Em dois dias consecutivos publiquei estas duas imagens. A de
baixo primeiro, no dia seguinte a de cima.
Ambas são imagens especiais:
A de baixo pelo tratamento de luz, pela forma como os dois
copos são apresentados, pela invulgaridade de se ver uma imagem de um copo
partido. Fi-la apenas porque me apeteceu, sem mais para contar que ela mesma.
A de cima pela proximidade com que o assunto é mostrado que,
não sendo nada que qualquer cientista ou entusiasta da astronomia não possa
fazer e francamente melhor, nos mostra aquilo que todos conhecemos mas que a
maioria não tem como assim registar.
Uma é singular no conteúdo e de difícil leitura ou
interpretação, a outra inequívoca no conteúdo e de leitura imediata.
O que as diferencia também ou principalmente, sem sombra de
dúvida, é que a de cima é uma fotografia para ser exibida na net, a segunda nem
um pouco. Exactamente pela facilidade ou complexidade de leitura ou
interpretação.
Dúvidas haja sobre isto, perdem-se com o tipo e a quantidade
de reacções de quem as viu: quase nenhuma na de baixo, umas quantas mais na de
cima.
Prende-se isto com vários factores:
À uma, pelo tamanho com que são vistas. Boa parte do actual
consumo de redes sociais acontece em dispositivos moveis, de reduzido tamanho,
não permitindo aperceber os detalhes de uma imagem complexa;
Por outro lado, uma imagem de difícil percepção obriga a
usar de tempo, caso desperte interesse, na sua interpretação. E tempo é o que
pouco há na net em geral e nas redes sociais em particular. Por cada imagem que
vemos, entram uns largos milhares. E não queremos perder nenhuma. Ver, ver,
ver, mais, mais, mais, são as regras de quem navega na net.
Temos, assim, que o fazer de imagens para a net, se queremos
que aconteça alguma reacção (mesmo que negativa) há que simplificar o que se
exibe, sem constrangimentos ao vagar do olhar nem detalhes pouco explícitos.
E se isto até pode ser “divertido”, para quem se ponha a
matutar na relação produtor/consumidor de fotografias, tem um lado perverso:
Ao criar-se o hábito de simplificar as imagens, com o
objectivo de obter reacções, pode-se correr o vício de se ganhar o vício mental
de só assim fotografar. De não atrair o olhar do fotógrafo assuntos mais
complexos visualmente. Um pouco na fotografia como na escrita “netiana”, com os
seus ícones, emojis e abreviaturas.
É bom que se saiba, ao fotografar, em que condições o
trabalho será “consumido” e adaptar o que queremos transmitir ao suporte final.
Não apenas ao tamanho com ao tempo que sabemos que o espectador irá dedicar ao
que vê. E não nos deixarmos levar pelo facilitismo do consumo, mas antes fazer
o queremos fazer, deixando um pouco de parte as opiniões de terceiros.
Os meus cinco cêntimos sobre um tema que vai muito para além
da fotografia, do consumo e das novas tecnologias.
By me
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