terça-feira, 1 de outubro de 2019

Eram cinco




Sentadas no banco, uma entretinha-se a revirar a mala, em busca sabe-se lá de quê. Outra lia um livro, daqueles grossos que tanto atraem: pelo mesmo preço tenho mais leitura. As outras três dedicavam-se ao passatempo habitual nos tempos que correm: o telemóvel.
De súbito uma de uma ponta levanta o aparelho e coloca-o e ao telemóvel na posição clássica de uma selfie: subido, apontado um pouco para baixo, de modo a ver-se bem o enteado e a colocar o público numa posição superior e o fotografado numa posição subalterna.
Acto continuo, as restantes quatro suspenderam o que estavam a fazer, rodaram o rosto para a câmara e esboçaram um esgar de sorriso. Bem forçado, entenda-se.
Feito registo, regressaram ao que faziam, com o mesmo ar de enfado natural de quem espera pelo comboio que as levará para a rotina laboral.

Quando dizem que a fotografia não mente, têm razão. Quem mente é quem assume poses de circunstância, mentindo com todos os dentes, visíveis ou não.
Será que é obrigatório sorrir para a fotografia?



By me

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