a três horas, seria passada em laboratório. Preto e branco. Não a imprimir
imagens já feitas mas a fazer imagens no papel, recorrendo a objectos opacos ou
mais ou menos translúcidos.
Um pouco à imagem
e semelhança do que fez Man Ray e outros, com os seus conhecidos Rayogramas.
Claro que isto
implicaria alguma coragem e aceitação por parte dos formandos. Tanto tempo sem
produzir uma fotografia que fosse…! E paciência.
Há várias
vantagens nesta invulgaridade.
Desde logo a
disciplina pessoal. O laboratório, com o seu rigor de método, a impossibilidade
de se acelerar os processos, o respeito pelos demais participantes no trabalhar
em ambiente de luz controlada, a sistematização de raciocínio… Tudo isto vai
permitir que o formando se discipline e que seja capaz de aceitar o tempo como
parte do processo criativo e não como um obstáculo.
Em seguida, o permitir
antever os resultados na mente antes de executar algo. E com certezas. A
opacidade ou a translucidez dos objectos tem comportamentos diferentes à vista
e no papel sob a luz. Ser capaz de prever os resultados e de gerir a
experimentação em função da experiência e do desconhecido faz parte do processo
criativo. Fotográfico ou outro.
Do ponto de vista
estético, este método permite gerir manchas mais escuras ou mais claras, antevendo-as,
no rectângulo do papel. Mais que regras de composição, linhas de fuga, proporções
anatómicas ou jogos de perspectiva, a produção de rayogramas permite descobrir
e explorar o equilíbrio de massas, áreas, densidades de claro escuro dentro do
espaço disponível. Definição de equilíbrios e importâncias na forma para além
do conteúdo.
Vai ainda permitir
a descoberta da gestão das relações de contraste do claro escuro em função da
emoção que se pretende reproduzir, para além de conteúdos conhecidos e formas
definidas. E antever isso mesmo olhando para uma superfície branca, antes de
nela incluir qualquer obstáculo à luz.
Mas, acima de
tudo, irá permitir que o formando de habitue à sua própria sensibilidade na
disposição dos elementos no espaço definido à margem de regras, códigos ou
imposições sociais. O formando consigo mesmo, sujeito apenas às opiniões de
colegas e formadores, sem outros códigos que as suas sensibilidades.
Só depois disto, só
depois de ter criado formas e lidado com o rectângulo passaria a incluir
elementos concretos, agora com o recurso a tudo o que a fotografia permite: a câmara
e a objectiva, com o tratamento posterior num editor de imagem.
Mas em aqui
chegando, vai sem mais vícios que os que tinha ao entrar, nem desconfia que
existam regras de composição e já se habituou a gerir o espaço.
A ideia não é
minha de raiz mas antes o resultado de algumas leituras e experiências.
Mas não acredito
que algum industrial da educação ou formação alguma vez arriscasse a investir
em tal projecto.
Fica naquele canto
onde guardamos projectos que sabemos só concretizar se houver meios e
oportunidade.
By me
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