Acredita-se que o
povo Romani ou Shintos, por cá conhecido como Ciganos, tenha origem no norte da
Índia.
Esta teoria
baseia-se, entre outros factores, na questão da língua que se encontra entre as
diversas comunidades ciganas espalhadas pelo mundo.
Sobre estes factos
não há certezas, já que este povo, nómada e sem história escrita ou monumentos
erguidos, baseia o conhecimento do seu passado na tradição oral.
Há ainda quem
defenda que esta migração terá acontecido há pouco mais de mil anos, na
sequência de um “rapto” de uma comunidade para a oferecer a um monarca algures
na zona da Pérsia, devido às suas tradições de dançarinos e cantores. Morto o
rei, terão sido expulsos e, não podendo regressar à sua terra de origem,
migraram para norte, para as zonas do mediterrâneo e Europa, tendo daqui
expandindo-se pelo resto do mundo. Uma das zonas onde terão feito uma paragem
mais prolongada, e onde terá ficado uma maior comunidade terá sido a zona dos
Balcãs.
Daqui também a
confusão que se instalou entre o povo Romani e o povo Romeno.
O comportamento
deste povo nunca foi o de integração total com as populações dos territórios
que atravessavam ou onde se fixavam.
Mantendo hábitos
nómadas, com leis próprias no seio da sua comunidade, com regras fechadas a
estranhos, as suas actividades económicas não passavam pela indústria,
agricultura ou pastorícia. O comércio ambulante, aliado à actividade de
saltimbancos terá sido a actividade dominante.
A sua itenerancia
e os seus hábitos não coincidentes com as populações autóctones eram
frequentemente associados a crimes ou delitos de propriedade ou de sangue. É
bem mais fácil culpar um estranho que não se integra ou que não tem residência
fixa que um vizinho ou conhecido.
Assim, os rumores
passaram a suspeitas e estas a acusações frequentes e generalizadas. E o fosso
entre povos e culturas foi aumentando, criando o mito de gente perigosa a
evitar. E do mito à legislação. Alguns países europeus chegaram mesmo a proibir
a existência no seu território de gente cigana a menos que renunciassem à vida
nómada e adquirissem terra para se fixarem. E isto não há tanto tempo quanto
isso. Em qualquer dos casos, foram sempre sendo marginalizados ou expulsos.
E vice-versa! Numa
tentativa de manter a sua cultura e identidade enquanto povo, os ciganos
foram-se mantendo à margem dos usos e costumes locais, reservando para si usos
e costumes próprios e fechando-se às influências externas. Língua, vestuário,
crenças e religião, hábitos sociais, solidariedade ou rivalidade entre
famílias, justiça, foram mantidos e resolvidas entre si, sem o recurso às
comunidades circundantes ou atravessadas.
Esta exclusão
recíproca ainda hoje se mantém arreigada nas mentes comuns. Encontrar um grupo
de ciganos na rua ou nas estradas é motivo de algum receio, mantendo-se os
contactos ao comércio e pouco mais.
Esta
marginalização e perseguição tiveram o seu auge, na história recente, na
“Shoah”.
Este é o termo
dado pela comunidade hebraica ao holocausto judeu feito pelos nazis. Fala-se de
seis milhões de judeus barbaramente mortos nos campos de extermínio. Mas
raramente se cita o que se supõe terem sido 800.000 ciganos igualmente
chacinados nos mesmos locais e da mesma forma.
O que faz então
com que a história diferencie um de outro povo?
Para além dos
números, qualquer um deles aterrador, é talvez a forma como cada um deles
interage com a sociedade circundante. Que os seus passados são semelhantes, nas
diásporas e perseguições, marginalizações e execuções. Sociais e legais.
Suponho que o
poder económico de um em comparação com o outro, que é francamente superior.
Não apenas nas actividades a que se dedicam como no poder de influenciar a
sociedade de acolhimento (hoje a isto chama-se lobby).
Veja-se, por
exemplo, que duas das principais exportações de Israel são o software e
diamantes. No entanto, naquela zona do globo não existem diamantes, sendo estes
uma das suas principais importações.
Este poder
económico, que não é restrito ao médio oriente mas antes que se espalha por
toda a sociedade ocidental, é poderoso o suficiente para moldar opiniões
através dos media.
Com eles e com os
comportamentos do poder político, criou-se uma sensação generalizada de culpa
ocidental a propósito do passado judeu, que não existe sobre o passado cigano.
Pergunto-me se,
por um qualquer acaso, a sociedade ocidental (europeia e norte americana)
repetisse o disparate histórico da criação artificial de um país no médio
oriente, mas desta vez na Índia e com o povo Romani, se existiria a mesma
condescendência ou tolerância para com actos bélicos ou de exclusão por eles
efectuada sobre os povos ali existentes ou vizinhos. Como acontece hoje com
Israel.
A história do
Homem está repleta de vergonhosas acções de domínio violento de um povo sobre
outro. Foi o caso das Africas e dos escravos, da Austrália e dos aborígenes,
dos EUA e dos Índios, das Américas central e sul e dos pré-colombianos.
Acrescente-se que
a guerra mais longa de que tenho conhecimento travou-se naquilo a que hoje
chamamos Chile, entre os conquistadores espanhóis e o povo Machupe, durante
mais de 300 anos. E que este povo, hoje, vive numa quase reserva nas zonas
inóspitas e frias da Patagónia.
O bicho-homem não
aprendeu com a história.
E se lamenta e
pede desculpa pelos erros do passado, continua a praticá-los no presente, neste
ou naquele ponto do globo, com o beneplácito de grandes potências mundiais.
Mas as atrocidades
de então não justificam as de hoje. Quer se trate da Servia, do Vietnam, de
Timor, do Darfur, do Iraque, de Israel, da Síria.
Se eu tivesse ou
pudesse escolher entre ser judeu ou romani, certamente que escolheria este
último.
Porque, e como
alguns deles afirmam: “O Céu é meu tecto; a Terra é minha pátria e a Liberdade
é minha religião”.
Que a liberdade
não tem casa, bandeira ou templo!
By me
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