domingo, 4 de agosto de 2019

Um retrato ocasional - Sofia




“Desculpe, mas… dá-me um cigarro?”
Parei, rodei e olhei para ela. Não lhe via os olhos, que o espelhado dos óculos não o permitiam, mas não resisti.
“Troco!”
“Desculpe?”
“Troco. Um cigarro por uma fotografia sua.”
“Mas… Porquê?”
“Porque lhe acho graça ao rosto e gosto disso que tem posto no nariz.”
“Ah. Está bem.”
Fizemos o negócio, dando-lhe o que me pedira e pedindo-lhe eu de seguida para tirar os óculos. Claro que não disse que queria ver os olhos, mas pareceu-me óbvio.
No final, perguntou-me o que faria com a foto e respondi-lhe que, se me autorizasse, a publicaria no Facebook. E quis saber como a encontraria, pedindo-me o contacto que anotou.
Em troca, perguntei-lhe:
“E qual a sua graça?”
Franziu o nariz, nem sei em que pensando, e emendei de imediato: “Quer dizer, qual o seu nome?”
Sorriu e disse-mo.
A asneira foi minha: nunca usar termos mais arcaicos com uma jovem nascida na época das intermetes.

Nota adicional: a objectiva que vou usando por estes tempos, uma 50mm f/1,2, não é a ideal para estas coisas, mas lá me vou ajeitando como posso.



By me

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