Esta história tem já uns oito anitos, mas nesta coisa de tradições
natalícias tem cabimento.
Eu estava encostado ao balcão do café da minha rua, à espera
do “banheira e hambúrguer”, código privado ali criado para um café cheio e um
pão de deus com queijo e manteiga. Rotinas.
Entrou um dos carteiros que faziam a rota da rua em que
morava. Eram três, à vez, e conhecia-os de trocarmos uns dedos de conversa
sobre trivialidades como o tempo, ou fotografia com um deles.
Depois de entregar a correspondência para ali destinada,
olhou para mim e comentou:
“Ainda bem que o vejo, que andava a pensar em si. Tenho aqui
uma coisa que acho que lhe é destinada.” E metendo a mão no pesado saco retirou
uma caixa cúbica, aí com uns 20 cm de lado. “Vem do estrangeiro, parece-me”.
Fixe! Baril! Ganda pinta! Afinal o tipo das barbas brancas
também recebe encomendas do Polo Norte!
Bem, não seria do Polo Norte, mas tão só do norte, da Grã
Bretanha para ser exacto. Mas era lá de cima, do norte e do frio, prontos.
Acrescentou o bom do homem que a letra correspondente ao
apartamento não estava bem legível e que poderia ter várias interpretações. E
que, em o comentando com colegas lá na central de distribuição, um deles alvitrara
que poderia ser para mim, o tipo das barbas e da fotografia. E era, mas achei
graça que os carteiros me conhecessem pelo nome num bairro dormitório suburbano
e num prédio com 96 apartamentos.
Dentro da caixa, que abri logo ali, estava isto: uma bela de
uma objectiva fotográfica.
A sua alcunha era “travelling 28” e era propriedade de um
membro de um grupo de fotografia na web de que eu fazia parte. E fora proposto
que esta banal 28mm circulasse pelos membros aderentes ao desafio e que cada um
fotografasse com ela. Em terminando o périplo regressaria ao dono.
Quando aceitei o desafio imaginei algumas a fazer, nos
quinze dias em que “brincaria” com ela, pese embora possuísse uma quase igual,
apenas um nico mais antiga. E estava a reservar-me para ela, que não tinha
graça subverter um projecto colectivo como este.
Não recordo já para quem a enviei em terminando o prazo: ou
foi para um Islandês, o único com esta nacionalidade no grupo, ou foi para um
Australiano, terminando comigo a aventura europeia da “travelling 28”.
Em qualquer dos casos, sei que passados meses regressou a
seu dono, numa fraternidade rara nos tempos que correm, entre gente que apenas
se conhecia das trocas de mensagens e experiências num fórum global.
Fosse como fosse, e como natal é quando um Homem quiser,
naquele ano chegou mais cedo, no café, e abri a prenda antes da data habitual.
Boas festas com ou sem prendinhas.
By me
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