Foi quando me levantei
para sair que a coisa se deu:
Um rapaz, talvez
com 14 anos, empurrou acidentalmente um conjunto de talheres, ainda envoltos no
guardanapo, que se esparramaram no chão.
Foi o barulho que
me fez olhar, mas foi a acção que me fez ficar estático a olhar. Melhor
dizendo, a ausência de acção. Que o jovem, olhou para o que estava no chão e
voltou a sua atenção de novo para a ementa, sem demonstrar a mínima intenção em
apanhar o que derrubara.
Fiquei ali de pé,
a olhar para aquela mesa comprida, já cheia de gente. O tempo suficiente para
duas das presentes dessem por mim e olhassem para os três pontos de interesse
no quadro: o rapaz, os talheres e eu.
O meu olhar
endureceu, ao mesmo tempo que ia abanando a cabeça muito ligeiramente. Elas,
depois de se consultarem com o olhar, passaram a “fuzilar-me” também com o
olhar, como se fora eu quem fizera o estardalhaço. Ele? Bem, creio que ele nem
se apercebeu do que acontecia.
Neste entretém que
foi uma eternidade, uns dois a três minutos, passou um dos empregados do
restaurante que, como se fosse a coisa mais natural do mundo, apanhou o que
estava no chão e seguiu.
Larguei um
impropério, não muito alto mas ainda assim audível naquela longa mesa, peguei
nas minhas coisas e saí.
A minha vontade,
daquelas bem lá do fundo do peito, foi aproximar-me da mesa, interpelar o rapaz
e perguntar-lhe pelo nome de pai e mãe. E, perante o seu natural espanto,
explicar que queria saber os nomes de quem tão mal o educara.
Não o fiz. Afinal, sou
cliente assíduo ali e eles haviam-me visto na cavaqueira com a dona. Que, enquanto
eu pagava à saída e lhe contava o episódio, encolheu os ombros e me disse: “Já nem
ligo!”
É pelo que assisti
e pelo encolher de ombros consequente que estamos como estamos.
By me
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