Todos temos as nossas rotinas, umas mais arreigadas, outras nem por isso.
No que toca à escrita, e a menos que seja coisa pouca, gosto de escrever à mão o trabalho inicial. O fluir do aparo no papel, esticando a tinta em símbolos nem sempre muito legíveis, permite-me que as ideias se estiquem o que lhes apetecer. A formalidade da ortografia e uma eventual reorganização de conteúdos e formas ficam para depois, para o teclado.
Em princípio, qualquer caneta ou lápis e papel servem para escrever. Mas sabemos todos que não é assim. A ergonomia da caneta, a suavidade com que escorrega na superfície virgem, a cor e a espessura do traço… Com tudo isto acabamos por criar uma intimidade equiparável à que temos com um par de sapatos já bem usado.
Quanto ao papel, habituei-me a um tipo de bloco de apontamentos:
Reciclado, por motivos ecológicos; formato A5, que cabe no bolso da maioria dos coletes que uso e ocupa pouco espaço nas pequenas mesas de café; com argolas pequenas no topo e de capa rígida, o que permite escrever no espaço acanhado de um banco de comboio em cima do joelho, na verdadeira acepção da palavra.
Estas características do bloco de apontamentos não o tornam comuns nas lojas. Conheço, em Lisboa, apenas duas ou três que as possuem, bem como um ou dois supermercados. Se acontece passar por um desses locais, vou lá meter o nariz e, em havendo, tragos uns quantos. Três ou quatro, que quase tenho vergonha de trazer mais. A palavra “açambarcamento” é das que me incomoda e que me recorda outros tempos e vivências.
Mas quando acontece esgotar as páginas em branco de um e encetar outro, a primeira linha da primeira página é sempre a mais difícil de escrever.
Por muito que as ideias me flutuem na cabeça e estejam ali, mesmo na ponta do aparo, esta estreia é sempre um pouco a medo, quase como que se não valesse a pena sujar as páginas branco amareladas, cheias de linhas azuis que servirão de guia à caligrafia desajeitada. Tão bonitas que são e eu a suja-las!
Mas, passado um pouco, forçando-me à escrita, deixo-me levar. É quase como aqueles bolos de aniversário, decorados e lindos de ver, que apelam às sensações gustativas e quase nos entristecem de cortar e estragar.
O que acaba por ter graça é o empilhar dos blocos usados. Em cada um que enceto coloco um número na capa, não vá acontecer necessitar de um qualquer apontamento perdido mais tarde. Mas a pilhas dos escritos vai aumentando sem que neles toque, passando de uma singela a várias e pesadas, e, com o passar a limpo electrónico quase que me pergunto porque motivo os guardo. Não são trabalhos acabados, não sei sequer se conseguirei ler os gatafunhos que lá deixei…
Em qualquer dos casos, vão ficando, papel e tinta. E argolas. As das rotinas criadas e onde nos vamos refugiando.
Texto e imagem: by me
No que toca à escrita, e a menos que seja coisa pouca, gosto de escrever à mão o trabalho inicial. O fluir do aparo no papel, esticando a tinta em símbolos nem sempre muito legíveis, permite-me que as ideias se estiquem o que lhes apetecer. A formalidade da ortografia e uma eventual reorganização de conteúdos e formas ficam para depois, para o teclado.
Em princípio, qualquer caneta ou lápis e papel servem para escrever. Mas sabemos todos que não é assim. A ergonomia da caneta, a suavidade com que escorrega na superfície virgem, a cor e a espessura do traço… Com tudo isto acabamos por criar uma intimidade equiparável à que temos com um par de sapatos já bem usado.
Quanto ao papel, habituei-me a um tipo de bloco de apontamentos:
Reciclado, por motivos ecológicos; formato A5, que cabe no bolso da maioria dos coletes que uso e ocupa pouco espaço nas pequenas mesas de café; com argolas pequenas no topo e de capa rígida, o que permite escrever no espaço acanhado de um banco de comboio em cima do joelho, na verdadeira acepção da palavra.
Estas características do bloco de apontamentos não o tornam comuns nas lojas. Conheço, em Lisboa, apenas duas ou três que as possuem, bem como um ou dois supermercados. Se acontece passar por um desses locais, vou lá meter o nariz e, em havendo, tragos uns quantos. Três ou quatro, que quase tenho vergonha de trazer mais. A palavra “açambarcamento” é das que me incomoda e que me recorda outros tempos e vivências.
Mas quando acontece esgotar as páginas em branco de um e encetar outro, a primeira linha da primeira página é sempre a mais difícil de escrever.
Por muito que as ideias me flutuem na cabeça e estejam ali, mesmo na ponta do aparo, esta estreia é sempre um pouco a medo, quase como que se não valesse a pena sujar as páginas branco amareladas, cheias de linhas azuis que servirão de guia à caligrafia desajeitada. Tão bonitas que são e eu a suja-las!
Mas, passado um pouco, forçando-me à escrita, deixo-me levar. É quase como aqueles bolos de aniversário, decorados e lindos de ver, que apelam às sensações gustativas e quase nos entristecem de cortar e estragar.
O que acaba por ter graça é o empilhar dos blocos usados. Em cada um que enceto coloco um número na capa, não vá acontecer necessitar de um qualquer apontamento perdido mais tarde. Mas a pilhas dos escritos vai aumentando sem que neles toque, passando de uma singela a várias e pesadas, e, com o passar a limpo electrónico quase que me pergunto porque motivo os guardo. Não são trabalhos acabados, não sei sequer se conseguirei ler os gatafunhos que lá deixei…
Em qualquer dos casos, vão ficando, papel e tinta. E argolas. As das rotinas criadas e onde nos vamos refugiando.
Texto e imagem: by me
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