sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Pré-epitáfio


 


Em tempos conheci um mestre!

Sócio na traineira que comandava, nos mares algarvios e na costa Vicentina, o Mestre Luís Benjamim era um homem ímpar.

Firme no leme e no sonar, assim como com a companha, a sua generosidade para com o mar e a gente que o amanhava era enorme. Mas bem maior que ela era o gosto que tinha pelo que fazia. Meio a sério, meio a brincar, costumava dizer que era no mar e junto da roda do leme que gostaria de morrer.

A vida, mãe ou madrasta como quiserem, fez-lhe a vontade. Uma noite o coração colapsou-se-lhe enquanto que com as mãos na roda buscava cardume.

Quando o soube, muito tempo depois, sorri e disse de mim para mim que era assim que gostaria de morrer: fazendo algo de que goste!

Há pouco, quando preparava o saco da “tralha” antes de sair, não tive dúvidas!

Não sei o que o futuro me reserva, ainda que provavelmente decidido por mim. Mas se puder escolher ou dar uma ajudinha, gostaria que fosse a fotografar. A tentar fazer com que a luz que vejo se materialize no papel ou no ecrã, se possível provocando algumas reacções a quem as veja.

E na minha tumba, se a isso tiver direito e se se justificar, no lugar de uma cruz coloquem uma objectiva encastrada num cérebro.

Afinal, é isso que tenho feito quase toda a vida!


By me

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