sábado, 14 de fevereiro de 2009

Que pena!


“Tenho pena de ti!” disse-lhe. E, com isto, a conversa quase que acabou.
Claro que ainda perguntou o porquê, ao que lhe respondi que se havia vendido ao sistema e ao cargo. E as que as posições que defendia uns anos antes, não muitos, sobre relações laborais e entre degraus da escala hierárquica se tinham invertido. Que os argumentos que defendia hoje com unhas e dentes eram exactamente aqueles que tinha contestado e combatido com o mesmo ou maior vigor então.
O que se ouviu em seguida foi um monólogo, que nenhum dos seus argumentos justificava o trabalho de lhes responder. Até porque conheço a pessoa em causa, há já quase 30 anos, que começamos mais ou menos ao mesmo tempo a trabalhar na mesma empresa.
Tal como conheço o seu percurso, o seu desejo de poder e as estratégias usadas para o atingir. Se é que se lhe pode chamar de “poder” o ser um chefe de turno, tendo hoje os incómodos das irregularidades de horário, tal como tinha tido anos a fio, mas sem nunca chegar a um posto onde as suas opiniões ou decisões cheguem a ser relevantes para o que fazemos o global da empresa. Poder-se-à comparar a um “capatazinho” que nunca passará de dar ordens àqueles com quem, anteriormente, as contestava.

É desta mesquinhes, deste espírito tacanho, deste desejo de poder, não tanto de construir mas tão só de dar ordens e ser obedecido, que este país está empestado.
A ambição individual e restrita, em que o que mais conta são os seus objectivos e nunca os do grupo em que se insere. E em que as opiniões e argumentos se ajustam em função do poder (real poder de decisão), agradando-lhe e subserviendo-lhe por ser poder e não pela sua validade.

Vamos ficando cada vez menos numerosos. Os que mantemos coerência de raciocínio e de ideais, sem que isso signifique obstinação ou impedimento de mudança de rumo.
Que pena!


Texto e imagem: by me

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