sexta-feira, 30 de setembro de 2016

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O maior receio de um político não é a derrota eleitoral. Que essa faz parte do jogo!
O seu maior medo é que o poder, a gestão da coisa pública, deixe de ser feito por políticos e passe para as ruas. Que passe a ser feito e gerido pelo povo, do mais anónimo ao mais ilustre.
Que, nessa mudança de organização da sociedade, se constata da utilidade (ou o seu oposto) daqueles que constituem a chamada “classe política”.
E não há nada pior para o amor-próprio de um político que a demonstração da sua inutilidade!
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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Títulos



Sempre me fez sair do sério o tratar-se alguém pelo seu título académico, como se isso fosse algo que o definisse.
Mais ainda, recordo uma discussão, ou troca de palavras menos cordial, que tive com alguém na altura bem conhecida nos meios académicos e políticos e que estava a colocar em causa o desempenho e comportamento dos alunos que tinha comigo a trabalhar.
A coisa acabou por se tornar caricata, já que a dita senhora fazia questão de me tratar por Dr., ao que lhe respondia: “Não o sou, nem da mula russa, e não lhe dou eu autorização para assim atacar os alunos que ali tenho.”
Felizmente, um membro da direcção da escola interveio e colocou água na fervura.
Naquela cabecinha sempre com mise do dia e que tratava por igual governantes e académicos, laicos e religiosos, não lhe entrava falar de igual com quem não tivesse uma qualquer licenciatura ou, de preferência, um doutoramento.

Não! Não adianta insistirem que não irei referir nomes, datas ou locais.
Basta que diga que os alunos que ali estavam, fazendo o que se haviam proposto e bem para além do programa da escola, estavam a ter um comportamento que bem gostaria de ver em muitos dos ditos “profissionais” que pululam no mercado dos audiovisuais.


By me

Ao balcão



“As conversas são como as cerejas: umas atrás das outras”, diz-se.
Pois não sei qual a cereja anterior, apenas sei que dei connosco a conversar sobre fotografia (e eu quem trabalha atrás do balcão do café aqui da rua), e de como há pequenas coisas, tão simples, e que podem melhorar em muito as fotografias que fazemos. Isto sem se querer ser uma “artista”, apenas querendo obter satisfação do que se possui nas festas e férias. Mesmo com um telemóvel.
A horizontalidade versus a verticalidade em função do assunto e da contextualização; o espaço próprio do ser humano e dos objectos e de como isso corresponde à nossa própria forma de estar e viver; o centro de interesse e os centros da imagem; o uso de primeiros planos;…
A certa altura tinha mais dois vizinhos aqui da rua a ouvirem e a experimentarem as minhas dicas com os seus telemóveis mesmo ali encostados ao balcão, a meu lado.
Foram uns vinte minutos proveitosos para todos, entre cafés e boletins de totoloto.


Pouco me importa o que dizem os lentes e catedráticos: tudo na vida é fácil, desde que nos dispúnhamos a aprender e nos ajudem ao nosso nível.

By me 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Uma questão de identidade



Foi há trinta e tal anos que, fruto de um conflito politico-laboral, passei a ser conhecido por JC Duarte, em vez de “primeiro-nome” Duarte como desde a escola primária e como quase toda a gente.
E se na altura a coisa foi complicada, chegando a implicar o formalizar junto da entidade patronal este “nome artístico” ou “nome de guerra” ou “pseudónimo”, acabei por o assumir como nome próprio e profissional em tudo quanto é lado ao constatar que já havia alguém com o meu primeiro e último nome na campo da fotografia em Portugal.
Ficou o JC Duarte, p’ro melhor e p’ro pior, aceite em tudo quanto é lado excepto no arquivo de identificação e nos bancos, que não gostam desta coisa de apenas consoantes sem vogais.
Aliás, a maior parte das pessoas não gosta disto, deitando-se a adivinhar o que significarão o J e o C, não lhes passando pela cabeça que, ao fim de tantos anos não são um J e um C, duas letras, mas sim um JC, um vocábulo, tal como “Pedro” é um nome composto por cinco letras e não cinco iniciais.
Não será muito comum que alguém tenha por nome próprio um pequeno conjunto de duas letras. Sem vogais, ainda por cima.
Mas também não será muito comum que seja o próprio a escolher o seu nome, mesmo que sem formalidades e documentos oficiais.
A esmagadora maioria das pessoas vive com o nome que pais ou padrinhos lhes impuseram, sem serem ouvidos ou achados sobre os seus gostos ou preferências. No meu caso, mesmo que começando por ser casual, acabei por mandar às urtigas essa tirania e decidi como quero ser tratado: JC.
Apenas um círculo de gente muito restrito, muito restrito mesmo, me trata pelo primeiro nome que consta do meu registo de nascimento.
E sou tão rigoroso nessa exclusividade que já interpelei gente com altos cargos, perguntando-lhes se lhes tinha dado confiança suficiente para me tratarem de outra forma que não fosse como JC ou como Duarte. Abanaram, tentaram responder, mas ficaram-se pelo silêncio.
Creio que toda a gente, mais cedo ou mais tarde, uma ou mais vezes, se terá questionado com “Quem sou eu?”.
Cedo na minha idade adulta decidi que nas relações interpessoais sou o JC.

Quanto ao resto, ainda estou à procura de respostas.

By me

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A diferença entre o louco e corajoso é pequena:

Ambos têm medo, mas o corajoso sabe disso.
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Celebrando



Há já uns tempos que eu andava com ideia disso. Nem muito convencido nem pouco, apenas a ponderar as consequências, considerando o que já havia passado.
A tudo isso acrescentou-se um pequeno episódio social que em circunstâncias normais não teria importância alguma, mas que na altura teve imensa.
Por isso, naquele sábado ao passar por aquela farmácia, pensei:
“E que tal comprar as pastilhas? Se entretanto me decidir, já as tenho. Quando não, perco apenas o seu preço e ninguém fica a saber da coisa.”
Entrei e comprei-as, pensando arrancar o projecto dali por cinco dias. Se arrancasse.
Na manhã seguinte fiz o habitual: saí da cama e fui directo à sala em busca do primeiro cigarro. A seguir seria o café, mas primeiro o cigarro.
Ao jogar a mão para a cigarreira já não sei se disse se pensei:
“Não vai ser no próximo dia 1, início do ano. Vai ser já hoje!” Não o acendi e, quebrando a virgindade da caixa, peguei na primeira pastilha de nicotina.
Já lá vão nove meses e nem um cigarro até ao presente. Sem depressões, percas de controlo de humor ou agressividades. Nem aumento de peso.
Seguindo as indicações do fabricante, com uns ligeiros ajustes pessoais, ao fim de três meses tinha-me libertado da necessidade da nicotina, fumada, mascada, engolida, aspirada…
Dos seis cigarros que tinha naquela manhã, já só tenho cinco. O sexto dei-o a um compincha, aflito que estava sem tabaco. E a cigarreira andou uns meses comigo, na mochila do quotidiano, para que eu soubesse sempre que não acendia um cigarro não pela sua falta mas porque não o queria eu. Que em mim mando eu, muito mais que as leis dos homens ou dos deuses.


Fica a promessa que deixarei de falar no assunto mensalmente quando completar um ano.

By me 

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Interpretando



Numa livraria tropeço num livro.
Não que estivesse no chão, mas porque fiquei cativo de alguém ter pegado num texto de Fernando Pessoa e ilustrado com fotografias.
De confessar que as fotografias não me atraíram por demais. Documentais quanto baste, nem más nem boas, do meu ponto de vista.
Agora o texto…
Passe-se a imodéstia, esta foi a fotografia que fiz logo a seguir a o ter lido. Vale o que vale, como as fotografias do livro. Mas é a minha interpretação:


“Entrei no barbeiro no modo do costume, com o prazer de me ser fácil entrar sem constrangimento nas casas conhecidas. A minha sensibilidade do novo é angustiante: tenho calma só onde já tenho estado.

Quando me sentei na cadeira, perguntei, por um acaso que lembra, ao rapaz barbeiro que me ia colocando no pescoço um linho frio e limpo, como ia o colega da cadeira da direita, mais velho e com espírito, que estava doente. Perguntei-lhe sem que me pesasse a necessidade de perguntar: ocorreu-me a oportunidade pelo local e a lembrança. «Morreu ontem», respondeu sem tom a voz que estava por detrás da toalha e de mim, e cujos dedos se erguiam da última inserção na nuca, entre mim e o colarinho. Toda a minha boa disposição irracional morreu de repente, como o barbeiro eternamente ausente da cadeira ao lado. Fez frio em tudo quanto penso. Não disse nada.

Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida. Caras que via habitualmente nas minhas ruas habituais - se deixo de vê-las entristeço; e não me foram nada, a não ser o símbolo de toda a vida.


O velho sem interesse das polainas sujas que cruzava frequentemente comigo às nove e meia da manhã? O cauteleiro coxo que me maçava inutilmente? O velhote redondo e corado do charuto à porta da tabacaria? O dono pálido da tabacaria? O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida? Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu - a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim - sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um «o que será dele?». E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer.”

domingo, 25 de setembro de 2016

Cântico negro



Cântico negro - José Régio

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Imagem by me

Vontades e falta delas



Foi quando me levantei para sair que a coisa se deu:
Um rapaz, talvez com 14 anos, empurrou acidentalmente um conjunto de talheres, ainda envoltos no guardanapo, que se esparramaram no chão.
Foi o barulho que me fez olhar, mas foi a acção que me fez ficar estático a olhar. Melhor dizendo, a ausência de acção. Que o jovem, olhou para o que estava no chão e voltou a sua atenção de novo para a ementa, sem demonstrar a mínima intenção em apanhar o que derrubara.
Fiquei ali de pé, a olhar para aquela mesa comprida, já cheia de gente. O tempo suficiente para duas das presentes dessem por mim e olhassem para os três pontos de interesse no quadro: o rapaz, os talheres e eu.
O meu olhar endureceu, ao mesmo tempo que ia abanando a cabeça muito ligeiramente. Elas, depois de se consultarem com o olhar, passaram a “fuzilar-me” também com o olhar, como se fora eu quem fizera o estardalhaço. Ele? Bem, creio que ele nem se apercebeu do que acontecia.
Neste entretém que foi uma eternidade, uns dois a três minutos, passou um dos empregados do restaurante que, como se fosse a coisa mais natural do mundo, apanhou o que estava no chão e seguiu.
Larguei um impropério, não muito alto mas ainda assim audível naquela longa mesa, peguei nas minhas coisas e saí.
A minha vontade, daquelas bem lá do fundo do peito, foi aproximar-me da mesa, interpelar o rapaz e perguntar-lhe pelo nome de pai e mãe. E, perante o seu natural espanto, explicar que queria saber os nomes de quem tão mal o educara.
Não o fiz. Afinal, sou cliente assíduo ali e eles haviam-me visto na cavaqueira com a dona. Que, enquanto eu pagava à saída e lhe contava o episódio, encolheu os ombros e me disse: “Já nem ligo!”
É pelo que assisti e pelo encolher de ombros consequente que estamos como estamos.



By me

sábado, 24 de setembro de 2016

Ora bolas!



Havia o Ford Anglia, também conhecido por “ora bolas”.
Vem esta alcunha pelo desabafo que qualquer um fazia quando o via surgir: um perfil simpático no capot, faróis atraentes, tampões de roda na moda, vidros de tamanho qb, portas com linhas harmoniosas e… ora bolas! O vidro de trás com uma inclinação opostas ao habitual, quase paralelo ao pára-brisas. Ora bolas!
Há pessoas assim: ora bolas.
Um penteado bem afinado, uma maquiagem no ponto sem exageros, adereços económicos mas bonitos, um top em preto nem ousado nem conservador, um casaco já de meia estação de corte escorrido e de cor a condizer com a tez, umas calças… ora bolas!
Umas calças com aqueles rasgões que, há uns anos, fariam qualquer um deitá-las fora, sem coragem de as usar, e que hoje se pagam pela “estética” do desfiado.
Ora bolas!


Imagem palmada da net, que nenhuma portadora de rasgões me autorizaria a fotografá-los se eu explicasse para que serviria. E eu não gosto de mentir.

By me

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Uma ocasião um sujeito entra numa loja de fotografia e diz para o vendedor:
“Boa tarde. Eu quero comprar uma lente de 100mm para a minha câmara.”
“Com certeza!”, respondeu o funcionário. “Dê-me só um minuto.” E afasta-se para o interior da loja.
Regressa pouco depois, dizendo:
“Por sorte ainda tinha uma. Aqui tem.”
E colocou com todo o cuidado em cima do balcão um pedaço de vidro, achatado, redondo, abaulado de ambos os lados.
“Mas… Mas… Mas isto parece ser uma lupa. Não foi isso que pedi.”
“Ora essa! O senhor pediu uma lente de 100mm para a sua câmara. Aqui está uma de dez dioptrias. Agora é só saber como é que a quer usar na sua câmara. Talvez num aro, à frente da sua objectiva, como uma lente de aproximação.”

Um cavalheiro entra no consultório de um cirurgião e diz-lhe:
“Doutor: eu quero ser castrado!”
“Você está louco. Nem pense em fazer uma coisa dessas!”
“Ora essa! É isso que eu quero. É uma questão de fé.”
“Bem, se está assim tão determinado, isso pode ser feito. Mas terá que assinar um termo de responsabilidade, dizendo muito concretamente que é isso que quer que eu faça.”
O documento é assinado e a operação marcada.
Do dia seguinte, um amigo vai visitá-lo à enfermaria do hospital e pergunta-lhe:
“Olha lá: internamento para uma circuncisão?”
“É pá! Era isso!”

Podemos usar os termos que entendermos para referir as acções ou objectos que quisermos. Convém é que usemos os mesmos termos para os mesmos conceitos.

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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

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Pregadores do apocalipse, arautos da desgraça, defensores de deuses e demónios:
Preocupai-vos com a vossa própria salvação e deixai-me cuidar da minha em paz. 
Que eu sou bem capaz de criar um inferno a quem não respeitar o meu purgatório. 
Dos paraísos falamos depois.
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A espera é



Enquanto não vem o meu jantar, também não chegam aqueles comensais.
E eu vou matando o tempo como posso por entre duas ripas de cadeira, sabendo que, no final, tanto eu como eles ficaremos satisfeitos.



By me

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Celebrando



Ver o dia a escorregar pelas empenas acima, deixando as sombras aproximarem-se do ângulo zero... 
Cada um celebra como pode ou sente.

By me

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São coisas que continuam a tirar-me do sério, mesmo com o passar dos anos.
Que continuem a dizer “máquina fotográfica” quando se trata de uma “câmara fotográfica”;
Que continuem a dizer “a lente da câmara” quando se trata de uma “objectiva”, com tudo o que isso implica de sistemas de focagem, controlo de fluxo luminoso, etc;
Que continuem a dizer “velocidade de obturação” quando se trata de “tempo de exposição” já que, e ao que sei, a velocidade de deslocação das cortinas dos obturadores fotográficos é sempre constante;
Que se continue a usar a “regra dos terços” como panaceia universal para todas as composições de imagem real ou virtual, quando não é universal e quando há outras regras ou métodos tão ou mais importantes;
Que se use o termo “estética” para falar de cabelos e pinturas faciais, obrigando a acrescentar “fotográfica”, “arquitectónica”, “pictórica” ou outras quando nos referimos a qualquer outra forma de belo;
Que se continue a pensar que uma fotografia bem exposta e bem composta foi obrigatoriamente alvo de tratamento com um qualquer photoshop, deixando-se de parte a capacidade de bem fazer na tomada de vista;
Que se confunda “distância focal” com “distância de foco”, principalmente quando quem confunde é um “profissional”.


Nota extra: nem todos os dias se acorda de bem para com os erros dos outros.
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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Feitiços e feiticeiros



O assédio a quem passa para um qualquer negócio não é coisa nova.
Tradicional será o convencer os passantes, turistas de preferência, a entrarem neste restaurante ou naquele espectáculo. De revista ou de circo.
Igualmente tradicional o tentarem convencer o incauto transeunte a aderir a uma empresa de telecomunicações. Televisão, telefone, internete.
Começa a ser tradicional o tentarem convencer o ingénuo passante a contribuir para uma hipotética causa simpática (idosos, sem abrigo, animais, deficientes) comprando um dos objectos inúteis ou quase que trazem consigo.
Quem for observador e passe com regularidade nos mesmos locais, acabará como eu: a conhecer as caras destes técnicos de vendas de rua, uns mais eficazes que outros, uns mais cordiais, outros nem tanto.
E se for gente de meter conversa, a troco de quase nada, acabará por saber alguns detalhes do que vendem, das suas metas ou objectivos e aperceber-se que o treino que têm, com toda a certeza feito por quem sabe do ofício, mas a quem escapa alguns detalhes básicos, de meter dó.
Porque faz parte do manual de comunicação básico que não se conversa com ninguém com as mãos uma na outra à frente do corpo ou de braços cruzados. Na linguagem corporal, quase que universal, este é um gesto que é interpretado inconscientemente como uma barreira, algo que impede a fluidez e facilidade de comunicação.
De igual modo é sabido que ao falar-se com duas ou mais pessoas o olhar se deve dividir por todas elas, talvez mais demorado em quem seja mais permeável aos argumentos, mas deverá abranger todos os presentes. Caso contrário os excluídos nessa ligação visual cedo se cansarão e, no caso de abordagem de rua, arrastarão quem está em conversa, afastando-o do negócio.
É igualmente recomendado a quem tenha um pouco mais de dificuldade no falar ou passar uma ideia o recurso a uma “muleta”. Um objecto que, sendo familiar e estando na mão, nos dá tranquilidade. E é frequente isso ser uma caneta, já que há papeis a preencher ou gráficos a realçar. Mas por favor: Se forem pessoas de gesticular e se a distância ao interlocutor for reduzida, não usem a caneta na mão que mais se movimenta. Para quem escuta, e a essa distância, uma caneta que dança à frente do rosto é interpretada como algo ameaçador, levando a recuar um pouco. E, ao recuar, a ter o seu espírito na defensiva, muito menos permeável aos argumentos de quem vende do que se desejaria.
E, já agora: não abordem do mesmo modo novos e velhos, eles e elas, solitários, grupos ou casais. Para cada um há modos diferentes de abordar, mesmo que todos eles sejam mais formais ou mais leves e brincalhões.
Mas, e acima de tudo, percebam se a abordagem vai interromper algo que não deve ser interrompido: uma conversa densa entre duas pessoas ou uma comunicação electrónica, texto ou voz. Nestes casos é garantido que não conseguirão chegar à fala e correm o risco de alguma hostilidade da outra parte.

Para quem tenha tempo e paciência, é um exercício engraçado ver estas pessoas a trabalhar. E perceber as técnicas de abordagem de cada um, algumas merecedoras de prémio, outras que, de tão fraquinhas ou tímidas, chegam a ser confrangedoras.
O cúmulo da diversão está em ver como reagem estes vendedores, por vezes verdadeiras pragas urbanas, quando lhes sai na rifa um tipo de barbas, com tempo, paciência e patuá suficiente para lhes vender algo que não a troco de dinheiro: ideias, sugestões, observações, meras larachas… Conversa que não da treta mas sempre antecedida do aviso “não vou comprar nada, mas se quiser conversar…”.
Os que não conhecem o figurão e caem na armadilha só muito a custo dela saem. Por vezes sou eu que, já condoído, os mando continuar o seu trabalho. Outras é um colega que, ou porque já me conhece ou porque se apercebe do que se passa, que vem em seu socorro.
Um destes dias cruzei-me no Chiado com um destes grupos meu conhecido de outras zonas da cidade.
Trocámos um piscar de olhos e uma laracha à distância e eu segui alguns metros, ficando depois discretamente a vê-los trabalhar. Usavam caneta mas na mão esquerda, junto com os papéis. A direita (a que gesticulava) aberta, sem nada que pudesse agredir ou estivesse escondido e com a palma da mão para fora, num gesto de franqueza.

Alguns aprendem.

By me

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“P’ra cima, p’ra baixo,
Ao som do contra-baixo.
P’ra baixo, p’ra cima,
Ao som da concertina.”


Ena pá 2000

Ligações perigosas



Segundo leio num jornal, o ex-primeiro-ministro Passos Coelho deu o dito por não dito e pediu que o desobrigassem da apresentação de um livro.
Por seu lado o autor do livro, António José Saraiva, não só terá entendido e aceite o pedido como, e em conjunto com a editora, cancelado a cerimónia de lançamento.
Recorde-se que o livro se intitula “Eu e os políticos” e relata um conjunto de conversas privadas tidas pelo autor com diversos políticos e detentores de cargos públicos, presidentes da República incluídos, no exercício do seu ofício de jornalista e de director de grandes semanários portugueses.
E é assim que vemos um ex-primeiro-ministro a recusar cumprir aquilo com que se havia comprometido e um jornalista a tornar público o conteúdo de conversas privadas.

Considerando que são quem são, não espanta, pois não?

By me

terça-feira, 20 de setembro de 2016

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Um clássico



Um clássico, mas tão clássico mesmo, que até me envergonho de o ter feito.

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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Porque é o dia de hoje:



As revoluções não têm hora marcada nem data de fecho.

Quando alguém diz que têm, deixam de ser revoluções para passarem a ser conservadoramente mais uma data no calendário.

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Há quatro anos



Celebram-se hoje quatro anos que o país saiu à rua. A maior manifestação desde o primeiro de Maio de ’74 aconteceu há quatro anos.
De tudo o que se fez e disse sobre esse dia e esse acontecimento, retenho alguns detalhes.
Não me recordo de ter visto alguma manifestação em Lisboa em que tanta gente estivesse assim, de mãos dadas.
Não me recordo de ter estado numa manifestação em que o percurso entre o ponto de concentração inicial e final fosse feito tão rapidamente.
O que se seguiu àquela multidão reunida numa praça a história o contará, com mais ou menos rigor.
As emoções de quem lá esteve, essas, são únicas e não haverá historiador ou político que as adultere.


Aos “Que se lixe a troika” o meu e o nosso obrigado.

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Um apontamento



Hegel considera a religião como “o poder de executar (e) validar os direitos que a razão outorgou”. Mas a ideia de Deus só pode conseguir um tal poder se a religião impregnar o espírito e os costumes de um povo, se ela estiver nas instituições do Estado e nas praxis da sociedade, se ela tornar o modo de pensar dos Homens, bem como dos seus motivos, sensíveis aos mandamentos da razão prática e lhos incutir na alma. Só como elemento da vida pública a religião pode conferir prática à razão. Hegel deixa-se inspirar por Rosseau quando estabelece três exigências à autêntica religião popular: “As suas doutrinas têm de fundamentar-se na razão universal. A fantasia, o coração e a sensibilidade não podem permanecer conceitos vazios. Ela tem que ser constituída de modo a que todas as necessidades da vida, as acções públicas do Estado, se inspirem nela.”

Por estranho que pareça, o texto acima não integra nenhuma dissertação sobre o ISIS ou Estado Islâmico.

Faz parte do livro “O discurso filosófico da modernidade”, de Jurgen Habermas e, neste caso específico, fala de Hegel e das suas teorias enquanto jovem na passagem do séc. XVIII para o XIX.

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terça-feira, 13 de setembro de 2016

A martelada social



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O retorno



A quem possa interessar:
A impúdica nudez da minha objectiva voltou a estar coberta pelo véu original a que chamamos de pára-sol.
Graças a um feliz conjunto de circunstâncias, à simpatia de alguns e honestidade de outros.

É bom constatar que, por muito que a vida nos tenha transformado em praticantes acérrimos do “salve-se-quem-puder”, ainda há momentos e quem que não o praticam.

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domingo, 11 de setembro de 2016

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E quando é que um domingo bem-disposto e divertido se transforma num dia inesquecível?

Quando constatas que, pela primeira vez na vida, perdeste uma peça de equipamento fotográfico. Que, para melhorar as coisas, dificilmente poderás substituir.
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É uma questão de lógica.

Prefiro os problemas bicudos aos problemas redondos porque aqueles ainda têm ponta por onde se pegue.
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sábado, 10 de setembro de 2016

Londres



Já foi um cinema.
Mais que cinema de bairro, já foi uma das salas de cinema de referência da capital. O Londres.
Com as suas cadeiras que se ajustavam ao peso de espectador, o seu self-service com ementas originais e, mais tarde, a grande sala dividida em três. Sempre, ou quase, com programação um pouco menos comercial que a esmagadora maioria dos cinemas.
Agora é o que se vê, apesar da polémica aquando da sua transformação: uma "loja do chinês".
E eu hoje ganhei coragem e fui lá. Naquela estúpida expectativa de, para além do local e da fachada, que ainda sobrasse alguma coisa lá dentro que evocasse o velho Londres.
Coisa nenhuma, nem mesmo vendem filmes ou suportes virgens.
Resta a memória colectiva, ou não, das matinées, soirées e sessões da meia-noite.

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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Não adianta



Não adianta! Por vezes não adianta mesmo!
E resta-nos duas soluções:

Ou bem que alinhamos com o sistema, seguindo as regras e as normas como meninos bem comportados, ou vamos buscar um pedaço de trotil e resolvemos as coisas a gosto.

By me 

terça-feira, 6 de setembro de 2016

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

domingo, 4 de setembro de 2016

Bancos



Este é o meu banco. E zanguei-me com ele!  
É que ele entendeu que, da mesma forma que tem andado a abrir as pernas a forças externas, a pressões fortes de rabos pesados, também ele tinha que me fazer sofrer, ameaçando que me atirava ao chão, que me punia pela minha audácia em o continuar a usar sem reforços significativos.
Não gostei. Nem um nico!
Vai daí, peguei em dois pedaços de corda, ambos com nó de forca na ponta e atei-o. Com uns pingos de cola, só p’rá sossega.
E fiz-lhe uma proposta irrecusável:
“Se me tornas a atirar ao chão, se me deixas em problemas, no lugar de uma corda é um martelo, uns pedaços de papel e um fósforo.”
A vantagem de largar fogo a este banco é que não tenho que partir vidros.

By me

Gostos



Há gostos que, uma vez adquiridos, dificilmente se perdem.
Talvez por ter feito o que fiz e ter pago o que paguei, continuo ferozmente a gostar de ser subversivo.


E o valor de uma factura não se relativiza com o mercado mas com o que cada um sabe, pode e está disposto a pagar.

By me

sábado, 3 de setembro de 2016

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Quando acontece contar em público o como, quando, onde e com quem agredi um primeiro-ministro português, o meu interlocutor sorri do episódio, até porque só isso é possível.
Mas quem está em redor e não me conhece ou ao meu ofício, fica a olhar-me de lado, com aquela expressão de "Coitado! Tem cá uma imaginação! Um destes dias é internado."
O que eu me divirto a ver essas caras.
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Sobre um livro e não só



Tenho vindo a afirmar, ao longo dos tempos, que o acto de fotografar é, entre outros aspectos, um acto de cobiça e apropriação.
Claro que a esmagadora maioria dos que me lêem, quer levem a fotografia mais a sério ou não, quer façam dela um ofício ou um alimento de alma, contesta-me. Alguns argumentando, outros apenas apelidando-me com variados epítetos, nem todos simpáticos.
Mas eu continuo na minha:
Ao fotografarmos estamos a criar um laço empático com o assunto, positivo porque gostamos, negativo porque não gostamos, e queremos levar connosco aquilo que vimos e com o qual reagimos.
Quer seja um pôr-do-sol de férias, uma vitória desportiva, um confronto bélico, um rosto amado, um rasgo de luz por entre a folhagem… até mesmo, e desde sempre, aquilo que a nossa visão e câmara não viu mas que o conjunto das técnicas envolvidas permite criar.
Vou baseando esta minha afirmação naquilo que eu mesmo analiso sobre a minha pessoa enquanto fotógrafo, as “confissões” que este ou aquele fotógrafo faz entre dois copos ou perante uma assembleia, nos relatos e memórias que vou lendo aqui e ali…
Com o passar do tempo tenho cada vez mais a certeza do que afirmo!
E ontem reforcei essa certeza.
Numa daquelas mini-feiras de livros, mais para despachar livros “encalhados” que outra coisa, encontrei este, a preço da chuva.
Trata-se do livro publicado em Portugal aquando da respectiva exposição em Cascais.
O texto de fundo e que acompanha cada fotografia, escrito pelo fotógrafo, é elucidativo do que vai na alma, mesmo de um profissional batido como era o caso. Pessoal e profissionalmente.

Sugiro que cada um que faz da fotografia a sua actividade, para alimentar o estômago ou a alma, que faça um sincero exercício de auto análise. Sem divulgar as conclusões mas tão só para que se conheça e às motivações interiores e profundas do uso da câmara fotográfica.

E que, depois, continue a fotografar como até aqui, tirando da actividade todo o prazer que sabemos dar.

By me

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Repetido



A situação repete-se centenas de vezes, milhares mesmo, todos os dias pelo mundo fora:
Ela(e) no degrau da carruagem, ele(a) de pé no cais, beijando-se apaixonadamente antes que a composição parta. Mesmo um rotineiro suburbano.
Por mais que a veja, tenho-a sempre por bonita.

By me

Novilíngua



Os termos usados definem pensamentos. E os pensamentos afinam as palavras.
Prefiro “fazer” fotografias a “tirar” fotografias. Fazer é algo de criativo enquanto que tirar acaba sempre por ter uma carga negativa.
Acabe-se com o ministério da educação e crie-se o ministério da aprendizagem. Que, se por um lado, se centraria toda a actuação no acto de aprender e nos estudantes, por outro acabava-se com o conceito de educação enquanto o moldar os jovens à vontade e saber dos adultos.
Mas o termo que está na moda e que mais me incomoda é o de “colaborador” no lugar de “trabalhador”. “Colaborador” define, sem sombra de dúvida, uma relação precária com a empresa ou empregador, dando-lhe um estatuto de total subalternização aos quadros superiores. Como se as empresas sem “trabalhadores” pudessem ter sucesso.

O Novo Acordo Ortográfico é mau. A Novilíngua liberal é péssima!


Imagem: palmada da net

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

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Não suporto gente que entende que o seu mundo funciona das 9 às 5, de 2ª a 6ª, e que todos os demais têm que estar 24 horas por dia, todos os dias da semana, às ordens do patrão ou de um chefinho da treta.
Por causa disso já hoje mandei alguém àquela parte, com palavras bonitas e um sorriso na cara. Só foi pena ser pelo telefone, que não lhe pude ver o semblante.

Nota adicional: ainda nem sequer são dez da manhã. O dia promete.
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Hoje irei trabalhar com aquela sensação antecipada de vazio.
Sei que lá não estará nem voltará a estar. Com a sua voz doce, o seu sorriso suave, o seu trabalho sempre cuidado e preocupado.
O mundo selvagem da precariedade, dos salários abaixo do decente, dos sorrisos hipócritas e do “salve-se quem puder” assim obrigaram a que tomasse outro rumo.
Talvez (e esperemos que sim) que lhe seja bem mais propício, com outras oportunidades, horizontes e sucessos.
Mas, por mim, irei hoje trabalhar com uma sensação de vazio.


“Muita merda p’ra ti!”
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