segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Hoje

 


 

Para os antigos, os mesmo muito antigos, a contagem do tempo fazia-se por dias.

E é fácil de entender porquê. Sem mecanismos naturais ou manufacturados, o movimento aparente do sol, com o seu nascer e morrer no horizonte cíclico e garantido era algo fiável e facilmente contável.

Claro que muitos dias podem ser confundíveis e surge nova unidade de tempo, igualmente natural: a lua. O seu regular movimento de cheia a cheia, com as fases intermédias, permitiu definir meses e semanas. Estas de sete dias, tantos quantos os de cada fase.

O somatório de várias luas veio criar o ano, desta feita associado às estações do ano, igualmente cíclico. A própria natureza, com o reproduzir animal e vegetal, ajudou a confirmar a regularidade.

Ainda hoje usamos estas formar primárias de medição temporal: dias, semanas, meses, anos. E inventámos calendários, demos-lhes nomes e números, marcámos momentos especiais e celebramos cada ciclo que vivemos. E é tão verdade que zonas do globo há que comemoram o maior dos ciclos, o ano, com calendários lunares, ao invés dos relativamente modernos 365 dias e seis horas.

Mas entre dias, meses e anos assim observados e contados, há um outro acontecimento natural regular e observável que auxilia na contagem do tempo: a duração da luz natural. Sabemos da vivência e dos bancos da escola que os dias são mais longos no verão e mais curtos no inverno. E os antigos, os muito antigos, também se aperceberam disso. E deram-lhe importância suficiente para, unindo esforços, erguerem monumentos magníficos e duradoiros para assinalarem os maiores, menores ou equiduradoiros. Concebidos e orientados com um rigor quase assustador, se considerarmos os conhecimentos e capacidades de engenharia de então.

Este reconhecer de alguns dias do ano, solstícios e equinócios, aconteceu por todo o globo, em todos os continentes e civilizações. E o assinalar desses dias, em calendários mais ou menos elaborados ou em edificações mais primárias, também aconteceu por todo o lado, nas mais diversas e remotas civilizações e culturas.

É também por isso que eu, consumidor do átomo e do nano segundo, tenho especial admiração pelos muito antigos e pelos seus saberes, quantas vezes ignorados ou menosprezados hoje. Em particular no seu reconhecimento do tempo, que não dominamos mas que apenas podemos contar e usufruir. Quantas vezes inutilmente.

 

É nessa linha que tenho especial carinho pelos solstícios e equinócios, celebrados desde sempre e por todos. E, tivesse eu poder sobre as leis globais, decretaria esses quatro dias como feriados mundiais. Que não dependem de eventos humanos e que, façamos o que fizermos, continuarão a acontecer muito depois de o ser humano deixar de ser apenas uma memória no universo.

 

Hoje é um desses dias: Solstício, de inverno para uns de verão para outros. O dia mais curto ou mais longo, que as diversas teologias trataram de mascarar ou adaptar com outras histórias ou eventuais marcos humanos.

Sugiro que hoje, e se chegaram ao fim desta diatribe, olhem em redor. Para o céu ou para o horizonte, citadino ou campestre.

E que durante um pedacinho pensem na nossa própria efemeridade, no modo como ocupamos aquilo que não dominamos nem nos pertence, nas coisas boas ou más que com ele fazemos. Naquilo que não fazemos, desperdiçando a vida. E naquilo que faz com que cada dia, mês, ano, seja bom, válido e nos enche a alma.

 

Feliz solstício.


By me

1 comentário:

Bap disse...

Feliz Solstício e um grande abraço