Há uns dias, poucos, um discurso em directo do presidente
dos EUA foi interrompido por três estações de televisão norte americanas.
Os jornalistas das respectivas estações de TV justificaram
de imediato o facto, afirmando que o discursante estava a dizer inverdades,
falsidades, mentiras.
Podemos aplaudir a decisão. Quer seja pela justificação,
quer seja pela antipatia que se possa ter pelo Trump.
E se o segundo motivo se prende com emoções e preferências,
já o primeiro está ligado a uma espécie de código de conduta dos jornalistas,
em que a verdade estará acima de tudo.
No entanto eu pergunto: quem é que conhece algum outro caso
em que a “verdade” tenha sido invocada para se interromper um discurso do
respectivo presidente? Indo mais longe, quem é que conhece um caso, num país do
chamado “mundo ocidental” em que a transmissão em directo de um discurso do
respectivo presidente tenha sido interrompida?
Ou, de outro modo, conseguem imaginar que isto pudesse
acontecer nos EUA se o discursante não estivesse na curva política descendente?
Vistas as coisas de outra perspectiva, o impedir alguém de
falar, bloqueando-o, tem um nome feio que nos remete para outras épocas de má
memória: censura.
Claro que oiço falar em ética jornalística, em códigos de
conduta, em critérios editoriais, em respeito para com o público… São muitos os
argumentos possíveis para justificar este acto censório. Que acontece, na prática,
quando se retransmite um discurso, em que só as partes “importantes” são
mostradas.
Mas num directo, em que o presidente do país está a falar,
mesmo que na condição de candidato… é a primeira vez que de tal oiço falar.
E, o que é mais estranho, não oiço a classe jornalística a
pronunciar-se contra um acto de censura feito pelos seus pares. Enfim: soube de
uma ou outra opinião, isolada e pouco divulgada.
Mas, no seu todo, aconteceu um silêncio cúmplice ou um
aplauso mais ou menos entusiasmado.
Eu diria que este foi o mais despudorado acto a que já
assisti por parte do quarto poder. Poder este que, em oposição dos restantes
três (legislativo, executivo e judicial), não é eleito pelo que não responde
perante o povo que não pelas tiragens ou audiências e respectivo lucro.
Nota pessoal: Não gosto do actual presidente dos EUA. Nem da
sua postura nem da forma como tem intervindo com os demais países. Mas também
não gosto da forma como o quarto poder se entende acima de qualquer crítica ou
das instituições democráticas, podendo exercer hoje impunemente aquilo que
tanto criticou quanto ao passado: censura.
By me
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