segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Justiça e comunicação social




Um dos graves problemas da comunicação social é o jornalismo de investigação.
Não ele por si mesmo mas a forma como é feito.
Perante um dado facto ou situação, o trabalho jornalístico é feito no sentido de acusar alguém, sem dar azo a que quem é acusado tenha oportunidade de se defender, apresentando algum tipo de provas, materiais ou testemunhais, que refutem a acusação.
Ou, quando é exercido o direito ao contraditório, a possibilidade de contrapor ao que é afirmado pelos jornalistas é reduzida a quase nada.
No estado de direito em que vivemos não é essa a norma da lei: Feita a investigação e apresentada a acusação, ao ou aos acusados é dada a oportunidade de, em condições equivalentes, apresentar a defesa.
Serão complexos os procedimentos legais, talvez demasiado para que o comum cidadão os entenda. Mas isto permite que quem julga (um juiz no caso da lei) esteja na posse de todos os argumentos e provas para decidir da culpabilidade ou inocência de quem ali vai acusado.
Na comunicação social o juiz é o público. Leitor, espectador ou ouvinte. E se as partes não puderem apresentar justificações em pé de igualdade, o público/juiz decide pela maior ou mais pesada argumentação: a dos jornalistas.
Indo mais longe: o “sangue”, as parangonas, os directos intermináveis, o tom do escrito ou reportado, irá fazer pender a balança para a acusação, mesmo que injusta, imprecisa ou tendenciosa.
Tão ou mais grave que isto é o caso de se provar a inocência no “tribunal mediático”. Não têm jornalistas ou empresas de comunicação a prática de limpar o nome ou a reputação de quem acusaram e julgaram na praça pública. Fica, para quem acompanhou as reportagens “sangrentas” e os discursos inflamados, o “saber” da culpabilidade nunca equitativamente desmentido.
Por muito que possamos romancear sobre o “sagrado dever” do jornalismo, ele não é praticado. Nos casos de sangue, de economia, política, desporto, sociedade…
Quem tiver a pouca sorte de cair em desagrado por parte de um jornalista ou redacção está inexoravelmente tramado. Por vezes com a vida e o futuro desfeitos.
Recordo que os três poderes da sociedade são o legislativo, o executivo e o judicial. O quarto poder, a comunicação social, não é sufragado e tem interesses privados fruto do negócio de vender notícias.
A democracia, que tanto se defende por cá, não abrange os media, retirando-lhes baias e éticas.




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