sábado, 12 de dezembro de 2020

Interpretações


 


Excepção feita às listas telefónicas e aos formulários e minutas oficiais, quase todo o trabalho humano pode ter duas ou mais interpretações. Umas mais óbvias, outras não tanto. Umas definidas à partida por quem ou faz, outras apenas descobertas por quem vê o resultado final.

Os trabalhos criativos não são excepção, talvez mesmo o oposto, sendo o expoente máximo da subjectividade. Quer se trate de pintura, escrita, fotografia, performances como música, teatro, bailado… Até mesmo a arquitectura tem essa característica, muito para além da estética e funcionalidades aparentes.

Tenho a desventura de não ser nada digno de nota nem na escrita nem na fotografia, pelo que tenho completar uma com a outra e vice-versa. Mas, e sem sombra de dúvida, que o que de pobre vou fazendo tem sempre mais que uma leitura ou interpretação possíveis ao dar por findo o processo criativo. E para além daquilo que quem veja ou leia encontre por si mesmo.

Por vezes há que contar histórias que não podem ou não devem ser contadas e a parábola é um subterfugio para a necessidade de contar. Por vezes é o deixar algo de fora propositadamente, tanto na fotografia quanto no texto, para que leitor ou espectador possa completar e criar a sua própria imagem e história.

Por vezes ainda, há que “passar recados” ou “dar lições” sem que isso se sinta de imediato e sem ferir susceptibilidades.

Outras ocasiões, não tenho o poder de síntese quanto baste e o resultado é essa mesma multiplicidade de interpretações.

Em qualquer dos casos, e enquanto autor (fraco mas autor), fico satisfeito quando é encontrada uma qualquer história, mesmo que não alguma das originais. Se alguma reacção acontece, mesmo que não a prevista ou mesmo que negativa, isso quer dizer que de algum modo comuniquei com que vê ou lê. Que de algum modo saí da trivialidade e consegui que alguém pensasse ou sentisse algo.

E isto para mim é uma vitória.


By me

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