terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Sob a influência de Miró




Não adianta estarmos com ilusões: nós somos o resultado das nossas vivências.

E por vivências entenda-se a cultura em que nos inserimos, a interacção com os outros, o que vemos, o que ouvimos, o que aprendemos, os conceitos éticos e estéticos, o que fazemos...

Do ponto de vista criativo, não acredito que alguém crie alguma coisa a partir de coisa alguma. De algum modo, a sua vivência conduziu àquele resultado, mesmo que disso não se aperceba. E não importa o suporte do que se cria: permanente ou efémero. Permanente como como um quadro, ou uma escultura ou um livro, efémero como uma música ou uma dança.

Fazemos ou criamos o que fazemos ou criamos porque juntámos todos os pedaços na nossa vida e construímos a partir daí.

Eu não sou diferente. O que faço é o resultado do que fiz, vi, ouvi, li...

E sei disso, tal como sei que preciso de pistas, de aumentar o que vou juntando cá dentro, para fazer diferente do que fiz até agora. Mesmo que esse diferente seja absolutamente igual ao que fiz até agora.

Nesse procurar pistas, há um lugar onde, em estando por perto, não perco uma visita: a Fundação Miró em Barcelona. Das várias vezes que estive nessa espantosa cidade não deixei de por lá ir e gastar meio dia deambulando por entre as peças expostas: as do mestre, as dos seus contemporâneos e seguidores e as que a direcção da fundação entende por merecedoras de ali estarem temporariamente.

Venho de lá com a alma cheia. Não que entenda todas as obras. Muitas são as que, por mais que as veja, não lhes entendo significado. Mesmo lendo as legendas junto às obras ou ouvindo o audio-guia, muitas há que não entendo. Mas vibro!

De algum modo a esmagadora maioria do que ali encontro provocam-me emoções e essas são as que contam. As que nos moldam. As que nos acrescentam algo.

E sendo certo que o que vou fazendo em fotografia tem algum tipo de coerência ou linha condutora (terá que ter ou seria eu um louco varrido), as As horas ou dias que se seguem a uma visita a esse lugar quase mágico ficam bem marcadas nas fotografias que faço. Desviadas ou acrescentadas, como lhe queiram chamar. O meu olhar, os olhos da cara e os olhos da alma, é diferente antes e depois de lá ir.

Este é um desses exemplos.

Há já uns anitos que por lá não vou. Está a fazer-me falta para sair do meu próprio circulo vicioso.


By me

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