No início da TV,
as imagens que se viam em casa tinham apenas duas origens: ou registadas,
reveladas e exibidas em cinema ou em directo.
Noticiários,
teatro, musicais (clássicos ou populares), conversas, eram em directo, que o
registo magnético era ainda o futuro.
As automações não
existiam e quem operava os equipamentos tinha uma margem de erro mínima, que o
público daria pela coisa. Alguns ficavam aquém da margem de segurança, outros
iam muito para além, entrando no campo da genialidade.
Acontecia em
alguns musicais, ouvir-se o realizador dizer, pelo sistema de “ordens”: “Vai
Freitas, vai! Este é todo teu!”
E ele ia! Em plano
único, sentindo a música e as palavras, a câmara ia e vinha, da voz para os
instrumentos e volta. Sempre com a mesma objectiva e ângulo de visão, que as
zooms televisivas ainda não tinham chegado por cá.
O Amado Freitas e
a câmara no tripé dançavam unos como nenhum outro, num tango de
“nacional-cancenotismo” ou fado.
Quando entrei para
a RTP, já ele não operava. Era realizador. Mas ainda o vi, agarrado aos
equipamentos arcaicos do centro de formação, mostrando como se fazia. Único!
Hoje as coisas são
diferentes. O espectador já não é levado a passear-se pela música e seus
intérpretes. Aos saltos da montagem, com cortinas e Keys, a interpretação
visual da música é tão ou mais agressiva que os noticiários ou entrevistas.
Fazem-se
transmissões musicais pelo ritmo, esquecendo que também há melodia e harmonia.
Tratam-se todos por igual, nas salas de edição. A criatividade fica ali, nos
pontos de “in” e “out”, pelos menus importados e as transfigurações
electrónicas.
E a virtuosidade
de alguns, poucos, torna-se inútil porque não conforme com os cânones
consumistas.
Não que em outros
tempos é que fosse bom! Apenas que a quantidade submergiu a qualidade. Na
produção e no consumo.
Televisivo ou não!
By me
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