Eram as minhas primeiras férias enquanto trabalhador. Tinha
assinado contrato no ano anterior e o desejo de mochila às costas e interrail
na mão concretizava-se.
Embarquei sozinho em Santa Apolónia com destino a Londres,
onde tinha previsto e agendada uma visita a uma famosa empresa do meu ramo. O
resto do tempo seria um errar pela ilha, com alguns pontos e rotas pensados mas
nenhum rigidamente definido.
Claro que os jovens, mesmo que viagem solitários, acabam por
se agregar. E foi o caso. Algures entre Coimbra e a fronteira já quase todos
haviam mudado de compartimentos na longa composição, juntando-nos por empatias
insuspeitas.
Acabei por seguir até Paris com Americanos, Brasileiras e
Suecos. Grupo que se desfez na passagem para França, que a mudança de bitola
ferroviária implicava mudança de comboio e o nosso estava particularmente
atrasado. Nada que espante então ou agora.
Em qualquer dos casos, e para além das demais peripécias
dessa viagem inicial, recordo o contacto íntimo com uma canção.
Recém-lançada então no Brasil, duas das brasileiras
conheciam-na de cor, letra e música. Por cá era ainda pouco conhecida, que os
mercados musicais não são como os de hoje e a internet ainda era uma utopia só
por alguns raros sonhada.
Juntei a minha harmónica ao violão de uma delas e foi o que
aprendemos, tocámos e cantámos ao som do pouca-terra. Gente de aquém e além
mar, falantes de português ou não, que fomos tratando de traduzir a letra na
medida do possível para americanos e suecos. A força da música, mesmo que desafinada
como foi tocada, junto com a enormidade da força da letra, fez com que todas as
arestas se limassem. Depois…
Bem, depois foi o que se sabe da história da música e o que
não se sabe do destino daqueles oito que ocuparam aquele compartimento mais uns
quantos que a nós se juntavam pela música, pelos comes e pelos bebes que, sem
restrições de qualidade ou quantidade, íamos partilhando.
O tema musical? “Geni e o Zepelim”, criado e interpretado
pelo magnífico e agora honrado Chico Buarque.
Por cá, então, o seu tema que marcava pela mensagem directa
e inconfundível, era o “Tanto mar”. Belo e bem datado, uma espécie de
agradecimento, elogio e pedido de ajuda política ao “país irmão”.
Mas o “Geni e o Zepelim” ultrapassarão fronteiras e
calendários na memória colectiva e na minha. Tal como “Mulheres de Atenas”.
Hinos que ainda hoje estão actuais.
Imagem roubada da net
By me
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