Éramos jovens e decidimos ir acampar e fazer umas pinturas
sobre madeira.
O destino era a Tapada de Mafra que, soubemos à chegada,
estava fechada para manobras militares.
Não desistimos e, de mochila às costas, continuámos a pé até
encontrarmos um local que satisfizesse. E demos com ele: um terreno direito,
sem pedras ou constrangimentos de maior. Mesmo ao lado de uma igreja, numa
pequena aldeia.
Montado o acampamento, comido o jantar e acondicionado o
lixo, os campistas de dormitório que éramos fomos ao tasco, do outro lado do
adro, por um café. Mesas e balcão de mármore, gente a jogar dominó, copos de
fundo grosso…
Pedido o café ao balcão, fez na sala um silêncio sepulcral,
com todos a olhar para o nosso lado. Entreolhamo-nos, meio a medo, e só depois
nos apercebemos:
Na parede, acima das nossas cabeças, um televisor onde tinha
começado o Telejornal.
Creio que até então não me tinha apercebido da importância
daquilo que fazíamos com a displicência do quotidiano.
E não o esqueci até hoje!
Não foi há sessenta anos, mas foi há coisa de quarenta,
ainda a preto e branco.
Imagem: edit by me
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