terça-feira, 7 de março de 2017

O cinzeiro



Há uns anos comprei este cinzeiro. Foi barato e veio de uma dessas lojas de inutilidades de que os centros comerciais estão cheios.
O que é interessante é que o comprei e usei que não para receber cinza ou pontas de cigarros.
Serviu, antes sim, e para além de objecto fotografado, como estimulador de memória. Que muitos não terão.
Em tempos, era eu catraio e ainda não fumava, este tipo de cinzeiro era símbolo de posição social e só os possuía em casa que estivesse num patamar médio ou elevado ou muito aspirasse a tal.
Tive um tio que muito aspirou a tal. E tinha um cinzeiro destes em casa.
Claro está que ele, o cinzeiro, estava interdito ao sobrinho, não fora ele estragar o dito cujo com o constante premir a haste e ver rodar o prato logo abaixo.
Mão vão lá dizer a um petiz que este tipo de coisas não são para brincar! Bastava ver pelas costas a minha tia e logo eu punha aquilo a rodar. E logo era descoberto, que o barulho que fazia era inconfundível.
Passado um meio século, ou quase, eis-me na posse de um cinzeiro destes. Recordo que quando o comprei parecia o petiz que fui e a fazer subir e descer a haste e a rodar o prato coma mesma fúria de então e com um secreto temor que minha tia surgisse ali na ombreira.
Agora, que já não fumo, mais não fará que estar por aqui a avivar-me a memória ou ir para uma das caixas de inutilidades que tenho até que seja necessário para uma fotografia ou quejando.
Mas confesso que há pouco, quando dei por ele e decidi fotografá-lo, não resisti a por aquilo a trabalhar. E deliciar-me com o que via e o som que ouvia.

Traquinices!

By me 

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