A conversa surgiu, já não sei a propósito de quê, na mesa do
costume, com os comensais mais ou menos do costume. Aliás, era a hora do
costume.
A certa altura, comecei a descrever o fazer, o usar e as
consequências dos cocktail Molotov. E como minimizar os efeitos do gás
lacrimogénio: materiais, métodos, fornecedores. E como neutralizar,
temporariamente, gente com capacete com viseira. Ou, perante uns quantos, qual
ou quais visar primeiro. E como. E mais umas coisinhas do género. E explicando
como o saber disto se pode tornar útil nos tempos que correm, quer agindo quer interpretando
acontecimentos.
A mesa silenciou notoriamente, com uma ou outra interrupção
para esclarecimento, acompanhadas de uns sorrisos e anuências silenciosas de um
dos presentes, que fez disto ofício em tempos.
Quando me calei, que haveria que passar do peixe para a
sobremesa, questionaram-me como sabia aquilo, mais aquilo que dei a entender
que também sabia. E respondi.
As bibliotecas, ainda antes de haver internete, são locais onde
se pode aprender muito, mesmo entre os livros classificados mas que escapam aos
filtros dos funcionários. A internete veio acrescentar conteúdos e detalhes,
desde que se saiba procurar.
Mas, no fundo, no fundo, também eu estava espantado pela
quantidade de coisas que me ia lembrando, algumas que nem sabia que sabia.
O saber não ocupa lugar e, em sendo solicitado, vem ao cimo,
como azeite na água. Excepto se armazenado nas bibliotecas, onde realmente
ocupa lugar.
By me
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