quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Prazeres ou nem tanto


 


Consigo entender parte da satisfação obtida na caça.

É ancestral, diria mesmo animal, e resulta do saber que há comida. Provém dos tempos em que obter carne para comer era coisa difícil, muitas vezes rara. Quer se tratasse da caça grossa feita em colectivo, quer de outra menor feita em solitário. Ou mesmo de armadilhas.
Não esquecer que a caça e o prazer da carne foram, durante séculos, privilégio das elites e que a ralé (entenda-se por povo, escravos, servos da gleba, pobres…) só as elas tinham acesso por deferência senhorial em dias especiais ou furtivamente. Quantas vezes punidos severamente se apanhados.
Ainda hoje a matança do porco e o tratamento das carnes é motivo de regozijo e festa nas aldeias e comunidades pequenas, em que se juntam as pequenas comunidades para celebrarem a abundancia.
Nos tempos que correm a caça poucas vezes é para comer. Eventualmente guardam-se algumas peças, pequenas, que a conservação no frio o permite.
O acto de matar, hoje, pode ser equiparado ao ir-se aos centros comerciais ou lojas de inutilidades: prazer pelo prazer da acumulação, do fútil, da ostentação, da posse de objectos (ou peças de carne) que, as mais das vezes, de nada servem e que são guardadas algures quase até ao esquecimento. Eventualmente, no caso da caça, vendidas passado que for a prazer de matar.
Consigo entender o prazer da caça enquanto sucesso num acto difícil.
Aquilo a que assistimos um destes dias não foi caça nem foi difícil nem foi para comer. Nem sequer foi animalesco instinto.
Foi crueldade pura e dura praticada por quem merecia ser objecto de caça.
Chamem os tigres e molhem a pólvora!

By me

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