quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Câmaras




Ao contrário de uma câmara de reverberação, onde acontecem ecos ou reprodução de sons com atrasos controlados, a câmara anecóica é um espaço onde não há sons.
Melhor dizendo, é um espaço onde não penetram sons mas que também não ecoam os sons que lá se possam produzir, como os do próprio corpo. Há quem lhe chame de câmara surda.
E não é fácil estar no seu interior, existindo apenas os sons que o próprio produz, sem ecos. O silêncio absoluto, o “zero som” é muito mais incomodativo que a escuridão total. Que o ser humano não produz luz mas produz som, dos zumbidos dos ouvidos ao batimento cardíaco.
Dizem os especialistas que estar numa câmara anecóica perfeita é uma experiência terrível, onde o mais resistente aguentou uma hora, não mais.
Como complemento a esta experiência, recorde-se que nascemos “cegos”, vindos de uma existência sem luz mas onde o som chega, e que o último dos cinco sentidos a desvanecer-se é o da audição.
Por mim, que sou um ser da imagem (real e luminosa ou mental) o som é um complemento à existência. Mas, com qualquer outro ser vivo, o silêncio total (e já estive numa câmara surda) é algo difícil de viver.
Em qualquer dos casos, e para os citadinos, é uma experiência sui generis estar no campo a “ouvir o silêncio”. Ou em plena urbe, de noite e na rua, durante um apagão eléctrico, onde todas as máquinas param, deixando de produzir sons ou vibrações. Dos ares condicionados aos frigoríficos e aparelhos de comunicações.
E, ao fim de um pedaço nestas condições, acabamos por ser nós mesmos a produzir qualquer som audível, para fugir ao silêncio incomodativo. Trauteando uma modinha, por exemplo. Ou o clássico “assobiar no escuro”.
Podemos fechar os olhos e fugir a informações visuais. Dificilmente suportamos o silêncio ou as “agressões” sonoras.
Num mundo onde a imagem impera, fruto das actuais tecnologias, é bom não esquecermos isto.

Imagem roubada da net
By me

Sem comentários: