Um
photógrapho é um recolector das histórias dos outros. Um cronista também.
Diferencia-os a luz da tinta. Mas que dizer de um photocronista?
Esta
história, que aqui grafo tal como me recordo da sua oralidade, foi-me contada
em primeira-mão:
“Vivia
sozinho e o meu orgulho impedia-me de ir pedir ajuda aos pais, apesar de,
naquela altura, os pagamentos da empresa onde trabalhava estarem atrasados.
Naquele dia não tinha dinheiro nem para tomar um café. Revirei tudo em casa em
busca de uma moedinha que fosse e nada.
Acabei por
me meter no carro e ir a casa de uma amiga, que me poderia emprestar algum,
pouco, para os dias que ainda faltavam até vir o guito.
Mas acabei
por me enganar no caminho e entrei na via-rápida no sentido oposto. Com a pouca
gasolina que tinha, não sabia se daria para inverter a marcha mais à frente, pelo
que decidi continuar e ir a casa de uma outra amiga, que me haveria de ajudar.
Não estava
em casa. Mas estava lá uma amiga dela. Não nos conhecíamos, mas já ouvíramos
falar um do outro. Ajudou-me.
É hoje a
minha mulher.”
E se isto
não é uma bonita história de necessidade, coincidências, solidariedade e final
feliz, adequada a qualquer época em geral, incluindo a que atravessamos, não
sei o que o será.
Nota
adicional - Esta fotografia é da mão e
da aliança de um dos dois protagonistas da história contada. Não é uma grande
fotografia, mas foi o que consegui fazer quando o encontrei de novo, por entre
os afazeres do ofício.
Poderia
talvez fazer uma melhor, quiçá usando a minha própria aliança e melhor trabalhando
luz e fundo. Mas não seria factual, podendo sê-lo.
Mas entre
uma fraca fotografia factual e uma boa fotografia fictícia, prefiro a primeira.
Que, mais importante que uma “boa” fotografia, para um photocronista importa a
realidade. Ou passaria a ser um photorromancista.
Além do mais a minha aliança tem outras histórias que, por
enquanto, guardo para mim.
By me
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