sábado, 28 de fevereiro de 2009

Diaphoto


Fotografar é medianamente fácil. Olhamos para o assunto, gostamos do que vemos, a luz é do nosso agrado e apontamos a câmara. E deixamos o controlo de exposição aos automatismos.
Alguns, não muitos, interpretam ou avaliam as indicações do exposímetro da câmara, seguindo as usas indicações ou conjugando as leituras com a análise da luz existente, bem como das reflectâncias dos elementos na imagem.
Mas… e antes de haver forma de avaliar e medir a luz através da câmara? Como era?
Usavam-se aparelhos de medida, manuais e externos: fotómetros ou exposímetros.
A diferença entre os termos (e sei que o segundo é estranho) está nas leituras que neles podemos fazer. Os fotómetros indicam-nos a quantidade de luz em “foot-candle”, ou “candela por pé quadrado”, havendo alguns que usam outra unidade, o “Lux”. Dessa leitura, e conjugada com a sensibilidade do material de registo luminoso, deduz-se tempo e abertura. Através de cálculos complexos ou, o que é generalizado, usando uma escala de correspondências integrada no aparelho.
Por sua vez o exposímetro apenas nos dá valores de exposição, ficando o seu utilizador sem saber a quantidade de luz. Profissionalmente usam-se os primeiros, que nos permitem fazer outros tipos de interpretação.
Grosso modo, destes aparelhos de medida existem dois tipos: os que, ao receberem a luz geram energia que é quantificada ou os que, em recebendo a luz se tornam resistentes à passagem de energia, resistência essa igualmente quantificada. Nos segundos, é necessário fornecer a energia, em regra usando pilhas ou baterias.
Ambos os sistemas têm vantagens, sendo que os últimos são mais exactos quando existem tipos de luz com temperaturas de cor extremas: muito altas ou muito baixas.
Mas… e como faziam os fotógrafos antes destes sistemas existirem? Como mediam a luz ou calculavam a exposição?
A experiência, fruto de tentativa e erro, era a pedra de toque. Consta que alguns fotógrafos, aquando do surgimento dos aparelhos de medida de luz, mesmo depois de os usarem ajustavam as leituras obtidas às suas próprias experiências visuais e de laboratório. Convenhamos que o rigor seria diminuto, mas a satisfação por se obter o efeito desejado seria grande, certamente.
Mas existia outro sistema que, ainda que dependesse da experiência do seu utilizador, era um auxiliar precioso: o extintómetro.
O seu sistema de funcionamento era relativamente simples: Olhando-se por um orifício, fazia-se deslocar à sua frente uma cunha fumada, cuja transparência ia da máxima até à opacidade. Quando o observador deixasse de ver parte do assunto, parte essa que dependia da calibração feita pelo fabricante, consultava-se a tabela do aparelho para se saber a relação tempo-abertura em função da sensibilidade.
Método estranho e de rigor bem duvidoso, mas na época fotografar, mais que uma ciência, era uma arte ou artesanato, com tudo o que isso implica.

Ao longo da minha vida havia visto apenas um aparelho desses. Em óptimo estado de conservação, ainda razoavelmente rigoroso, pertencia a um companheiro de andança fotográficas e lectivas. Que nunca se deixou convencer a vender-mo, ofertar-mo ou mesmo deixar-se “roubar”. Quando ia a sua casa, fica eu a admira-lo, se não estivesse rigorosamente guardado numa gaveta.
Eis que, numa feira de velharias no Jardim da Estrela, dou com um. Ao preço pouco mais que simbólico de 15 euros. Confesso que se me tivessem pedido 3 ou 4 vezes esse valor, tê-lo-ia dado sem pensar muito.
Nos tempos que correm, nem deu muito trabalho a encontrar referencias. Referencias ao fabricante e data de fabrico, bem como o respectivo manual de instruções. AQUI.
Para os que ainda pensavam que o jardim da Estrela não é um mundo cheio de surpresas, espero que tenham mudado de opinião.


Texto e imagem: by me

Discussão


A notícia não era nova. Vinha nos jornais da véspera e tinham decidido fazer uma reportagem sobre o tema.
Falava ela da falta de honestidade de alguns motoristas de táxi e de como eles se aproveitam da falta de conhecimento das regras e tarifas para abusar no que querem cobrar em extras aos passageiros incautos.
Tão velho quanto a existência de táxis numa qualquer cidade!
O meu colega, sentado a meu lado naquela madrugada, explodiu! Mas de forma alguma como eu esperaria!
Explodiu contra a reportagem, contra a Deco que havia promovido o estudo, contra o como isto impede os taxistas de ganharem a vida, já de si bem difícil.
De pouco adiantou tentar explicar-lhe que, fosse qual fosse o ponto de vista para abordar o tema, tratava-se sempre de um roubo ou burla ou qualquer outro termo. Mas que de forma alguma se poderia dizer que esses taxistas, que não são a maioria saliente-se, não o estão a fazer honestamente.
A argumentação passou, a dado passo, para que aos passageiros, em regra turistas, esses dois ou cinco, ou mesmo dez euros a mais não fariam diferença, pouco mais seriam que trocos, enquanto que para o taxista seria o que o poderia fazer dizer que tinha valido a pena trabalhar naquele dia e com aquela “corrida”.
Claro que, quando lhe perguntei qual a quantia a partir da qual era uma desonestidade, meteu as mãos pelos pés e não pôde responder algo que se visse. Mas ficou na sua: Cada um que se safe como puder e os outros que se acautelem!
No final ainda fiquei a pensar se seria este de quem tinha sabido ser filho de motorista de táxi, mas não era!

São estas mentalidades, de quem pratica os actos e de quem os encobre, que fazem com que dificilmente este país algum dia sejam mais que um local pitoresco para visitar, onde há que ter cuidado com alguns dos nativos, mas que isso mesmo faz parte da aventura.
E eu, que aqui nasci, sou metido no mesmo saco desses “nativos”!
A que horas sai o próximo avião para a Patagónia?


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Clear


“I can’t see any reason why such miserable, unhappy, vicious, stupid, conniving, greedy, narrow-minded, self-absorbed beings should have immortality," he said in Science Fiction Review in 1975.
But he added, “When considering individuals, then I feel, yes, this person, that person, certainly deserves another chance.” Life on this planet, he said “is too short, too crowded, too hurried, too beset."
Philip José Farmer, in nytimes.com


Nas duas horas que faço questão de usar entre o “sair da cama”e o “sair de casa”, costumo usar a web para ler alguns jornais: Lisboa, Barcelona, Paris, São Paulo, Nova York, Londres, Santiago, e mais uns quantos. Não todos e todos os dias, mas vou dando uma olhada, lendo as “gordas” e detendo-me se estas ou o assunto me prendem.
Naturalmente que há secções em que não me detenho e, uma delas, é a do obituário. Não receio lá encontrar-me, mas não é assunto sobre o qual me debruce.
Mas hoje, vá lá saber-se o porquê, dei comigo a olhar para este espaço no NewYork Times. E dou com a notícia do falecimento de Philip José Farmer.
Provavelmente a maioria dos que estão a ler estas linhas desconhecem quem seja ou tenha sido. Mas alimentou parte dos mundos de fantasia da minha juventude como os seus romances de ficção científica. Numa época em que poucos me escapavam, dos editados por cá e até alguns que não em língua lusa.
Nos mundos que ele criou mergulhei e viajei, melhor que internauta na web, absorvendo as fantasias e magias que havia criado.
Sei que era agnóstico e que as linhas que encimam este texto foram proferidas há trinta e tal anos. Não posso deixar de concordar com o que disse.
E não tenho dúvidas, pelo que me permitiu sonhar e voar, que é dos que merecem outra oportunidade!


Clear and reset!



Texto e imagem: by me

Just for the fun


With a new toy

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Obscenity 2


I am sorry, but I will not translate this text, even if I have written the first one on this subject in English. Mainly because I got up at 3.30 am so that I could be at work on time. Please read the previous post and you will find there, briefly, my ideas about this.



Acredito que não me tenha feito entender com o texto publicado no post anterior. Vejamos se consigo explicitar as minhas ideias.

Tenho para mim que não há objectos bons ou maus. O que poderá ser classificado será o seu uso, dado pelos humanos que com eles interajam.
Donde, entendo não haver fotografias ou pinturas boas ou más. Neste caso o que poderá ser classificado será a interpretação ou leitura que delas se façam. As mensagens que possam fazer passar.
Donde, a fotografia ali apresentada não é classificável por si mesma mas tão só a mensagem que transmite ou aquilo que mostra. E, do meu ponto de vista, a guerra é algo de condenável, seja qual for a perspectiva que dela se possa ter. Não apenas é a imposição da vontade de alguém sobre outrem como os seus objectivos são alcançados se o vencedor infringir danos sobre o vencido. Por outras palavras, havendo mortes de seres humanos. Infligidas por outros seres humanos.
E isto eu entendo como pior que mau: o pior que a Humanidade pode fazer!
Na fotografia exibida lá não consigo ler nenhum tipo de censura ao acto bélico. Talvez que, antes pelo contrário, se possa ler um acto de heroísmo, em que, apesar de à sua frente estar a morrer gente, os restantes combatentes continuam na sua macabra actividade.
Entendo também não haver fotografias, ou fotojornalismo, isento! O simples facto de se obturar num dado momento, e não antes ou depois, depende sempre, e sempre, da opinião que o fotógrafo, ou fotojornalista, tem da acção que à sua frente se desenrola. Seja essa opinião pró ou contra esses factos. Acrescentem-se a perspectiva e o enquadramento, também eles resultado das opções técnicas, estéticas e de conteúdo, e teremos que todas as fotografias contêm mensagem e interpretação do fotógrafo. Ou do fotojornalista.

Quanto à pintura exibida, pouco terá, ela mesma, de pornográfica.
Sendo que Coulbert terá sido um dos percursores do realismo em pintura, este quadro será uma quase-fotografia. Dados os detalhes e a pose que nele encontramos.
Repare-se ainda que a mulher assim representada não está a agir. Não há ali um movimento ou gesto de defesa ou exibição. Mais não é que um corpo nu deitado.
Acontece, em contrapartida, que a posição mostrada será incomum de ver nas representações pictóricas. Por convenção ou tabu social, o sexo é escondido quer por vestes quer por posições corporais.
Quem quer que possa observar uma mulher nesta posição ao vivo, pertencerá a uma de poucas categorias: Alguém ligado a actividade de saúde, quer para tratamento quer para ajudar a um parto, ou um homem que se prepare ou tenha terminado o acto de amor – ou prática de sexo, se preferirem. Mas como a maioria das pessoas não pratica actos médicos ou apara bebés no nascimento, aquilo que vêm aqui reduz-se ao sexo. Aquilo que se pratica na intimidade, que todos praticam e que não o admitem que não seja por fanfarronice.
Acontece que o autor chamou a este quadro “O nascimento do mundo”, numa clara alusão à origem de cada ser humano. E que, para além de acontecer biliões de vezes, é das coisas mais belas da vida. E reverenciada ao longo da história, de todas as formas e em todas as culturas.
Qualquer maldade que possa existir neste quadro, diria eu, existe mais na mente de quem o vir e interpretar que naquilo que ali está expresso inequivocamente.
Acrescente-se, do ponto de vista da mensagem do autor e ao que me foi dado saber, que o pintor procurou, com temas e técnicas, abalar a sociedade, combatendo conceitos burgueses de então, os chamados “vícios privados, públicas virtudes”. Também soube, na pesquisa que fiz em torno deste quadro, que quando foi exibido foi fortemente criticado, pela técnica realista e pelo assunto tratado. O que significa que o objectivo do autor foi conseguido. Então e, ao que parece, hoje. O que poderá atestar da sua qualidade enquanto obra de arte.
Pela parte que me toca, também não o aprecio particularmente. Não o compraria para ter em casa nem me deteria por muito tempo a vê-lo onde quer que estivesse exibido. Mas não deixo de reconhecer que o seu autor conseguiu os seus intentos.

Para finalizar este tema, pelo menos por agora nestas linhas, gostaria de referir que o que por mim foi criticado ou elogiado no texto publicado não se refere à bondade ou maldade da fotografia ou da pintura enquanto objecto ou enquanto veículo de mensagem.
O que me incomodou no artigo de jornal onde li os factos relatados foi o acto censório por parte de autoridades policiais, supostamente apoiado por instituições judiciais e pela letra da lei.
Que entende como reprovável e passível de ser escondido do olhar do público o corpo humano em poses naturais, mas que permite impunemente o divulgar do macabro da guerra e da morte do ser humano por balas ou baionetas.
Acredito que estes agentes da ordem passariam inconsequentemente se na capa do mesmo livro estivesse “Guernica” ou “3 de Maio”, imagens retratando fiel ou subjectivamente, a barbárie da guerra.
Continuo entendendo que as imagens da morte de alguém às mãos do seu semelhante sejam uma Obscenidade. Não pela forma mas pelo conteúdo.


Texto: by me
Imagem: “3 de Maio”, by Goya, “A origem do mundo”, by Courbet, “clipart” algures na web, edit by me

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Obscenity


The picture on the left was done in France, during the World War I. It shows a French Officer dying during an assault to a German trench.
If you didn’t knew this photograph, I believe you know many and many others showing people dying at war. They can be seen in any book on history of photography, at the front page of news papers and, some times, on TV.
The picture on the right is a painting. It’s name is “The beginning of the world”, painted in 1886 by Gustave Courbet, France, and it can be see at D’Orsay Museum, in Paris. As well as in books about art and in some web-sites.

I call the photograph on the left an “Obscenity”. People shouldn’t die at the hands of men. And never this way!
Portuguese police, 3 policemen, judged the painting “pornography”, since it was the cover of a book about painting. And they seized all those books on that open market, in Braga, Portugal. Today, 2009-02-23.

Something is very wrong!
I don’t know if it’s me or the law!


Texto: by me

O lucro


Tipografo. Poeta. Acrata.
Qualquer ordem dos factores é arbitrária. Que todos eles detêm igual importância na vida deste octogenário.
Foram mais de três horas de conversa com este “velha-guarda”. O preço foi ter perdido a oportunidade de fazer, talvez, umas duas ou três fotografias para alem das dezassete com que fui para casa.
O lucro?
Para além da sua imagem? Para além de ter sido alvo da oferta de dois dos seus livros, edição de autor, e resultado de partos difíceis, fruto das lutas com editores e impressores? Para além de ter conhecido detalhes da vida de naturista? Ou de um ardina? Para além de ter sabido um pouco mais sobre, o antes o durante e o depois da revolução de Abril? Para além de ter mergulhado, lá e depois em casa, em conceitos filosóficos que desconhecia?
Não creio que negociante ou empresário algum lucrasse tanto em tão pouco tempo!

A sua imagem? Mantenho o recato que merece, aliás, para estar de acordo com o que pensa.


Texto e imagem: by me

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Portrait


Some times we have to forget our usual working system and change it.
Even if it was an “Oldfashion” day, those two deserved that the fake old box was forgotten and had a proper portrait done!

Jardim da Estrela
Eduardo, 19 anos, Estudante
Bruna, 16 anos, Estudante
Lisboa



By me

Um olhar


Mariana, by me

Ops!


Sobre conteúdo do artigo que se segue, copiado na íntegra, não farei nenhum comentário escrito. Não creio que tal seja necessário!


EUA: Obama recusa direitos constitucionais a detidos no Afeganistão
21 de Fevereiro de 2009, 03:09

Washington, 21 Fev (Lusa) - O Departamento de Justiça da administração Barack Obama decepcionou na sexta-feira os movimentos pelos direitos cívicos ao alinhar com a doutrina de George W. Bush de que os detidos no Afeganistão não têm direitos constitucionais.
Juristas do Departamento de Justiça disseram que a administração Obama concorda que os detidos na Base Aérea de Bagram, no Afeganistão, não podem recorrer aos tribunais dos EUA para contestarem a sua detenção.
Tal posição chocou juristas defensores dos direitos humanos. "A esperança que todos tínhamos de que o Presidente Obama nos conduzisse por uma via diferente não se concretizou como desejávamos", comentou Tina Monshipour Foster, uma advogada dos direitos humanos que representa um detido na Base Aérea de Bagram. "Esperávamos melhor."
A meio do ano passado, o Supremo Tribunal dos EUA deu a suspeitos da Al-Qaida e talibãs detidos na Base Naval norte-americana de Guantánamo, em Cuba, o direito a contestarem a sua detenção.
Com cerca de 600 detidos na Base Aérea de Bagram, no Afeganistão e milhares mais detidos no Iraque, os tribunais estavam na expectativa de saber se estes também teriam direito a contestar a detenção.
Três meses após a decisão do Supremo sobre Guantánamo, quatro cidadãos afegãos detidos em Bagram tentaram contestar as suas detenções no tribunal de Washington.
Os requerimentos alegavam que os militares dos EUA os haviam detido sem acusações e os tinham interrogado repetidamente sem meios de contacto com um advogado.
As petições foram apresentadas por familiares, uma que vez que eles não tinham meios de acesso ao sistema legal.
Os militares replicaram que todos os detidos são "combatentes inimigos".
A administração Bush defendeu, na contestação aos requerimentos, que o estatuto de combatente inimigo dos detidos de Bagram é revisto de seis em seis meses tendo em consideração informação classificada e o testemunho dos envolvidos na captura e interrogatório.
Após a administração Obama entrar em funções, um juiz federal deu à nova administração um mês para decidir se queria ou não manter a argumentação legal anterior.
O porta-voz do Departamento de Justiça, Dean Boyd, confirmou a manutenção da doutrina.
"Aderiram à doutrina Bush de que se pode criar prisões fora da lei", observou Jonathan Hafetz, um advogado da ACLU (União Americana para as Liberdades Cívicas) que representou diversos detidos.
O Departamento de Justiça argumenta que Bagram é diferente de Guantánamo porque se trata de uma zona de guerra no exterior do país e os prisioneiros são ali mantidos como parte de uma acção militar continuada.
O Governo sustenta que libertar combatentes inimigos na zona de guerra do Afeganistão ou mesmo fazer deslocar pessoal dos Estados Unidos para analisar os seus casos jurídicos pode ameaçar a segurança.
O Departamento de Justiça acrescenta que se os detidos de Bagram tivessem acesso aos tribunais, isso iria permitir que todos os detidos pelos Estados Unidos em conflitos por todo o mundo invocassem o mesmo direito.
Não é a primeira vez que a administração Obama utiliza um argumento legal da administração Bush depois de prometer revê-lo. Na semana passada, o "Attorney general" Eric Holder (que exerce uma função cumulativa de procurador-geral e ministro da Justiça) anunciou a revisão de todos os casos judiciais em que o Governo de Bush tenha invocado o privilégio de segredo de Estado, um instrumento legal que foi utilizado para impedir o prosseguimento de alguns processos.
No mesmo dia, no entanto, o procurador Douglas Letter invocou aquele privilégio ao pedir a um tribunal de apelo o arquivamento de um processo em que se acusava uma subsidiária da Boeing de ter ajudado ilegalmente a CIA a transportar suspeitos de terrorismo para países aliados onde foram torturados.
Douglas Letter disse que responsáveis da administração Obama aprovaram o argumento.
OM.
Lusa/fim



Texto :in Lusa.pt
Imagem: edit by me

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Léxico


Até há uns tempos atrás éramos tratados por cidadãos. Políticos, economistas, opinadores, referiam-se à população e a cada um dos seus elementos como cidadãos, apelando à cidadania.
Mas este apelo era bem mais dirigido às obrigações que aos direitos. E de tanto o usar, o conceito de cidadania quase passou a obscenidade e o título de cidadão a quase insulto. Apesar de ambos os termos serem, na sua essência, de significados belos e importantes.
Mas o politiquês e o economês mudaram. E de cidadãos fomos elevados à categoria de “família”. De cada vez que opinadores, políticos (em ascensão ou já instalados) ou economistas se referem à população usam o termo “Família”.
Não é inocente esta mudança de léxico! Ao pensar-se em “Família” de imediato se lhe associam as crianças e os idosos, aqueles que poderão ser os mais desprotegidos. E, ao lançarem-se leis, de cariz meramente político, económico ou social que abranjam as “famílias”, faz-se passar a ideia que foram criadas e aplicadas em favor dos mais fracos ou necessitados.
Ao invés do que acontece com o termo “cidadão”, que implica a participação activa na sociedade. Será difícil, ainda que eu o faça, que se considere uma criança de colo como cidadão. Ou um idoso acamado.
Com esta mudança de vocabulário que, muito curiosamente, é transversal a todos os quadrantes políticos, passam opinadores, políticos e economistas a assumir um papel de protectores da sociedade, defensores dos pobres e oprimidos. Tomam um lugar no topo da sociedade, com foros de paternalismo, como se estivessem à margem da vida real daqueles a quem se referem e sobre os quais opinam, decidem, legislam.

Mas esta expressão, usada para com os portugueses por parte da classe política, recorda-me uma outra expressão de muito má memória: “Deus, Pátria, Família”. A hierarquização da estrutura nacional, defendida e acarinhada pelo “Estado Novo” de Salazar.
E talvez não falte muito para que, no caminho descendente que tomamos e percorremos, cheguemos a algo equivalente. Que a censura, a devassa da vida privada e o castigo por delito de opinião já por aí andam, formal e legislado ou não tanto e sob a forma de medo já imposto nos cidadãos!


Texto e imagem: by me

Argolas


Todos temos as nossas rotinas, umas mais arreigadas, outras nem por isso.
No que toca à escrita, e a menos que seja coisa pouca, gosto de escrever à mão o trabalho inicial. O fluir do aparo no papel, esticando a tinta em símbolos nem sempre muito legíveis, permite-me que as ideias se estiquem o que lhes apetecer. A formalidade da ortografia e uma eventual reorganização de conteúdos e formas ficam para depois, para o teclado.
Em princípio, qualquer caneta ou lápis e papel servem para escrever. Mas sabemos todos que não é assim. A ergonomia da caneta, a suavidade com que escorrega na superfície virgem, a cor e a espessura do traço… Com tudo isto acabamos por criar uma intimidade equiparável à que temos com um par de sapatos já bem usado.
Quanto ao papel, habituei-me a um tipo de bloco de apontamentos:
Reciclado, por motivos ecológicos; formato A5, que cabe no bolso da maioria dos coletes que uso e ocupa pouco espaço nas pequenas mesas de café; com argolas pequenas no topo e de capa rígida, o que permite escrever no espaço acanhado de um banco de comboio em cima do joelho, na verdadeira acepção da palavra.

Estas características do bloco de apontamentos não o tornam comuns nas lojas. Conheço, em Lisboa, apenas duas ou três que as possuem, bem como um ou dois supermercados. Se acontece passar por um desses locais, vou lá meter o nariz e, em havendo, tragos uns quantos. Três ou quatro, que quase tenho vergonha de trazer mais. A palavra “açambarcamento” é das que me incomoda e que me recorda outros tempos e vivências.

Mas quando acontece esgotar as páginas em branco de um e encetar outro, a primeira linha da primeira página é sempre a mais difícil de escrever.
Por muito que as ideias me flutuem na cabeça e estejam ali, mesmo na ponta do aparo, esta estreia é sempre um pouco a medo, quase como que se não valesse a pena sujar as páginas branco amareladas, cheias de linhas azuis que servirão de guia à caligrafia desajeitada. Tão bonitas que são e eu a suja-las!
Mas, passado um pouco, forçando-me à escrita, deixo-me levar. É quase como aqueles bolos de aniversário, decorados e lindos de ver, que apelam às sensações gustativas e quase nos entristecem de cortar e estragar.

O que acaba por ter graça é o empilhar dos blocos usados. Em cada um que enceto coloco um número na capa, não vá acontecer necessitar de um qualquer apontamento perdido mais tarde. Mas a pilhas dos escritos vai aumentando sem que neles toque, passando de uma singela a várias e pesadas, e, com o passar a limpo electrónico quase que me pergunto porque motivo os guardo. Não são trabalhos acabados, não sei sequer se conseguirei ler os gatafunhos que lá deixei…
Em qualquer dos casos, vão ficando, papel e tinta. E argolas. As das rotinas criadas e onde nos vamos refugiando.



Texto e imagem: by me

Desabafo


Tenho para mim que é da variedade de opiniões que o conhecimento evolui. Tanto com opiniões concordantes como, e principalmente, com opiniões discordantes. Que será de conhecermos o que pensa quem de nós discorda -ou aqueles de quem discordamos – que podemos ter acesso a outras formas de pensar.
Por isto mesmo, tenho o hábito de ir dar uma olhada a espaços virtuais – blogs – de gente com quem não partilho boa parte daquilo que lá exprimem. E se, em regra, fecho essas páginas com a mesma opinião com que as abri, volta e meia tenho que dar a mão à palmatória e reconhecer que alguns dos pontos de vista ali lidos até têm algum fundamento. Mesmo que com eles possa não concordar. E fico bem mais rico no que sei ou julgo saber.

Tem sido o caso do blog de alguém que está ligado ao mundo do fotojornalismo. Não apenas exerce o ofício numa empresa de comunicação social de relevo neste país, aí ocupando um lugar de destaque, como emite opiniões sobre esse mesmo mundo da fotografia.
As mais das vezes não consigo concordar com o que lá é exposto. Tanto sobre fotografia como sobre a sociedade. Tem o seu autor uma visão diametralmente oposta à minha, o que lhe é legítimo e salutar. E nem sempre gosto das fotografias que expõe, tanto na web como em galerias, que já tive a oportunidade de as ver ao vivo e a cores.
No entanto, lá calha ter que concordar com alguns pontos de vista. E algumas das fotografias até que são mesmo do meu agrado.

Acontece que publicou ele um trabalho no seu blog que entendi que deveria ser objecto de comentário meu. Assinado com a minha identificação de um dos blogs que subscrevo. Nesse meu comentário, e tão fundamentadas quanto o possível num comentário a um post, exprimi o que entendia ser errado, bem errado, no trabalho em causa. Não referi questões estéticas ou técnicas, mas antes as vertentes éticas ou deontológicas que ali estavam manifestas. Ou melhor, à sua falta no trabalho.

Foi com alguma surpresa, ou talvez não, que passadas umas horas constatei que a pessoa em questão tinha ficado aborrecida para além do aceitável com o que eu havia escrito e ali publicado como comentário ao trabalho. A ponto de ter decidido apaga-lo e de passar a tê-los (aos comentários) objecto de análise prévia da sua parte. E disso fazer alarde num post.
Incomoda-me ver esta atitude da parte de alguém que faz da informação o seu ofício, a par com o ensino da mesma e que, ainda por cima, expõe e se expõe num blog.
É que, e do meu ponto de vista, o que foi por ele feito foi apenas um acto de censura, pura e dura. Não gostou e apagou. Ponto. E impede que ali fiquem quaisquer outros comentários de que não goste. Ponto.
Será esse um seu direito, até porque o servidor de blog o permite. Mas é pouco consentâneo com um profissional da informação, o acto de censurar. Um pouco pior em tratando-se de alguém que, na empresa onde trabalha, exerce um cargo decisório sobre os trabalhos de outros. E, pior ainda, alguém que usa o que sabe e pensa para o transmitir a outros, bem mais novos e que querem com ele aprender do ofício. Espero, neste último caso, que os seus alunos entendam que o professor que têm defende e pratica a censura sem pudor.

Pela parte que me toca, a solução até que é fácil:
Entendo que não quero mais visitar um espaço que assim trata os seus visitantes, pelo que lá não voltarei. Apaguei mesmo o link ao seu espaço que aqui tinha. No fim de contas, eu até nem concordo com a maioria dos seus pontos de vista.
Mas, pela parte que nos toca a todos, saber que esta pessoa tem um papel de relevo num periódico de grande tiragem e impacto em Portugal, incomoda-me de sobre maneira.

Não tenciono deixar aqui o nome desse fotógrafo, nem o nome do seu blog, nem mesmo o nome do jornal para que trabalha. Eu sei de quem estou a falar, o próprio também o sabe e sabe quem eu sou. E não creio que venha ler estas linhas. E, se vier, saberá o que penso, que destas linhas lá não deixo cópia.
Quanto a todos os restantes jornalistas e fotojornalistas deste país, estou em crer que não fariam um acto destes, pelo que não os incluo neste julgamento francamente pouco abonatório que desta pessoa faço.

Entenda-se que todo este discurso é um desabafo. Entenda-se também que não tenciono apagar nenhum comentário que, por mero acaso, aqui venha cair, venha de onde vier, contenha o que contiver. Que eu da censura já tive a minha boa dose, antes e depois de Abril.


Texto e imagem: by me

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

On photography - somos poucos


I had this text to ilustrate. It was about human behaviour, how people change with age and vain power and how few are those who keep coherence in ideas and ideals.
The only picture I could think of was three fingers. Two would look like the “V” of victory and four would seam a handfull. Three was the number!
But I couldn’t find out how to do it. What kind of background?
A neutral one, colored or not, would be to much minimalist; With something well defined, either has to be directly related with it or would be just garbage.
The text was kiking me and I have to find a solution.
Until I found this balcony. It was ground leveled and those shades from the balustrate were apelling. I jump in and took three pictures with my cell phone, the only camera I had at the moment.
I tryed to get the floor out of focus, using the “close-focus-range” of the camera, and geting as close to my hand as I could. But a cell phone have a wide angle lens, a very small censor and it was a shiny day.
I also had to avoid the shade on the corner, so I didn’t get the wall, as well as the shade of the camera on my hand.
And I run out of there, since I was trespassing!

Back home, I reduced the color saturation of the floor to zero and increased the contrast. This way, all that dirty would fade way. And I reduce the color saturation of the hand, so it wouln’t look like a happy hand.
At the end, I stretched it a litle bit, at the same time I crop it. I like wide horizontal and rectagular pictures, and it wasn’t important how the real fingers look like.
Having done this, I rewrite the text, so that picture and words work together, and post it.

Did I reach my goal? I dont realy know!
This was the best I could do with a text kiking me where it hurts.
Maybe one day I will find the right picture. And, I’m sure, I will rewrite it again, since is a neverending subject.


Texto e imagem: by me

Rules


There are to much buttons ruling our life!


Me by me

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Catita


A Catita era uma pacata jumenta que residia com meus avós, no Algarve. De bom feitio, prestava-se sem grandes protestos aos pouco carregos que lhe eram pedidos ou às raras vezes que tinha que puxar a charrete amarela e vermelha em que os meus avós se deslocavam às aldeias vizinhas em visitas familiares.
Encontrava-a todos os anos quando por lá ia passar as férias de verão.

Rotina diária era ir pôr a Catita ao pasto no final do dia e ir buscá-la de manhãzinha. Ficava ao relento, com umas peias e uma espia numa estaca, dando-lhe um raio de acção de uns 25 metros.
Acompanhava eu o meu avô nessa rotina, orgulhosamente montado na manta de riscas que a cobria. Já conhecia os truques e técnicas, de tanta vez o fazer.

Um dia quis ser grande. Quis ir buscar a Catita sozinho. Não me queriam deixar, mas tanto insisti que acabei por levar a minha avante.
Em lá chegando, cometi um erro fatal: retirei-lhe as peias e a espia antes de lhe colocar o cabresto.
Ora a bela da Catita, que até era pachola, apanhou-se livre como nunca e pirou-se. Correu pelo restolho fora, atravessou o pomar vizinho e quase me fugiu de vista.
E digo quase porque não fiquei inerte. Assim que ela desembestou, percebi o que tinha feito, peguei no cabresto e vá de correr atrás dela.

Agora tentem lá correr por cima do restolho e torrões rijos, com um cabresto na mão e a respectiva arreata rojando no chão. Isto tentando igualar a jumenta na corrida.
Dei vários trambolhões em cima daquele restolho aguçado e cortante, mas nunca esmoreci.
Acabei por a apanhar numa vinha próxima, onde a Catita se deliciava com as uvas ainda frescas da madrugada.
Já encabrestada, regressei pelo mesmo caminho a fim de recolher as peias, espia, estaca e manta e voltar para casa.

À chegada, e perante o meu atraso, já meu avô se preparava para me ir buscar, junto ao portão que separava o quintal calcetado da estrada asfaltada.
Em face do meu estado, pouco me foi dito. Os meus calções e camisa rasgados, o peito, braços e pernas escorrendo dos arranhões profundos e o meu olhar cabisbaixo foram castigo mais que suficiente. Isso e a desinfecção que o meu avô, ex-enfermeiro do exercito, tratou de me fazer.
E nunca mais se falou em eu ir buscar a Catita sozinho.

Mas aprendi a lição: Procedimentos de segurança em primeiro lugar.



Texto e imagem: by me

Contive-me


Este é o assento da discórdia!

Nos comboios da linha de Sintra, Lisboa, os bancos são geralmente verdes. Uma espécie de veludo de cor base verde com um desenho repetido do logótipo da CP. Nas carruagens não motorizadas são 48 os lugares sentados.
Na coxia e na janela, frente a frente, em grupos de três nos topos, há de tudo. E cada um tem o seu lugar preferido, função da comodidade, do acesso à porta, isolamento, de frente ou de costas para o trajecto…
Mas há oito lugares que são vermelhos. Do mesmo tecido e padrão dos demais mas de cor vermelha. São desta cor para assinalar que se trata de lugares prioritários ou reservados a portadores de deficiência, grávidas e acompanhantes de crianças de colo.

Para já, lamento que haja necessidade de haver lugares reservados. Cada viajante deveria ter a consciência de quem com ele viaja e ceder o lugar a quem dele necessite efectivamente, sem que tenha que haver regras para o definir!
Talvez num futuro não muito distante isto possa vir a ser verdade.

Mas o que é patusco, verdadeiramente curioso, é a cor escolhida.
Nos códigos ocidentais, mas não só, a cor vermelha foi eleita como a cor do perigo, da proibição, do mal e do pecado.
A sinalização para viaturas ou pedestres assim o indica, quer se trate de sinais passivos ou activos.
Ou, indo mais longe, a lanterna vermelha que, pendurada sobre uma porta, indicava um bordel, uma casa de pecado.
Já para não referir o vermelho-sangue!
Mas o código de um assento vermelho entre outros de cores diversas indica genericamente que é proibido lá sentar, excepto alguns em particular. Ou, visto de outra forma menos proibitiva, que é de cedência obrigatória a quem dele necessitar.

Há uns tempos, já depois do anoitecer, viajavam nesses mesmos dois bancos, um homem e uma mulher. Bem na minha frente. Suponho que fossem Cabo-Verdianos, já que falavam entre si Crioulo. E é uma língua estranha para um português, sendo que usa termos lusos e outros de origem bem distinta.
Da conversa deles apercebi-me apenas de alguns pedaços soltos, cujo resultado seria qualquer coisa como isto:

Argumentava o homem que a reserva ou proibição de sentar naqueles bancos vermelhos só se aplicava nas horas normais de expediente.
Segundo ele, só nesse período é que os portadores de deficiência, grávidas ou acompanhantes de crianças de colo tinham forçosamente que viajar. Fora desse horário seriam iguais a todos os outros, não havendo lugar a qualquer reserva ou cedência de lugar.

Junto com as gargalhadas surdas que me estremeciam, um outro sentimento, melhor, um forte desejo me invadiu:
Quebrar um dos vidros assinalados como saída de emergência e fazê-lo sair por lá com o comboio em andamento!
É uma urgência, uma necessidade imperiosa que este cavalheiro, e outros como ele, entendam que a sociedade se compõe de indivíduos, todos diferentes na língua, na cor, na mobilidade, e noutras características individuais. Tal como ele. E que compete ao conjunto atender às necessidades específicas de cada um.
Talvez depois de uma saída intempestiva ele mesmo se transformasse num portador de deficiência e entendesse que ela não escolhe horas nem locais: está sempre!

Mas contive-me. Nem gargalhei nem o vidro ou os seus dentes se partiram.
Com grande pena do pedaço de rebelde que há em mim.


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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Grito


Numa parede quase impoluta, num beco esconso de umas traseiras de um bloco de apartamentos, este grito.
Não importa quem a quem ou sequer quando!
É uma verdade incontornável, insofismável e eterna.
Pelo menos até que pintem o muro ou que se mude de turma.

Há coisas que não têm tempo nem lugar. Nem mesmo convenções sociais.
O amor é, e o resto são episódios!


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Plasticidades


Um destes dias apresentar-me-ei no Parlamento, pedirei respeitosamente a palavra e, quando me a derem, lerei a minha proposta de revisão do código civil, penal, comercial, fiscal,…
Tratar-se-á de uma obra volumosa, de muitas páginas, tendo escrito na última a palavra “continua” e coisa nenhuma em todas as outras.

O bicho-homem, na sua busca de uma sociedade perfeita, justa e livre, acaba por fazer exactamente o oposto: usa uma teia incrincada de leis, regras códigos, normas, imposições e proibições que, ao invés de o libertarem, apenas o mantém limitado.
Na expressão plástica acontece o mesmo. Os autores vêem-se confrontados com os limites dos suportes. Definidos em formas padronizadas pela indústria e com regras concebidas em tempos de antanho e consideradas inabaláveis.
No caso da fotografia ainda se vai mais longe, levando o acto de distribuir as formas dentro do suporte com o nome de “enquadramento”. Colocar dentro de um quadro ou quadrado, com limites bem visíveis.
As indústrias de câmaras, papeis, molduras, imprensas, jornais, TVs, cinema, web, revistas… seguem pela mesma linha.
Um quarto ou meia placa, dois por três, três por quatro, widescreen, cinemascope, meia página, mancha inteira, duas colunas…

Estou em crer que o artista plástico mais livre da história do Homem, terá sido o nosso ante-ante-antepassado. Com as suas pinturas e gravuras rupestres e a ausência de limites ou imposições.
Talvez que o seu descendente actual seja o pintor de graffitis, mas mesmo assim é discutível.
Mas certamente não serão os fotógrafos que, nas artes plásticas, se comportam com mais liberdade ou a assumem, atados que estão a regras e limites.

P.S.: Não sei se sou fotógrafo, se não sou fotógrafo ou se sou uma coisa ambivalente, vivendo dentro das minhas próprias contradições!


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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Igualdades


Pois é! Eu só não adivinho é o número da lotaria, que quanto ao resto estou garantido.

Fecharam hoje ao trânsito algumas das principais artérias da cidade na frente ribeirinha. Isto devido a obras na Praça do comércio, assunto amplamente divulgado pelos media.
Com isto, as alterações introduzidas foram significativas já que as ruas mais próximas das encerradas não têm capacidade de escoamento do transito que passa nas fechadas, pelo que houve que criar novas alternativas para quem cruza a cidade de poente para nascente ou o contrário.
Reportagens, polícias aos magotes nos locais, engarrafamentos monumentais, o costume.
Acontece que o que eu suspeitava se verifica. E fui para a cidade e para esses lados só para me certificar e registar.
Uma das ruas que ficou sobrecarregada de veículos – a rua do arsenal – continua a ter de um dos lados os espaços reservados – e ocupados – para os carros dos vereadores ou do presidente da câmara, bem como dos funcionários (juízes, secretários ou mesmo ministro) que trabalham no ministério da administração interna.
Teria sido interessante ver os que têm poder de decisão, e que são eleitos, a serem os primeiros a darem o exemplo. No caso, a não congestionarem esta rua neste período de excepção, que se prevê arrastar por perto de quatro meses.
Acredito que uma das alternativas poderia ter sido o pedir emprestado por igual período um pedaço do interior do edifício da ministério da marinha, ali logo ao lado. Sempre são todas elas entidades oficiais, que trabalham para o mesmo (o país) e, em situação de dificuldade, toda se deveriam inter-ajudar. Os corros com os respectivos motoristas continuariam à disposição dos seus titulares, a uma ou duas centenas de metros, mas sempre a uma distancia útil.
E os cidadãos, ao ali passarem vindos de engarrafamentos incomodativos e desgastantes, não ficariam com a ideia que em Portugal somos todos iguais, mas uns mais iguais que outros.

Só não acerto mesmo é na lotaria.



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Retato de uma desconhecida - 2





By me

domingo, 15 de fevereiro de 2009

História


A história é a sucessão (ou o seu estudo) dos factos.
Do universo, do Homem, de um país ou de um ser humano.
E, não sendo possível relatar ou estudar tudo o que acontece, sem excepção, definem-se ou consideram-se os factos mais importantes ou significativos, no contexto do estudo ou relação.
A invenção da escrita, que separa a História da Pré-história, o nascimento de Cristo (ou Maomé, ou Buda, ou qualquer outra figura marcante para as fés existentes), um facto de relevo na cultura, como a invenção da imprensa, o conceito do Heliocentrismo, o a rádio.
Mas aquilo que aprendemos nos bancos da escola, e que as enciclopédias vão dando importância, são as organizações sociais como países e os seus conflitos ou guerras. Sabemos as datas das guerras, das perdas ou recuperações de independências, a ascensão ou queda de ditadores, com ou sem banhos de sangue…
Mas outras referencias importantes na história da humanidade, em que ficou bem mais pobre, são menos referidas, se alguma coisa. A destruição da biblioteca de Alexandria, a queima de livros pelos Nazis, a santa inquisição, os códices Maias, etc.

As guerras que hoje se travam ou têm travado no ultimo século têm sido tantas e tão próximas no tempo que a história dificilmente lhes dará significado de relevo. Talvez venha a referir o séc XX como o século da guerra global, abrangendo todo ou quase todo o planeta num mesmo conflito, com pausas intermédias a que, ironicamente, chamamos de “paz”.
Uma das que ainda se trava é a do Iraque, fruto de uma invasão baseada em falsos argumentos e com objectivos ainda não bem definidos. O futuro considerá-la-á como sendo mais uma no meio de muitas, bem como ao que a instigou, George W. Bush.
O que não esquecerá a história será a pilhagem do museu de arqueologia de Bagdad, onde se guardavam para estudo e conservação, artefactos daquilo a que se costuma chamar o berço da civilização. Após a invasão da cidade, as tropas ocupantes preocuparam-se bem mais com alvos e objectivos de cariz económico e vital para estratégias militares que em preservar ou conservar o que de mais valioso ali existia, para além das vidas do seus cidadãos: o museu e o seu conteúdo. Foi pilhado, encontrando-se mais de dois terços das peças que ali existiam espalhadas não se sabe onde, talvez nas mãos de coleccionadores sem escrúpulos ou mesmo destruídas e perdidas para sempre.

Leio, num jornal de hoje, que este museu planeia reabrir este mês, com o que restou da colecção, bem com outros artefactos entretanto recuperados. Honra seja feita a quem a tal se tem dedicado. Que ficarão anónimos na História, ao contrário do infame que permitiu a sua destruição.


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Retrato de uma desconhecida - 1


Mesmo a um fotógrafo “à-lá-minuta” dá prazer retratar de outras formas que não a formatada.
E capturar qualquer coisa mais de alguém, para além da luz que se reflecte, não apenas não é fácil como é, em regra, um exercício cheio de subjectividade. Que o que fica registado, melhor, a leitura do que fica registado é bem mais que apenas formas e cores.
Encontrar alguém que não se conhece, conversar um pedaço, tentar ir mais fundo do que é mostrado ou exibido e fazer daí um retrato, é um desafio que, pelo menos na minha experiência, é raro.
E, tal com a escrita mais não é que letras banais a formarem palavras usuais em frases gramaticalmente correctas, também a fotografia não passa de luz sobre a matéria, a sua reflexão e registo. Banalíssimo.
Na escrita, o importante são as ideias nela contida, bem como as que provocam no leitor. Na fotografia, talvez o mais importante seja aquilo que cada um que a veja sinta. Bem mais que a correcção de exposição, o respeitar equilíbrios ou linhas de força, “Phi” ou qualquer outra convenção técnica ou estética.
Fica um retrato de uma desconhecida.


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sábado, 14 de fevereiro de 2009

O prazer do não prazer


Estava à conversa com um velho conhecido ali do jardim quando o vi. Tinha parado a meio da marcha, feito um esgar que poderia ser de dor ou sofrimento, mexido como que a massajar a barriga da perna e, ao endireitar-se, parecia fazer um esforço para respirar.
Apesar de continuar à conversa, fiquei alerta. É que ele nada tinha de novo, bem pelo contrário e, por aquilo que estava a ver, estava a passar um mau bocado.
Mas como, passados uns passos, o esgar se repetiu, de alerta passei a interveniente e dirigi-me a ele, perguntando-lhe se o poderia ajudar em algo.
Ficou atónito, creio porque pensava que ninguém daria com a sua situação que, vim a saber depois, era crónica. E acabamos por ficar de conversa, que o meu velho conhecido tinha ido cuidar da sua vida.
Conversa longa foi. Mais de quarenta minutos, pela certa. De empregos e ocupações, passámos por economia, política, filosofia, artes. Platão e Sócrates fizeram-se citar, bem como Maquiavel e Bacunine. Picasso, Pessoa e dali deram um ar da sua graça, tendo sido misturados com a origem e/ou destino do Homem e uns toques de agnosticismo pelo caminho.
Variados e densos, aqueles minutos!
A dado passo sou surpreendido com um pedido: “Dá-me um cigarro?”
“Claro que sim, tome”, disse estendendo-lhe o maço aberto.
“Sabe há quanto tempo não fumo? Pois há quase quinze anos” Mas agora apetece-me um!
Fiquei boquiaberto com a declaração e ainda tentei dissuadi-lo da coisa, lembrando-lhe que o pior que se pode fazer é recomeçar o vício. Pior ainda, dada a sua idade.
Riu-se e, aceitando o lume que lhe dava, acendeu-o e deu uma fumaça, sem travar o fumo. E perguntou:
“Sabe qual é o meu prazer em fumar agora? O meu prazer é, agora, não o fumar!”
De facto, não mais o cigarro lhe voltou aos lábios, queimando-se por inteiro entre os seus dedos. Estes!

Mesmo que o dia não tivesse corrido bem até ali, mesmo que todo o mundo não estivesse com uma disposição jovial por via daquele dia primaveril contrastando com a invernia continuada, mesmo que não tivesse feito as fotos que fiz, esta tirada ter-me-ia feito ganhar o dia!


Texto e imagem: by me

Que pena!


“Tenho pena de ti!” disse-lhe. E, com isto, a conversa quase que acabou.
Claro que ainda perguntou o porquê, ao que lhe respondi que se havia vendido ao sistema e ao cargo. E as que as posições que defendia uns anos antes, não muitos, sobre relações laborais e entre degraus da escala hierárquica se tinham invertido. Que os argumentos que defendia hoje com unhas e dentes eram exactamente aqueles que tinha contestado e combatido com o mesmo ou maior vigor então.
O que se ouviu em seguida foi um monólogo, que nenhum dos seus argumentos justificava o trabalho de lhes responder. Até porque conheço a pessoa em causa, há já quase 30 anos, que começamos mais ou menos ao mesmo tempo a trabalhar na mesma empresa.
Tal como conheço o seu percurso, o seu desejo de poder e as estratégias usadas para o atingir. Se é que se lhe pode chamar de “poder” o ser um chefe de turno, tendo hoje os incómodos das irregularidades de horário, tal como tinha tido anos a fio, mas sem nunca chegar a um posto onde as suas opiniões ou decisões cheguem a ser relevantes para o que fazemos o global da empresa. Poder-se-à comparar a um “capatazinho” que nunca passará de dar ordens àqueles com quem, anteriormente, as contestava.

É desta mesquinhes, deste espírito tacanho, deste desejo de poder, não tanto de construir mas tão só de dar ordens e ser obedecido, que este país está empestado.
A ambição individual e restrita, em que o que mais conta são os seus objectivos e nunca os do grupo em que se insere. E em que as opiniões e argumentos se ajustam em função do poder (real poder de decisão), agradando-lhe e subserviendo-lhe por ser poder e não pela sua validade.

Vamos ficando cada vez menos numerosos. Os que mantemos coerência de raciocínio e de ideais, sem que isso signifique obstinação ou impedimento de mudança de rumo.
Que pena!


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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Friday, 13th


I’m sorry, but i’m not superstitious.


O prazer de existir


Não tem muito que saber: A natureza reage ao clima!
Nestes dois dias de intervalo na invernia, numa primavera antecipada e breve, tem sido fácil de o ver e sentir.
O céu azul com um sol brilhante, que tornou em ameno o ar que não corre por falta de brisa que o leve, libertam os risos rasgados, as energias que britam a cada passo, e a vida vai dizendo que está por cá e alegre com isso.
É ver a malta nova nos jardins, nas suas correrias infantis ou jogos de cumplicidades juvenis, em que as gargalhadas facilmente se sobrepõem às vozes de protesto. E mesmo quando essas brincadeiras podem raiar o delituoso ou quase pisar a linha do perigoso, os cívicos mostram-se mais tolerantes e, com um sorriso meio escondido, limitam a, com a sua presença, fazer com que não se vá para além da linha do intolerável.
Os adultos, esses, caminham mais de vagar, como que não querendo regressar ao edifício onde há que cumprir as obrigações e onde o sol não chega. E, nesta morosidade do andar, a curiosidade emerge, o dar-à-língua acontece, e as relações perdem as tensões do quotidiano. Até mesmo com estranhos a tolerância e boa-disposição marcam presença.
Quanto às plantas, caramba, as plantas mostram-se radiantes do sol que recebem e orgulhosas das cores que exibem. E, diga-se em abono da verdade, têm todos os motivos para gostarem de se ver!


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Intermission


On a cold and wet winter.


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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Hoje


O Jardim da Estrela esteve assim!



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Três penadas e um desconto


A coisa conta-se em três penadas e um desconto.

Primeira penada:
Tenho o hábito, quando estou numa loja e o tipo de movimento o permite, de dizer uma ou outra graçola ou laracha ou mesmo piada, nem sempre para rir. O objectivo é desanuviar o ambiente de vendedor/comprador, levando o primeiro a sorrir e a quebrar a rotina do trabalho.

Segunda penada:
Nesta loja de fotografia, uma das já raras boas em Lisboa, comprei um artigo. Já na porta, lembrei-me de um outro, não vital nem fácil de encontrar, mas que talvez ali houvesse.
De volta ao balcão, a senhorinha que me havia atendido recebeu o meu pedido, encontrou o que eu queria e estendeu-mo, dizendo que custava 3,60€. Contando as moedas, e tendo-as no valor exacto, estendi-lhe a mão com elas, perguntado com tom sério:
“Se lhe der trocado, faz-me desconto?”
Olhou-me com o ar espantado habitual perante esta minha frase feita, e eu expliquei-lhe que, se fazem descontos por idade, por cliente, por cartão, por pontos, etc., porque não por entregar o pagamento “trocadinho da Silva”?

Terceira penada:
A senhorinha olhou para mim, sorridente, olhou para o ecrã de computador à sua frente e declarou em tom comercial, deixando-me de boca aberta:
“Faço sim senhor. São três euros, se faz favor!”
Bem lhe disse que estava a brincar e não a pedinchar um abatimento no preço, expliquei-lhe que o que queria era provocar um sorriso… Mas ela não se deu por achada e entendeu que o sorriso que lhe tinha provocado valia bem o desconto no preço do produto.

Epílogo:
Saí da loja 60 cêntimos mais rico.
E milionário, por ter conseguido encontrar alguém com sentido de humor atrás de um balcão, capaz de retribuir com uma gentileza uma graça ou brincadeira.
E não vale a pena pensarem nisso! Não vou voltar lá, fazer uma compra de grande montante e largar a piada para obter um desconto equivalente!


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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Pecou, pagou!


Leio num artigo do New York Times de hoje que as indulgências estão de volta em força.
Para quem não saiba, as indulgências no seio da Igreja Católica Apostólica Romana são uma forma de perdoar os pecados cometidos. Que, para além do acto da confissão e da prática de alguns rituais (orações ou outros), passa por pagamentos em dinheiro. No artigo refere-se que se trata de donativos à igreja mas, em qualquer dos casos, é um pagamento em dinheiro para perdoar pecados cometidos.
Este ressurgir das indulgências é uma tentativa de fazer regressar ao redil o rebanho perdido. De novo se fala na salvação numa vida para além da morte, de promessas que tendem a compensar o que de mau podemos ir passando nesta vida terrena.
É também um fazer regressar aos hábitos a confissão. Que qualquer psicólogo ou terapeuta lembrará que é uma forma de aliviar o peso da consciência, um saber o errado cometido e um eventual assumir interior de uma espécie de promessa de não o repetir. E de criar uma terrível dependência entre quem confessa e o confessor.
Mas também uma forma de punição, ainda que voluntária. A imposição do acto de rezar e o abdicar de bens terrenos, quiçá obtidos a duras penas, em prol de uma existência pacífica no paraíso prometido. E fuga ao inferno ou purgatório. Como quem paga uma multa por excesso de velocidade.
Curioso é que, após cumprir os rituais de confissão, arrependimento e punição, fica-se livre, ou quase, para repetir os pecados. Que, da próxima ida à igreja, seremos perdoados de novo.

Mas, no meio de tudo isto, sobrevive sempre o mesmo aspecto: a culpa. Somos sempre culpados, instigados a arrependemo-nos dos nossos pecados, mesmo que deles não tenhamos consciência plena. O crime e o castigo!
E este conceito culposo e de como o arrependimento e a confissão podem aligeirar o castigo passou da religião e práticas religiosas para a prática civil ou laica, aplicado que está na justiça.
Aquele que infringe os códigos de conduta, confessa o crime e mostra arrependimento é alvo de uma punição menor. Vejam-se os “arrependidos” nos casos mediáticos e de como são alvo de estatuto especial. Ou como, no proferir da sentença, os factores “mostrar arrependimento” e “colaboração” faz enquadrar a pena nos patamares inferiores das previstas por lei.
Aliás, se analisarmos as culturas judaico/cristãs/islâmicas, constataremos que, tanto nas orientações religiosas como nos códigos de conduta civis, se baseiam nas proibições! E nos seus castigos!
A organização destas sociedades orienta-se para impor, impedir e encarreirar comportamentos e relações. E de punir, por vezes de formas terríveis, quem disso se desviar. É uma organização social castrante, conservadora, impeditiva de evolução e de livre-pensar.
Que o pecado ou mesmo o crime passa também pelo pensamento!
O raciocínio e os actos de autonomia em relação às regras, religiosas ou não, são puníveis, nesta ou noutra vida.

Desses pecados arrependam-se, confessem e penitenciem-se! E paguem!
Aceita-se em dinheiro, cheques ou cartão de crédito!!!!!!!!!!!!



Texto e imagem: by me

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Portas e narizes


Estas são as portas de um centro comercial, em Lisboa.
Este, em particular, possui muitas iguais a estas, nos quatro acessos que tem para o exterior.
Em qualquer dos casos, são semelhantes a todas as outras que podemos encontrar em tantos e tantos centros comerciais por esse país fora. Tal como são semelhantes às portas de inúmeras lojas ou equivalentes, em tudo quanto é sítio:
Dois batentes, por vezes um só, abrindo tanto para um lado como para o outro e possuindo mola de retorno, obrigando-as a manterem-se fechadas.
Por vezes essa mola é suficientemente forte para nos obrigar a fazer uma boa dose de força para as abrir, mas estou em crer que o objectivo é mesmo mantê-las fechadas, impedindo as correntes de ar e mantendo o ar condicionado do interior tão estável e controlável quanto o possível.
Pois se há coisa que me deixe em estado de quase histeria é querer entrar num destes espaços e, a pessoa que à minha frente caminha, abrir a porta para passar e larga-la, ignorando por completo quem a segue. E eu, se for à distância aziaga, levar com a dita porta no nariz, caso vá menos atento.
E tanto me incomoda a situação (a porta no nariz e o acto em si), que entendia haver uma enorme maioria de gente a assim se comportar. Já que a quantidade de vezes que tal me aconteceu quase iguala a quantidade de gente constante numa qualquer lista telefónica.
A ponto de, ao aproximar-me de uma destas portas, fazer apostas comigo mesmo (e perder, as mais das vezes) se quem me antecede a largará, ignorando a minha existência e presença à sua retaguarda, ou se fará o que eu mesmo faço por regra, quase sem excepção: segurar a porta em passando-a, olhar para trás e, caso alguém se aproxime, dar-lhe a passagem em segurança.
Acontece-me mesmo que, se o movimento é grande no local, acabar por ficar a segurar a porta a quase uma dúzia de passantes, que a maioria nem se dá ao trabalho de repetir o gesto que vê e lhe convém.

Pois hoje, em tendo tempo, estando no local e com paciência, decidi observar o comportamento generalizado. Quem passa, alheando-se dos demais e quem, ainda que de relance, se assegure que a porta não agredirá um qualquer nariz incauto.
Fiquei surpreendido. Os números que se seguem são fruto de mera observação não anotada e têm o rigor que meia hora de ali parado pode ter.
Cerca de um terço de quem cruza uma porta destas presta atenção a quem o segue, evitando que ela – a porta – seja agressora de narizes.
Em termos divisão por género está ela por ela: tanto homens quanto mulheres têm esse cuidado por igual.
Mas se dividirmos os adultos de cada um dos géneros em três grupos (dos vintes até aos trinta e tal, destes até aos até aos quarentas e muitos e daí em diante) os resultados já não são homogéneos.
O grupo de mulheres que cuida de quem a segue é o do meio, entre os trintas e os quarentas e muitos. Já os homens são bem mais cuidadosos a partir dos quarentas e tais, pouca ou nenhuma atenção prestando daí para baixo.
Já os que estão abaixo dos vintes, têm comportamentos uniformes: não prestam a menor atenção a quem os segue a entrar ou sair.
Um factor que influencia o comportamento é a ocupação que as mãos têm. Se ambas tiverem objectos mais pesados ou volumosos que um livro, jornal ou carteira, é certo e sabido que não se interessam sobre quem os segue. O mesmo sucede com quem, mesmo tendo uma mão livre, tenha a outra ocupada com um telemóvel, quer seja em conversação ou envio e/ou leitura de mensagens. Tal como se constata o mesmo com aqueles que vão ao exterior apenas para fumar um cigarrito e retornam de seguida. A porta empurra-se e quem vier atrás que se cuide.
Curiosamente, estas preocupações e atenções para com partilha espaço e passagem são transversais ao nível económico que aparentam, já que, com melhores ou piores roupas, com ar de quem possui muito ou nada tem, a mediania de acções mantém-se de acordo com o factor idade.
Detalhe com graça: este centro comercial, enquanto ali estive a observar, foi alvo de visitas, a entrar ou sair, de gente com aspecto de turista ou estrangeiro. E, do que constatei, a esmagadora maioria teve o cuidado de verificar se alguém o seguia e de segurar a porta. Independentemente da idade.

Acredito que um sociólogo pudesse, desta observação, retirar algumas elações. Ou, para o fazer, querer amostragens bem mais alargadas, como as horas do dia, a estação do ano ou o ponto do país.
Mas, para mim, serviu-me para várias conclusões.
Por um lado, são bem menos os egoístas do que eu pensava, ainda que bem mais do que gostaria.
Por outro, acredito que nem me apercebo de quando alguém me segura a porta, apenas ficando possesso quando tal não acontece.
Um pouco mais de atenção da minha parte é recomendável. Bem como um pouco menos de preconceito para com os meus concidadãos.
Claro que irei manter o irónico e bem lançado “Obrigado!” com que brindo os que me agridem, que muitas vezes estranham e não entendem o que se passa.
Tal como o sorriso e agradecimento a quem fizer a gentileza de evitar que eu leve com a porta no nariz.



Texto e imagem: by me

Parcerias estratégicas


domingo, 8 de fevereiro de 2009

Romani


Acredita-se que o povo Romani ou Shintos, por cá conhecido como Ciganos, tenha origem no norte da Índia.
Esta teoria baseia-se, entre outros factores, na questão da língua que se encontra entre as diversas comunidades ciganas espalhadas pelo mundo.
Sobre estes factos não há certezas, já que este povo, nómada e sem história escrita ou monumentos erguidos, baseia o conhecimento do seu passado na tradição oral.
Há ainda quem defenda que esta migração terá acontecido há pouco mais de mil anos, na sequência de um “rapto” de uma comunidade para a oferecer a um monarca algures na zona da Pérsia, devido às suas tradições de dançarinos e cantores. Morto o rei, terão sido expulsos e, não podendo regressar à sua terra de origem, migraram para norte, para as zonas do mediterrâneo e Europa, tendo daqui expandindo-se pelo resto do mundo. Uma das zonas onde terão feito uma paragem mais prolongada, e onde terá ficado uma maior comunidade terá sido a zona dos Balcãs.
Daqui também a confusão que se instalou entre o povo Romani e o povo Romeno.

O comportamento deste povo nunca foi o de integração total com as populações dos territórios que atravessavam ou onde se fixavam.
Mantendo hábitos nómadas, com leis próprias no seio da sua comunidade, com regras fechadas a estranhos, as suas actividades económicas não passavam pela indústria, agricultura ou pastorícia. O comércio ambulante, aliado à actividade de saltimbancos terá sido a actividade dominante.
A sua itenerancia e os seus hábitos não coincidentes com as populações autóctones eram frequentemente associados a crimes ou delitos de propriedade ou de sangue. É bem mais fácil culpar um estranho que não se integra ou que não tem residência fixa que um vizinho ou conhecido.
Assim, os rumores passaram a suspeitas e estas a acusações frequentes e generalizadas. E o fosso entre povos e culturas foi aumentando, criando o mito de gente perigosa a evitar. E do mito à legislação. Alguns países europeus chegaram mesmo a proibir a existência no seu território de gente cigana a menos que renunciassem à vida nómada e adquirissem terra para se fixarem. E isto não há tanto tempo quanto isso. Em qualquer dos casos, foram sempre sendo marginalizados ou expulsos.
E vice-versa! Numa tentativa de manter a sua cultura e identidade enquanto povo, os ciganos foram-se mantendo à margem dos usos e costumes locais, reservando para si usos e costumes próprios e fechando-se às influências externas. Língua, vestuário, crenças e religião, hábitos sociais, solidariedade ou rivalidade entre famílias, foram mantidos e resolvidas entre si, sem o recurso às comunidades circundantes ou atravessadas.

Esta exclusão recíproca ainda hoje se mantém arreigada nas mentes comuns. Encontrar um grupo de ciganos na rua ou nas estradas é motivo de algum receio, mantendo-se os contactos ao comércio e pouco mais.

Esta marginalização e perseguição tiveram o seu auge, na história recente, na “Shoah”.
Este é o termo dado pela comunidade hebraica ao holocausto judeu feito pelos nazis. Fala-se de seis milhões de judeus barbaramente mortos nos campos de extermínio. Mas raramente se cita o que se supõe terem sido 800.000 ciganos igualmente chacinados nos mesmos locais e da mesma forma.

O que faz então com que a história diferencie um de outro povo?
Para além dos números, qualquer um deles aterrador, é talvez a forma como cada um deles interage com a sociedade circundante. Que os seus passados são semelhantes, nas diásporas e perseguições, marginalizações e execuções. Sociais e legais.
Suponho que o poder económico de um em comparação com o outro, que é francamente superior. Não apenas nas actividades a que se dedicam como no poder de influenciar a sociedade de acolhimento (hoje a isto chama-se lobby).
Veja-se, por exemplo, que duas das principais exportações de Israel são o software e diamantes. No entanto, naquela zona do globo não existem diamantes, sendo estes uma das suas principais importações.
Este poder económico, que não é restrito ao médio oriente mas antes que se espalha por toda a sociedade ocidental, é poderoso o suficiente para moldar opiniões através dos media.
Com eles e com os comportamentos do poder político, criou-se uma sensação generalizada de culpa ocidental a propósito do passado judeu, que não existe sobre o passado cigano.

Pergunto-me se, por um qualquer acaso, a sociedade ocidental (europeia e norte americana) repetisse o disparate histórico da criação artificial de um país no médio oriente, mas desta vez na Índia e com o povo Romani, se existiria a mesma condescendência ou tolerância para com actos bélicos ou de exclusão por eles efectuada sobre os povos ali existentes ou vizinhos. Como acontece hoje com Israel.

A história do Homem está repleta de vergonhosas acções de domínio violento de um povo sobre outro. Foi o caso das Africas e dos escravos, da Austrália e dos aborígenes, dos EUA e dos Índios, das Américas central e sul e dos pré-colombianos.
Acrescente-se que a guerra mais longa de que tenho conhecimento travou-se naquilo a que hoje chamamos Chile, entre os conquistadores espanhóis e o povo Machupe, durante mais de 300 anos. E que este povo, hoje, vive numa quase reserva nas zonas inóspitas e frias da Patagónia.

O bicho-homem não aprendeu com a história.
E se lamenta e pede desculpa pelos erros do passado, continua a praticá-los no presente, neste ou naquele ponto do globo, com o beneplácito de grandes potências mundiais.
Mas as atrocidades de então não justificam as de hoje. Quer se trate da Servia, do Vietnam, de Timor, do Darfur, do Iraque ou de Israel.

Se eu tivesse ou pudesse escolher entre ser judeu ou romani, certamente que escolheria este último.
Porque, e como alguns deles afirmam: “O Céu é meu tecto; a Terra é minha pátria e a Liberdade é minha religião”.

Que a liberdade não tem casa, bandeira ou templo!



Texto e imagem: by me

Just for the fun!


Things we do wile waiting for an honest meal!



By me

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Freedom


Who is the prisoner?
Mankind down here or the moon up there?
At least, it is still some one’s dream.
As for us, we build our own iron cage!

Texto e imagem: by me

Pedaços de que gosto


Nome próprio: Vânia
Idade: 23 anos
Sinais exteriores: Mulata, magra, cabelo curto
Sinais interiores: honesta

Como sei eu isto tudo? Porque vi, ouvi e perguntei.
Estava a trocar dois dedos de conversa com uma mocinha amiga, numa lojinha de crepes ali para os lados da gare do oriente, quando ela surge.
Interrompendo a conversa, porque cheia de pressa, vinha devolver cinco euros que tinha recebido em excesso no troco de uma compra, uns vinte minutos antes.
Metediço como sou, meti conversa e soube o que queria saber. Mais não necessitava. Nem mesmo o retrato.
É que, nesta sociedade ego-centrista, exemplares destes são raros. E a melhor, a única, recompensa que ela quis e teve, foi o ver a satisfação da minha amiguinha com o erro corrigido.

Viva quem faz!


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

MGF


O lançamento do primeiro programa nacional de acção assinala hoje, em Lisboa, o Dia de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, já praticada em cerca de 140 milhões de mulheres, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Este programa foi desenvolvido durante o último ano por representantes de vários sectores e contém as directrizes e as medidas gerais para uma actuação a nível nacional" contra a mutilação genital, disse à Agência Lusa Yasmin Gonçalves, da Associação para o Planeamento da Família.
Também conhecida por excisão, esta prática envolve a remoção parcial ou total dos órgãos genitais femininos externos, com lesões que provocam alterações anatómicas, tendo por base razões culturais ou fins não terapêuticos.
A OMS identificou a prática de mutilação genital feminina em pelo menos 28 países do continente africano.
Portugal é considerado pela OMS um país de risco devido às comunidades de imigrantes, mas Yasmin Gonçalves disse à Agência Lusa não poder confirmar a existência dessa prática no país.
O Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina assinala-se pela segunda vez em Portugal com uma sessão que contará com a presença de representantes do Governo português, da Organização Mundial de Saúde e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Durante a sessão será ainda apresentada a declaração conjunta das Nações Unidas sobre eliminação da MGF, onde dez agências da ONU se comprometem a promover o abandono da mutilação genital feminina até 2015.



Texto: in Publico.pt
Imagem: By me

Lixo informativo


É preocupação minha, e tem sido manifesta neste espaço, a questão da isenção e objectividade da informação.
Com pequenas variações, não creio haver em Portugal suporte informativo que cumpra sem erros os códigos de ética de conduta nesta matéria, actividade que está, sabemos todos, condicionada a interesses políticos, económicos e sociais.
Alguns órgãos de informação assumem, logo de frente, as suas tendências e opções. Será o caso de jornais, rádios, e agora também TVs, legadas a partidos políticos ou sociedades de futebol. Quem quer que consuma estes produtos sabe o está a consumir e não é enganado.
Mas na maioria dos espaços informativos, materiais ou eléctricos, tal não sucede. Incluindo a chamada “informação generalista”.

Sabendo e acreditando nisto, supunha não vir a ser surpreendido pelo que os media pudessem publicar. Escandalizado sim, surpreendido não! Pois enganei-me.
Ao comprar os cigarros do costume no quiosque habitual, dou com este exemplar da revista “Flash” em cima do balcão. E a capa surpreendeu-me, pala além, claro, de me escandalizar. E por entre a surpresa e o escândalo, acabei por dar o euro e vinte e cinco do seu custo.
É que, num acto semi-masoquista, quis ver até que ponto esta revista, que no meu entender não passa de lixo informativo, poderia ir.
Não foi muito longe, já que o conteúdo referido na capa, ainda que ocupe seis páginas, é mais composto de fotografias que de texto, como aliás é hábito neste tipo de publicações: muita parra e pouca uva.
Refere esta revista um personagem importante do panorama público português. Uma figura que, nestas ultimas semanas tem estado na berlinda por via de algo que lhe é imputado ou de que é acusado, fazendo desse caso mais um de julgamento na praça pública. As acusações são feitas, directa ou indirectamente e, ainda que o caso esteja a ser investigado pelas autoridades competentes da justiça, as fugas de informação vão acontecendo. E, ao serem colocadas em manchete ou abertura de noticiário, vão denegrindo a imagem da figura em questão.
E se esse comportamento não é ético do ponto de vista informativo e político, o conteúdo desta capa ainda o é menos, já que, fugindo ao tema em causa, faz uma análise da pessoa em questão através dos seus familiares e relacionamentos.
Qualquer pessoa de bom senso perguntará: Que responsabilidade terão esses familiares das actividades dessa pessoa?” Ou ainda: “Que responsabilidade terá essa pessoa sobre os comportamentos desses familiares?”

Estou em crer que esta revista, cuja capa está aqui representada fruto de edição minha para que as pessoas envolvidas não sejam identificadas, fez este número sob encomenda.
Feita pelo visado, talvez, ou pelos correligionários políticos, com o fito de, no lugar de refutarem as acusações que lhe são feitas, definir a pessoa em causa como um “pobre coitado”, a quem a vida não tem sorrido, nem agora nem na infância. E, com isto, levantar simpatias por parte dos menos avisados.
Até porque muitos são, os portugueses, que na hora de votarem optam mais pelas simpatias que pela eficácia ou projecto político.
E é aí que os media, com o seu lixo informativo, intervêm, agindo pró ou contra esta ou aquela figura. Sem que, pública e formalmente, assumam as suas simpatias e opções editoriais. Deixando arrumados, no fundo de uma gaveta esquecida, os códigos éticos e deontológicos.

Esta revista, que comprei sabendo-a o que é, não a deitarei fora.
Tal como possuo diversos exemplares de muitas categorias e autores de que gosto e tenho por modelo a seguir, também devo possuir o que entendo por errado ou perverso.
Até porque, em ultima instância, subestimar o inimigo é um erro que se paga com língua de palmo!


Texto e imagem: by me