quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Equilíbrios????




Não é fácil de explicar a quem defende a ecologia quase que como solução última para a humanidade. Ou a quem acha que a simetria é o pináculo da perfeição. Ou a quem pensa que o equilíbrio, interior ou exterior, será a manifestação divina de algum estado de graça universal.

Em boa verdade, o equilíbrio, a ecologia, a simetria, são invenções humanas. Retrógradas, conservadoras, rígidas como aço e anti-natura no seu máximo.

O universo não é simétrico. O universo não é equilibrado. Quer vejamos isto do ponto de vista cósmico, quer vejamos isto à escala humana.

Se o universo fosse equilibrado, não teríamos a expansão e contração galáctica. Nem as amibas teriam saído do seu ambiente aquoso. Nem o ser humano teria descido das árvores.

É no desequilíbrio, na intranquilidade, na ausência de simetria (que nem o corpo humano possui) que a evolução acontece, que melhoramos e nos melhoramos. É na insatisfação, no tentar atingir o horizonte planetário, nas super-novas, que algo de novo acontece. Terá sido o desequilíbrio que provocou a extinção dos dinossaurios e o surgimento de novas espécies. Nós incluídos. Terá sido algum desequilíbrio que terá provocado o famoso big bang.

A estabilidade, a simetria, o equilíbrio, serão algo que procuramos porque raro, como os diamantes. E só porque raro lhes atribuímos valor. Material ou não.

Sou apologista da ausência de equilíbrio, da instabilidade, da assimetria. Na vida, na estética, na evolução.

A balança é uma invenção humana! Absurda, claro.

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domingo, 23 de fevereiro de 2025

Verso e reverso




Não deixa de ser interessante que a parte de uma câmara fotográfica que mostramos, que procuramos conhecer e que surge em tudo o que é publicidade seja a sua parte frontal.

No entanto, é na sua parte traseira, do lado do LCD ou da tampa da película, que encostamos o rosto, na cumplicidade de um afago ou abraço, quase que um beijo de amor.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


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Com calma, Miranda




Devagar e sem pressas, a coisa vai-se compondo.

O primeiro passo está dado, ou seja, a objectiva foi substituída por outra quase idêntica mas sem fungos. 

O que significa que já posso pôr-lhe película e ir fotografar, ainda que sem utilizar o seu fotómetro TTL. As pilhas recomendadas já não se fabricam por conterem mercúrio e as alternativas actuais têm outros valores. 

E porque é que quero ter isto, lançado em 1971, a trabalhar tão bem quanto o possível?

Pertencia ela a meu pai e herdei-a. Esteve demasidos anos mal guardada, como demonstra o estado ótpico. E, apesar de ser utilizador convicto de câmaras Pentax, faço questão que todas as que possuo, Pentax ou não, estejam tão operacionais quanto o possível.

Esta é uma delas, com o acréscimo de ter uma história que me é próxima.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Frustrações




Mau mesmo é quando vais a uma loja de referência em equipamento fotográfico para comprar um determinado tipo de artigo.

Acontece que a loja disponibiliza dois modelos muito semelhantes, da mesma marca e gama de preços, mas com algumas características específicas diferentes. E queres saber mais sobre isso, já que o que consta na net não é esclarecedor. E as respostas ditarão a escolha.

És atendindo pela pessoa responsável por aquela secção que, depois de muito procurar, constata que ali não têm nenhum dos dois modelos mas apenas no armazém, distante. E não te sabe responder às tuas questões. Que são técnicas, específicas e importantes.

Saber mais que o vendedor especializado é algo que pode alimentar o ego de qualquer um, mas é frustrante, faz-nos perder tempo e reduz a opinião que se tem sobre o local.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


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Mau feitio




Sou fumador há muitos anos e sei muito bem o que é querer um cigarro e não ter.

Por isso, quando me pedem um cigarro na rua em regra dou. E fico agradado quando quem pede percebe que o que dou é o último do maço e recusa. A minha resposta é que tenho mais, ou que ía logo ali comprar mais e a cumplicidade entre fumadores reforça-se.

Mas há algo que me faz sair do sério e recusar liminarmente o dar o cigarro: quando chegam junto a mim e com ar displicente, quase como se fosse uma obrigação, me dizem “Oh chefe, dê-me um cigarro!”

Em primeiro lugar um “por favor” fica sempre bem. Em seguida o “Oh chefe” é dito com um tom de sobranceira, como que uma ordem dada. Não me importa se tenho um maço cheio ou se vou comprar mais de seguida. Ou abano apenas a cabeça ou sai-me um “Hoje não!” em tom desabrido.

Eu sei o que é querer fumar e não ter tabaco. Mas alguma cordialidade ou quebra gelo fica sempre bem e ajuda no acto de partilha de vícios.

Mas eu não sou conhecido por ter bom feitio!

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

 

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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Aviso


Enquanto os cidadãos se reúnem atabalhoadamente em praças públicas, a céu aberto ou debaixo de telha, tentando manter vivo o conceito de democracia representativa, meia dúzia de títeres, eleitos ou não, decidem sobre a vida de centenas de milhões de humanos. 

A história repete-se, seja com vias romanas, seja com autoestradas de informação.

Em breve regressaremos a uma nova idade das trevas, mal alumiados nos templos com micro-leds, os servos da gleba vendidos com os terrenos de cultivo ou de senhorial lazer e os arautos difundindo o medo do cadafalso ou corte do wi-fi.

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domingo, 16 de fevereiro de 2025

Coito interrompido




Estava de volta de uma fotografia e a coisa não me estava a correr bem. Não havia forma de conseguir a imagem que tinha imaginado, por mais voltas que desse na perspectiva ou na luz. Mas eu sou teimoso e, rilhando os dentes, insistia.
De súbito tocam à porta. Em boa verdade, bateram na porta de casa ao mesmo tempo que faziam soar a campaínha. Com insistência.
Soltei um rotundo e clássico impropério, daqueles que soltamos quando o dedo mindinho do pé embate, descalço, na perna da cadeira, e fui ver quem se atrevia a interromper o acto criativo, mesmo que não muito bom.
Era o vizinho do lado a perguntar-me se toda aquela fumaça que se via na escada viria de minha casa. Não vinha. E se não era da minha a alternativa era vir da do vizinho da frente. Mas disseram-me que não atendia. 
Fui até à porta e tentei a campaínha. Nada. Umas valentes pancadas na porta e nada também. Entretanto a esposa do vizinho, com o seu bebé de semanas ao colo, já estava a ligar para a linha de emergência, dando os dados necessários. Apesar da situação, ela estava com mais calma que ele.
Entretanto ouvi algum barulho no apartamento de onde vinha o fumo. Retornei a ela e descobri que o botão da campaínha tinha truque e que afinal ela funcionava. Alternei entre ela e murros na porta até esta abrir.
Abriu-a um dos residentes, um rapaz dos seus vinte anos, a perguntar sobre o que se passava. Quando referimos o fumo na escada, e com a maior das displicências, disse aquilo não era nada de grave, apenas o fumo do fogareiro. E que ele iria tratar disso.
Recolhemos todos às respectivas casas, não muito tranquilos, entenda-se. Fiquei de olho na janela, por via da chegada dos bombeiros e, pelo caminho, calcei os sapatos, não fosse ter que sair de fugida. 
Chegou o carro de primeira intervenção, chegou a ambulância, chegou o carro patrulha.
As duas bombeiras subiram, equipadas para o que desse e viesse e resolveram a coisa sem mesmo recorrerem aos extintores que traziam. Os agentes da polícia entraram e falaram de rijo com quem lá estava. E fiquei a saber que se tratava de um assador a carvão a ser usado na cozinha e com as janelas fechadas. 
Uma das bombeiras veio pedir-me para abrir janelas para limpar o fumo da escada e do apartamento de onde vinha e aquelas que sugeriu, porque mais em linha recta, eram exactamente as do espaço a que pomposamente chamo de estúdio.
Lá tive que afastar a “tralha”, desmontando o que tinha em mãos, para fazer a ventilação, que até foi coisa rápida. Enquanto o fazia, ela acrescentava com bonomia, que as duas haveriam de cá voltar para uns retratos. Rimo-nos todos.
Os bombeiros foram-se embora, assim como o carro-patrulha e ficou apenas a curiosidade de vizinhos, na rua e no café em frente, onde sou cliente regular. Foi um ponto alto na pacatez da rua secundária onde vivo.
A fotografia que eu queria fazer? Passou-me a vontade e não voltei a ela nesse dia. Nem nos seguintes. Não era coisa importante que não para mim.
Vai acontecer, p’la certa, um destes dias quando voltar a vê-la com os olhos da alma. 

Pentax K50, SMC Pentax 28-200 1:3,8-5,6

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Corando




Há duas formas de pôr a roupa a corar.
Uma é esta, clássica, recorrendo ao sol natural.
Outra é contar-lhe uma anedota porca.

Mas camisa velha e batida já dificilmente cora com uma piada.

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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

D'arquivo




Esta foi a única imagem que consegui registar em quase dez horas de actividade formativa.
Saber que há gente que atenta nas nossas palavras, gestos, linhas, que as considera como referência e que as irá repetir, contestar ou considerar como importantes, por muito levezinho e divertido que levemos a coisa, é uma responsabilidade demasiadamente grande para que o possamos por de parte, mesmo que por momentos.
E se estou concentrado naquilo que os que nos cercam vão fazendo, preocupado em ter a certeza que as aprendizagens estão a acontecer e da forma mais útil, dificilmente consigo escutar a voz interior, ou ver as imagens projectadas atrás da retina, para que com isso possamos criar alguma coisa.
Não sei ao certo o que acontece com muitos e muitos outros, mas eu não sou multi-tasking.

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