sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Consciências e displicências




Éramos jovens e decidimos ir acampar e fazer umas pinturas sobre madeira.
O destino era a Tapada de Mafra que, soubemos à chegada, estava fechada para manobras militares.
Não desistimos e, de mochila às costas, continuámos a pé até encontrarmos um local que satisfizesse. E demos com ele: um terreno direito, sem pedras ou constrangimentos de maior. Mesmo ao lado de uma igreja, numa pequena aldeia.
Montado o acampamento, comido o jantar e acondicionado o lixo, os campistas de dormitório que éramos fomos ao tasco, do outro lado do adro, por um café. Mesas e balcão de mármore, gente a jogar dominó, copos de fundo grosso…
Pedido o café ao balcão, fez na sala um silêncio sepulcral, com todos a olhar para o nosso lado. Entreolhamo-nos, meio a medo, e só depois nos apercebemos:
Na parede, acima das nossas cabeças, um televisor onde tinha começado o Telejornal.
Creio que até então não me tinha apercebido da importância daquilo que fazíamos com a displicência do quotidiano.
E não o esqueci até hoje!
Não foi há sessenta anos, mas foi há coisa de quarenta, ainda a preto e branco.

Imagem: edit by me

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