Nota prévia:
Este texto e
fotografia estão aqui publicados não tanto pelas peculiaridades auto-biográficas
mas pela diversidade de formas de imagem que aborda, tanto nos suportes como
nos equipamentos.
É bom pensarmos,
de quando em vez, que há imagens que não vemos, que há imagens imaterializáveis
porque apenas cerebrais, que a ferramenta que usamos para nosso deleite ou ofício
pode ser usada para coisas bem mais elaboradas e importantes…
A imagem é muito
mais que apenas o premir do botão.
Quando perdi o uso
da vista direita, a coisa foi complicada.
Complicada pelo
facto em si, complicada porque foi difícil de fazerem o diagnóstico, complicada
pela perda da noção das três dimensões… difícil.
Um dos momentos
mais difíceis foi um exame.
A prescrição do médico
dizia “endoscopia oftálmica”. E eu, que sou um especialista em medicina como é
sabido, fiquei logo a imaginar que tipo de sonda usariam, onde entraria, que
espessura teria, como manteriam o globo ocular imóvel para o exame…
Aqueles dias que
anteciparam o exame foram mesmo complicados aqui na cabeça, com medos, suores
frios, insónias. A tal ponto que eu, que costumo ir de peito feito para o que
me espera, recorri a uma parenta para ir comigo.
Estava mesmo apavorado
com este exame.
No fim de contas a
coisa foi fácil e divertida: uns pingos para dilatarem a pupila até parecer a
foz do rio, um líquido contrastante no sistema circulatório e vá de
fotografarem a retina através da pupila, escancarada que estava. Como remate da
diversão, usaram uma Pentax MX igualzinha à que eu possuía, com motor e tudo. E
Kodak Tri-X, a mesma película em preto e branco que eu usava.
O resultado foi
isto que aqui vêem e que, não percebi o porquê, não foi conclusivo para o diagnóstico.
A resposta
definitiva foi-me dada mais tarde, noutra instituição e por outros médicos,
depois de terem estado cinco deles, à vez, de volta do aparelho para
ecografias, que não havia forma de chegarem a um consenso. Também neste exame não
gostei de ver tantos especialistas com tantas dúvidas.
A verdade é que,
por muitos exames que façamos na escola, aqueles que de um modo ou do outro
acabam por moldar o nosso futuro, nunca estamos completamente preparados para
os outros exames a que somos submetidos na vida.
Oftálmicos ou
outros.
By me
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