Leio num artigo do New York Times de hoje que as indulgências estão de volta em força.
Para quem não saiba, as indulgências no seio da Igreja Católica Apostólica Romana são uma forma de perdoar os pecados cometidos. Que, para além do acto da confissão e da prática de alguns rituais (orações ou outros), passa por pagamentos em dinheiro. No artigo refere-se que se trata de donativos à igreja mas, em qualquer dos casos, é um pagamento em dinheiro para perdoar pecados cometidos.
Este ressurgir das indulgências é uma tentativa de fazer regressar ao redil o rebanho perdido. De novo se fala na salvação numa vida para além da morte, de promessas que tendem a compensar o que de mau podemos ir passando nesta vida terrena.
É também um fazer regressar aos hábitos a confissão. Que qualquer psicólogo ou terapeuta lembrará que é uma forma de aliviar o peso da consciência, um saber o errado cometido e um eventual assumir interior de uma espécie de promessa de não o repetir. E de criar uma terrível dependência entre quem confessa e o confessor.
Mas também uma forma de punição, ainda que voluntária. A imposição do acto de rezar e o abdicar de bens terrenos, quiçá obtidos a duras penas, em prol de uma existência pacífica no paraíso prometido. E fuga ao inferno ou purgatório. Como quem paga uma multa por excesso de velocidade.
Curioso é que, após cumprir os rituais de confissão, arrependimento e punição, fica-se livre, ou quase, para repetir os pecados. Que, da próxima ida à igreja, seremos perdoados de novo.
Mas, no meio de tudo isto, sobrevive sempre o mesmo aspecto: a culpa. Somos sempre culpados, instigados a arrependemo-nos dos nossos pecados, mesmo que deles não tenhamos consciência plena. O crime e o castigo!
E este conceito culposo e de como o arrependimento e a confissão podem aligeirar o castigo passou da religião e práticas religiosas para a prática civil ou laica, aplicado que está na justiça.
Aquele que infringe os códigos de conduta, confessa o crime e mostra arrependimento é alvo de uma punição menor. Vejam-se os “arrependidos” nos casos mediáticos e de como são alvo de estatuto especial. Ou como, no proferir da sentença, os factores “mostrar arrependimento” e “colaboração” faz enquadrar a pena nos patamares inferiores das previstas por lei.
Aliás, se analisarmos as culturas judaico/cristãs/islâmicas, constataremos que, tanto nas orientações religiosas como nos códigos de conduta civis, se baseiam nas proibições! E nos seus castigos!
A organização destas sociedades orienta-se para impor, impedir e encarreirar comportamentos e relações. E de punir, por vezes de formas terríveis, quem disso se desviar. É uma organização social castrante, conservadora, impeditiva de evolução e de livre-pensar.
Que o pecado ou mesmo o crime passa também pelo pensamento!
O raciocínio e os actos de autonomia em relação às regras, religiosas ou não, são puníveis, nesta ou noutra vida.
Desses pecados arrependam-se, confessem e penitenciem-se! E paguem!
Aceita-se em dinheiro, cheques ou cartão de crédito!!!!!!!!!!!!
Texto e imagem: by me
Para quem não saiba, as indulgências no seio da Igreja Católica Apostólica Romana são uma forma de perdoar os pecados cometidos. Que, para além do acto da confissão e da prática de alguns rituais (orações ou outros), passa por pagamentos em dinheiro. No artigo refere-se que se trata de donativos à igreja mas, em qualquer dos casos, é um pagamento em dinheiro para perdoar pecados cometidos.
Este ressurgir das indulgências é uma tentativa de fazer regressar ao redil o rebanho perdido. De novo se fala na salvação numa vida para além da morte, de promessas que tendem a compensar o que de mau podemos ir passando nesta vida terrena.
É também um fazer regressar aos hábitos a confissão. Que qualquer psicólogo ou terapeuta lembrará que é uma forma de aliviar o peso da consciência, um saber o errado cometido e um eventual assumir interior de uma espécie de promessa de não o repetir. E de criar uma terrível dependência entre quem confessa e o confessor.
Mas também uma forma de punição, ainda que voluntária. A imposição do acto de rezar e o abdicar de bens terrenos, quiçá obtidos a duras penas, em prol de uma existência pacífica no paraíso prometido. E fuga ao inferno ou purgatório. Como quem paga uma multa por excesso de velocidade.
Curioso é que, após cumprir os rituais de confissão, arrependimento e punição, fica-se livre, ou quase, para repetir os pecados. Que, da próxima ida à igreja, seremos perdoados de novo.
Mas, no meio de tudo isto, sobrevive sempre o mesmo aspecto: a culpa. Somos sempre culpados, instigados a arrependemo-nos dos nossos pecados, mesmo que deles não tenhamos consciência plena. O crime e o castigo!
E este conceito culposo e de como o arrependimento e a confissão podem aligeirar o castigo passou da religião e práticas religiosas para a prática civil ou laica, aplicado que está na justiça.
Aquele que infringe os códigos de conduta, confessa o crime e mostra arrependimento é alvo de uma punição menor. Vejam-se os “arrependidos” nos casos mediáticos e de como são alvo de estatuto especial. Ou como, no proferir da sentença, os factores “mostrar arrependimento” e “colaboração” faz enquadrar a pena nos patamares inferiores das previstas por lei.
Aliás, se analisarmos as culturas judaico/cristãs/islâmicas, constataremos que, tanto nas orientações religiosas como nos códigos de conduta civis, se baseiam nas proibições! E nos seus castigos!
A organização destas sociedades orienta-se para impor, impedir e encarreirar comportamentos e relações. E de punir, por vezes de formas terríveis, quem disso se desviar. É uma organização social castrante, conservadora, impeditiva de evolução e de livre-pensar.
Que o pecado ou mesmo o crime passa também pelo pensamento!
O raciocínio e os actos de autonomia em relação às regras, religiosas ou não, são puníveis, nesta ou noutra vida.
Desses pecados arrependam-se, confessem e penitenciem-se! E paguem!
Aceita-se em dinheiro, cheques ou cartão de crédito!!!!!!!!!!!!
Texto e imagem: by me
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