O país está furioso com o homem!
Fazem-se campanhas contra os produtos que negoceia,
protesta-se sobre o ter-se rido no parlamento, exige-se que pague o que deve,
tiram-se-lhe as condecorações.
O país está furioso com o homem! A quem chamam de Joe Berardo,
sem saberem que “Joe” não é o seu nome de baptismo.
No entanto fico sem saber se a fúria nacional, da populaça e
dos importantes, se prende com a dívida e o desplante se contra os próprios
furiosos. Se por ele os ter enganado se por eles terem deixado serem enganados.
É que, convenhamos, quando Berardo estava na mó de cima, com
direito a entrevistas televisivas, homenagens presidenciais e inaugurações pomposas,
não me recordo de ter ouvido ou lido sobre a origem da sua fortuna. Mesmo hoje,
procurando na net, o mais que encontro é que saiu da Madeira pobre, foi para a
África do Sul e fez fortuna em negócios. Destes, fala-se de umas minas, de uns
hoteis, de um banco e pouco mais. Ah, e de ligações ao poder do Aparthaid. E,
por cá, investimentos em bolsa. Enormes investimentos em bolsa.
Da lisura dos seus negócios, da forma como os seus lucros
fabulosos surgiram, nada se diz. Discreto e opaco.
No entanto, quando regressou, qual filho pródigo, com
dinheiro a rodos e obras de arte de encher olho, todos o veneraram. E, púdica e
economicamente correcto, trataram de não aprofundar as reais origens. Não fora
elas estragarem a festa do herói.
Agora, que se lhe descobriu a careca, que os seus esquemas
correram menos bem ou que os bancos, aflitos com os seus negócios menos rentáveis,
decidiram cobrar o que lhes fazia buracos nas contas, o bestial passou a besta.
E os cidadãos, anónimos ou de nomeada, escolheram-no como
bode expiatório, como inimigo número um, como o culpado de todos os males.
Esquecendo-se que um especulador ou um vigarista, um bom especulador ou um bom
vigarista, não pede aos outros para entrarem nos seus negócios: encontra formas
de as vítimas pedirem encarecidamente para neles participarem, com os olhos
encadeados com a gula do lucro fácil e sem se preocuparem muito com a
legitimidade daquilo em que se envolvem.
“Joe” Berardo foi um herói e agora é um proscrito. Elevado a
herói pelo poder e pela populaça, agora amaldiçoado pelo poder e pela populaça.
E a raiva que dele se tem prende-se mais ao facto de o poder e a populaça se
ter deixado enganar, qual vítima do conto do vigário, que pelas dívidas que ele
possui.
Cada acção contra “Joe” Berardo, institucional, legal ou
popular, é um escapismo contra a inocência ou esperteza saloia de todos nós.
Que não gostamos de ser enganados, a menos que lucremos com isso. E gostamos
menos ainda que o vigarista (perdão, o empresário e especulador), nos olhe nos
olhos e com um sorriso, nos acuse de palpavos.
By me
Imagem roubada da net
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