Uma ocasião pediram-me, na escola onde antes havia dado
aulas, para lá ir ajudá-los: havia reclamações, por parte das entidades onde
eram feitos os estágios, quanto ao cuidado que os alunos tinham com os
equipamentos.
Lembram-se de mim para fazer um workshop ou um mini módulo
de várias horas, com o intuito de corrigir essa atitude dos alunos.
Eu não era conhecido dos jovens e qualquer referência que
pudesse haver seria apenas dada pela escola e por quem ali lecionava. E aparecer
assim de repente alguém para lhes falar de disciplina, método e cuidados com o
equipamento não seria bem recebida pelos jovens, com poucos efeitos daquilo que
se queria: mudar atitudes.
Lembrei-me eu de serem feitos alguns vídeos de curta
duração, tantos quantos os grupos que surgissem, sobre o assunto. E dizer a
estes mais velhos que os vídeos seriam usados como exemplo pedagógico para os
mais novos. Pedir ajuda costuma resultar, e foi o caso.
Indo mais longe, o enredo, a realização, as vertentes
técnicas, seriam feitas, concebidos e executadas por eles, bem com a
interpretação. O meu papel seria “apenas” o dar apoio teórico ou prático onde
eles tivessem mais dificuldades.
Usei como “engodo” adicional o facto de o projecto ter o
nome formal de “A minha amiga, a câmara”, mas que era apenas formal, já que eu
preferia chamar-lhe “A minha amante, a câmara”, mas que a escola não o
aceitara. Mas que seria o nosso segredo perante a hierarquia escolar.
Bingo! Alinharam no projecto, arregaçaram as mangas e a
coisa fez-se.
Claro que o meu objectivo era colocá-los a pensar seriamente
no assunto e a interiorizar tudo aquilo que iram demonstrar aos mais novos: o
cuidado a ter com o equipamento. Transporte, montagem e desmontagem, operação,
limpeza prévia e posterior, segurança.
Vem tudo isto a propósito de, de facto, a câmara (vídeo,
cinema, fotografia) ser a nossa amante. Aquele objecto, mais simples ou mais
complexo, que tratamos com carinho e com o qual temos relações e comportamentos
distintos de quase tudo resto na vida.
Não deixamos que qualquer um se encoste a nós, rosto
incluído, a menos que seja por questão médica ou estética corporal. Até mesmo
com os amigos mantemos alguma distância. Agora um amante, formal ou informal...
o nosso desejo e prática é mater essa proximidade total que não permitimos aos
demais. E o nosso rosto encostado à câmara como se amante fosse.
O mesmo se passa com os cuidados de segurança, de afagos, de
manutenção: um amante, no sentido de se ter amor por, recebe de nós o máximo de
atenção. Tal como a nossa câmara, mesmo que pareçamos displicentes no seu
manuseio.
A maior parte dos que conheço no mundo da imagem técnica têm
esses cuidados e intimidade com a sua câmara. Os que não têm é notório no
resultado do seu trabalho. E raramente duram muito tempo no ofício ou nas
empresas.
Não sei se será o vosso caso, mas aqui por casa tenho
diversas amantes.
Pentax K1 mkII, Pentax-M Macro 100mm 1:4
By me
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