Para os antigos, os mesmo muito antigos, a contagem do tempo
fazia-se por dias.
E é fácil de entender porquê. Sem mecanismos naturais ou
manufacturados, o movimento aparente do sol, com o seu nascer e morrer no
horizonte cíclico e garantido era algo fiável e facilmente contável.
Claro que muitos dias podem ser confundíveis e surge nova
unidade de tempo, igualmente natural: a lua. O seu regular movimento de cheia a
cheia, com as fases intermédias, permitiu definir meses e semanas. Estas de
sete dias, tantos quantos os de cada fase.
O somatório de várias luas veio criar o ano, desta feita
associado às estações do ano, igualmente cíclico. A própria natureza, com o
reproduzir animal e vegetal, ajudou a confirmar a regularidade.
Ainda hoje usamos estas formar primárias de medição
temporal: dias, semanas, meses, anos. E inventámos calendários, demos-lhes
nomes e números, marcámos momentos especiais e celebramos cada ciclo que
vivemos. E é tão verdade que zonas do globo há que comemoram o maior dos
ciclos, o ano, com calendários lunares, ao invés dos relativamente modernos 365
dias e seis horas.
Mas entre dias, meses e anos assim observados e contados, há
um outro acontecimento natural regular e observável que auxilia na contagem do
tempo: a duração da luz natural. Sabemos da vivência e dos bancos da escola que
os dias são mais longos no verão e mais curtos no inverno. E os antigos, os
muito antigos, também se aperceberam disso. E deram-lhe importância suficiente
para, unindo esforços, erguerem monumentos magníficos e duradoiros para
assinalarem os maiores, menores ou equiduradoiros. Concebidos e orientados com
um rigor quase assustador, se considerarmos os conhecimentos e capacidades de
engenharia de então.
Este reconhecer de alguns dias do ano, solstícios e
equinócios, aconteceu por todo o globo, em todos os continentes e civilizações.
E o assinalar desses dias, em calendários mais ou menos elaborados ou em
edificações mais primárias, também aconteceu por todo o lado, nas mais diversas
e remotas civilizações e culturas.
É também por isso que eu, consumidor do átomo e do nano segundo,
tenho especial admiração pelos muito antigos e pelos seus saberes, quantas
vezes ignorados ou menosprezados hoje. Em particular no seu reconhecimento do
tempo, que não dominamos mas que apenas podemos contar e usufruir. Quantas
vezes inutilmente.
É nessa linha que tenho especial carinho pelos solstícios e
equinócios, celebrados desde sempre e por todos. E, tivesse eu poder sobre as
leis globais, decretaria esses quatro dias como feriados mundiais. Que não
dependem de eventos humanos e que, façamos o que fizermos, continuarão a
acontecer muito depois de o ser humano deixar de ser apenas uma memória no
universo.
Hoje é um desses dias: Solstício, de inverno para uns de
verão para outros. O dia mais curto ou mais longo, que as diversas teologias
trataram de mascarar ou adaptar com outras histórias ou eventuais marcos
humanos.
Sugiro que hoje, e se chegaram ao fim desta diatribe, olhem
em redor. Para o céu ou para o horizonte, citadino ou campestre.
E que durante um pedacinho pensem na nossa própria
efemeridade, no modo como ocupamos aquilo que não dominamos nem nos pertence,
nas coisas boas ou más que com ele fazemos. Naquilo que não fazemos, desperdiçando
a vida. E naquilo que faz com que cada dia, mês, ano, seja bom, válido e nos
enche a alma.
Feliz solstício.
By me
1 comentário:
Feliz Solstício e um grande abraço
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