Leio um artigo sobre fotografia de “eventos”. Aniversários,
casamentos, etc.
Começa ele com: “Festa é sinónimo de alegria, descontracção,
união, lindas decorações e muitos sorrisos espontâneos, não é mesmo? Mas o que
seriam esses momentos se eles não fossem eternizados? Parte fundamental de
qualquer evento, a fotografia só tem ganho status com o passar dos anos. É ela
a responsável por trazer tudo à tona novamente para ser curtido e
compartilhado.”
Eu sou fotógrafo. Pelo menos gosto de me pensar assim. Não
ganho a vida com ela, mas encho a alma com ela.
Mas uma coisa eu garanto: aquilo que não fica na minha
memória do que vivo a cada instante não se torna mais importante por ser
fotografado.
Quando precisamos de fazer registo material das vivências
para que as não esqueçamos, isso significa que o que vivemos tem pouca
importância. Por si mesma ou porque outros acontecimentos vieram relativizar os
significados e/ou importâncias.
Indo um pouco mais longe, a futilidade dos dias que correm,
o termos que dar importância pública a cada acontecimento ou correndo o risco
de sermos menorizados pelos que connosco o viveram, torna-nos ávidos coleccionadores
de memórias fosfóricas, relegando bem para segundo plano a capacidade de
recordar mais tarde o que não foi registado. A nossa vida, com essa avidez da
fotografia de cada instante, acaba por ficar resumida ao que foi fotografado,
ao fazermo-nos fotografar, ao que vemos que outros fotografaram. E aquele
sorriso lindo mas fugaz, aquele paladar subtil mas inebriante, aquele som que
se ergueu no meio da cacofonia ambiente… tudo isso perde importância. Por muito
belo que seja. Confiamos a nossa memória ao auxiliar visual do instantâneo,
ignorando os instantes significativos que vivemos.
Repito que quem escreve estas linhas faz da fotografia um
dos alimentos da alma.
By me
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