Se tivesse frio, ainda poderia dizer que se tratava de
gripe. Se tivesse almoçado ou jantado, ainda se poderia supor que me tinha
caído mal. Se me tivesse lembrado de alguém de quem muito gosto, estaria
apaixonado.
Mas nada disso.
Apenas, em regressando do café matinal, vi um casal de
salvadores de almas, vestidos com os seus fatinhos domingueiros e com a malinha
de bíblias ao ombro, a rondar a porta do meu prédio.
Fiquei de imediato a pensar qual dos meus discursos de
sucesso ou qual dos meus tripés usaria para correr com eles.
Talvez aquele de não ter fé e ela ser um dom de deus. Ou
aquele tripé de madeira, com os pés em bico de alumínio. Eventualmente abrir a
porta vestido como vim ao mundo, tentando o choque cultural ainda antes de
poderem argumentar.
Felizmente, eles perceberam que o número da porta não
correspondia ao que traziam escrito num caderninho e zarparam para o prédio do
lado.
Pobres vizinhos!
By me
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