terça-feira, 29 de abril de 2025

Apagões




Metade do país num apagão gradual, a caminho da escuridão global.
Pentax K1 mkII, SMC Pentax DAL 55-300 1:4-5,8

By me

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Liberdade




Uma das tiranias da sociedade é o nome.
Os pais, ou os padrinhos, atribuem um nome ao recém-nascido e é algo que ele carregará até ao fim dos seus dias.
É certo que os humanos precisam de catalogar o que conhecem. Quer seja por nomes, quer seja por números, querem dar a tudo – objectos, conceitos, universo – uma identidade própria para que, em a isso se referirem, esse vocábulo seja inconfundível.
O nome de cada pessoa, memorizado e impresso até à náusea, fará parte da vida de cada um.
Claro que a escolha do nome de quem chega não é pacífica.
Há culturas que fazem questão que o nome atribuído seja o de um antepassado que não tenha mácula. Outras escolhem o nome por ocorrências ou circunstâncias significativas aquando da concepção ou nascimento. Pais há que procuram um nome que não esteja (ou esteja) na moda. Outros que o nome possa ter um diminutivo (um segundo nome) que seja “fofinho” e agradável de pronunciar. Conheci de perto um idoso que, sendo amiúde convidado para padrinho lá na sua aldeia, escolhia os nomes dos varões da lista de mortos da Grande Guerra, que ia riscando à medida que usava para não se repetir.
No entanto, neste catalogar de crianças, raramente há a preocupação de saber se o nome atribuído é ou será do agrado de quem o possui.
Claro que o bebé terá dificuldade, senão impossibilidade, de se pronunciar. E terá que carregar a escolha de outros para sempre.
No entanto, há culturas que atribuem ao recém-nascido um nome provisório. Ele é mantido até que o seu portador atinja uma idade ou maturidade, convencionada ou reconhecida, para que possa escolher o nome pelo qual passará a ser identificado. A sistematização de arquivos e tratamento de dados opõe-se ferozmente a tal prática, que lhes estraga os livros de assentos e registos, obrigando a correcções e adendas.
O caso mais mediático recente prende-se com identidade de género que o portador tem e na mudança correspondente. E na idade mínima em que tal mudança será possível do ponto de vista legal.
E temos ainda, menos formal mas bem mais popular, as alcunhas. Com base em características físicas ou de comportamento, nem sempre animadas de boas intenções e muitas vezes com alguma perversidade, são sugeridos nomes pelos quais os demais identificam o individuo. Muitas vezes nas suas costas, como se de um insulto escondido se tratasse. E trata.
Tal como há os nomes carinhosos com que o individuo é tratado no seu círculo mais fechado, onde os afectos são mais fortes e positivos e onde este “rebaptizar” é aceite e desejado.
E há ainda aqueles que, por este ou aquele motivo, decidem assumir, mesmo que não legalmente, um outro termo que os identifique. E têm que se bater para tal, por vezes com atitudes menos cordatas.

Eu sou um destes últimos.
Há mais de quarenta anos, e por motivos político-profissionais, insisti em passar a ser tratado por JC. Não será uma adulteração, já que se trata de iniciais de nomes que possuo. E, passados alguns anos e algumas discussões em torno disso, passei a insistir que não usassem pontos a seguir a cada letra.
Tendo conseguido ser tratado por tal vocábulo, este deixou de ser um conjunto de iniciais para passar a ser uma identidade completa, autónoma, fechada.
Apenas nas circunstâncias formais, como registos de identidade, bancos e afins, sou tratado pelo nome que me foi atribuído à nascença.
Que, tal como “não fui ouvido do acto de que nasci” como disse o poeta, me acompanhará como uma sombra.

A vida de cada um, tal como a sua identidade, deverá depender do próprio. Dos seus actos, dos seus sonhos, das suas decisões. O nome incluído.
Liberdade também é isto


By  me

domingo, 27 de abril de 2025

Abril




Celebrar uma revolução é bom. E será tanto melhor para quem a viveu ou cresceu ao som e ensinamentos e aprendizagens de uma revolução.
No entanto, uma revolução que não é alimentada, mantida em movimento, sempre rodando, por vezes quebrando, cedo passa a mera comemoração. Como quem comemora o aniversário ou um dia religioso.
Manter-se em estado revolucionário, sempre contestando o que deve ser contestado e modificando o que pode ser modificado é a melhor forma de comemorar uma revolução.
Todos os dias!
Um conceito político ou filosófico só será útil se servir de ponto de partida para outros conceitos.
Tal como os partidos políticos enquistam, tornando-se conservadores na medida em que aspiram ao poder pelo poder e tudo fazem para tal, mesmo fazendo sérias cedências aos seus princípios de base, também as revoluções, se não se mantiverem em revolução, param e tornam-se conservadoras.
Celebro a revolução de Abril. Tudo o que com ela acabou e tudo o que com ela passámos a ter e ser.
Mas mantenho-me revolucionário a cada dia que passa e na medida do que que posso e sei.
Não há vitórias finais! Há batalhas parcelares, sempre em direcção ao infinito.

By me

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Recomendação




A todos os que hoje celebram a data maior uma recomendação:

Não se limitem a celebrar!

Façam-no com alegria e liberdade mas não deixem que aqueles que o querem extinguir o consigam, mesmo que com falinhas mansas. Mesmo que com discursos inflamados.

A demagogia, o populismo, a agressão ao que é diferente, estão a crescer na teoria e na prática. No café, no autocarro, no trabalho.

Já vivemos isso e foi mau! Muito mau. Se o voltarmos a viver será pior.

Muito pior!


By me

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Fechado




É curioso!

Boa parte do que esteve na génese da revolução de Abril e dos tempos que se lhe seguiram estão em linha com o que o papa Francisco defendeu e praticou. Na teoria e na prática.

E o nosso governo, querendo ser mais papista que o papa, decidiu que as comemorações do 25 de Abril deveriam ser mais comedidas porque decretaram luto nacional pela sua morte.

Há aqui qualquer coisa de contraditório, parece-me.

Ou talvez não, que muitos são os que se alegram com a menorização da importância de Abril e do que ele foi.


By me

Prazeres




Eu gosto de fotografar.

Gosto de usar a fotografia para transmitir algum tipo de mensagem, mesmo que seja “vejam como isto é bonito”.

Gosto de, confrontado com um assunto, imaginar o resultado final.

Gosto de, perante o resultado final imaginado, encontrar a forma de o concretizar, usando a perspectiva e a luz.

E gosto de, perante a imagem final, poder dizer “Era isto que eu queria”, nas suas diversas facetas.

Mas há prazer que tenho e que é um desfio intimista: perante um assunto (que encontrei ou que criei) e perante a perspectiva que quero, saber qual a objectiva ou distância focal para fotografar.

Claro que, para poder fazer este jogo muito pessoal, tenho que conhecer mais ou menos bem as características de cada objectiva. Ou, por outras palavras, tenho que saber qual o ângulo que cada uma me permite.

Foi o que estive a fazer hoje durante a tarde com a mais recente aquisição: Uma 200mm 1:3,5 Tamron Adaptall2. Que, diga-se de passagem, tem uma imagem menos contrastada que o que eu pensava.

Nas diversas fotografias que fiz nesse jogo de ângulos, foi-me mais ou menos fácil “acertar”. Esta  foi a primeira e falhei: escolhi logo um exemplo mais complexo: algo que, sendo redondo, é visto de baixo.

Mas cumpri o que me propunha: escolhida a perspectiva, não arredei pé e foi dali que fotografei com o ângulo de visão que a objectiva me proporcionava.

Talvez que me ajude nesta prática que tenho o ter usado ínumeras vezes, em tempos recuados, o exercício proposto pelo mestre Adams: uma cartolina preta com um rectângulo recortado e ser através dele que era decidido o ponto de tomada de vista. Ainda antes de preparar a câmara. Isto quando eu usava formato 9x12 ou 6,5x9.

Outros tempos e outras práticas.

 

Pentax K1 mkII, Tamron Adaptall2 200mm 1:3,5


By me

"Modos de ver"




Podemos ver o belo em tudo, mesmo na decrepitude.

Porque a beleza não está no que é visto mas no como é visto.

 

Pentax K1 mkII, Tamron Adaptall2 200mm 1:3,5


By me

terça-feira, 22 de abril de 2025

Um bom negócio




O comércio em torno da marca Pentax é pequeno por estes lados do planeta. Aliás, tudo em torno dessa marca é reduzido: material novo ou usado. E mesmo andando de olho nos poucos locais onde pode acontecer, haver algo que me interesse e a que eu possa chegar é pouco comum.
Mas há uma coisa que vai funcionando, em paralelo com o comércio físico ou on-line: o passa palavra.
Pessoas há que, em sabendo de alguma coisa em venda, me vão dizendo ou alertando. Amigos ou conhecidos. Foi o caso agora.
Alguém que conheço soube de uma amiga que estava vendendo “tralha velha” herdada de seu pai. E sabendo a marca, contactou-me. Eu fiquei interessado em duas peças e encontrámo-nos.
Mas das que eu tinha sabido, uma não estava em condições, mas tinha ele uma mala cheia de “coisas” e acabei por trazer uma objectiva e um power winder para ME e ME super. Esta é a objectiva.
Dir-me-ão que é uma Tamron e não Pentax. Verdade. Mas não apenas não sou faccioso como tenho boa opinião da Tamron. Algumas, pelo menos. E uma das minhas favoritas é uma SP Adaptall2.
Esta, uma 200mm 1:3,5, não é SP. Mas pelo que pude saber, não lhe fica muito atrás que não no tempo. E está em perfeitas condições, excepto a tampa frontal que tem as molas partidas. 
Por aquilo de pouco que pude apreciar (falta de disponibilidade durante 48 horas e tempo bem nublado) está perfeita estética e opticamente. Aguardo pelo dia de amanhã, em que se prevê um sol mais descoberto, para ir fazer uns testes simples.
Mas, seja qual for o resultado, gosto do peso, gosto de como me fica na mão, gosto do equilíbrio... O facto de ter o estojo de couro original e em muito bom estado acrescenta-lhe qualidade e beleza.
200mm é uma distância focal que não abunda. Mas tem um ângulo de trabalho confortável. Tenho uma Tokina para PK que, coitada, está num estado lastimável, e uma Júpiter 21 que, além de ser bem pesada e desequilibrada (é uma focal longa e não teleobjectiva), tem montagem M42, o que faz com que mudar de objectiva no exterior seja complicado e pouco prático. 
Esta veio tapar alguma das minhas “necessidades”. Foi um bom negócio para todos os envolvidos, creio eu. 
Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

By me

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Modas e desafios

 


 

É verdade que sim! Também eu alinhei na moda.

Não que eu alinhe nas modas por serem modas e ter que andar na crista da onda. Mas há modas que, sendo-o, acabam por se transformar em desafio fotográfico. Pelo menos para mim.

Um exemplo disso foi a moda do “planking”, em que alinhei exactamente pela vertente fotográfica. E foi divertido contextualizar ideias na então moda juvenil e transversal a diversos continentes.

No caso, os paladares sugeridos nem sequer despertavam a minha curiosidade. E as piadas com edição fotográfica não passavam disso: piadas.

Mas há uns dias encostei-me ao balcão habitual para um café habitual e no escaparate atrás de quem ali trabalha, bem em evidência, uma embalagem contendo várias caixas disto. E pedi para ver o que lá estaria escrito.

E foi a minha vertente fotográfica que me fez acabar por comprar. A ponta da embalagem em preto com desenhos e letras em dourado brilhante seriam um desafio. Mais: a palavra “Dubai”, no seu verde pistachio também metalizado, intensificaram o desafio, levando-me a desembolsar o seu custo só para fazer fotografia. E, no momento em que escrevo estas linhas, a embalagem continua fechada, mesmo depois de fotografada.

E vai continuar até eu solucionar o que aqui não consegui: mostrar em evidência o metalizado.

A abordagem básica seria recorrer a uma lei da óptica: o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão. E tirar partido desse metalizado.

O problema colocou-se assim que liguei as luzes: o raio da caixa tem, toda ela, um acabamento semi-plastificado, o que faz com que, ao conseguir evidenciar o metalizado, todo o branco da caixa “estoire” de saturado, tornando a coisa inviável.

Estive quase uma hora de volta com o desafio e acabei por fazer uma trégua: para já precindo dos metalizados e fotografo a embalagem fugindo dos reflexos. Mas mantenho-a virgem, de modo a ela regressar, talvez com mais paciência e depois de conversar com a almofada.

Talvez acabe por recorrer a um sabonete, mas isso seria batota.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

Apeteceu




 Pentax K7, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Grilhetas




Não há pior servidão que aquela em que o servo se anula, por dentro e por fora, julgando fazê-lo em prol de um bem maior.

 

Pentax K1 mkII, Pentax FA Macro 100mm 1:3,5


By me

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Uma fotografia por dia nem sabe o bem que lhe fazia.




Esta é a versão portuguesa daquela outra em inglês: “ A picture a day keeps the doctor away.”

E uma das diversões da fotografia é, a partir de uma ideia ou objecto, encontrar a abordagem que melhor nos agrada e que, ao mesmo tempo, transmita a subjectividade que temos em mente. Nem sempre é fácil encontrar a solução que queremos e, por vezes, passo dias pensando no assunto. Quantas vezes com o objecto nas mãos ou apenas à vista, em busca mental para a imagem do conceito base.

Isto sempre recorrendo a cenários e objectos complementares úteis ou inúteis que tenho em casa.

A minha satisfação com esta fotografia ronda os 75%.

Do ponto de vista técnico está conseguida mas na sua subjectividade tem demasiadas leituras para o meu gosto. Provavelmente voltarei a este objecto, tentando limar as leituras adicionais e manter a ou as principais.

Mas para já dou o ensaio por concluído, partindo hoje para outro objecto da mesma família.

 

Pentax K1 mkII, Pentax FA macro 100mm 1:3,5


By  me

terça-feira, 8 de abril de 2025

Direitos e deveres




Esta fotografia tem uma vintena de anos.

Tive que recorrer ao EXIF para obter alguns dados técnicos a seu respeito.

A câmara foi uma DSLR Pentax K100d, com uns hoje considerados pobres 6 megapixel. Com um valor ISO de 800 e um tempo de exposição de 1/90.

Não tenho indicação da abertura, o que me leva a concluir (e pelo que sei da minha prática então e agora) que foi usada uma 400mm com um anel de extensão variável para poder ter foco a curtas distâncias. E com recurso a um mono-pé, para estabilidade adicional.

Isto implicou (e implicaria hoje) o recurso a exposição manual, tal como focagem manual. Mesmo que o despolido não possua “split screen” ou micro-prismas. Já a exposição aconteceu baseada na leitura da câmara e respectiva análise e compensação, considerando as áreas claras e escuras no enquadramento.

Tudo isto são deduções baseadas nas informações técnicas da imagem e na minha prática habitual.

 

Mas aquilo que sei, sem necessitar de recorrer a nenhum arquivo ou informação escondida, é que foi feita sem afectar de forma alguma o insecto.

Ou uma flor, se fosse esse o caso.

Em nenhuma circunstância me arrojo o direito de matar ou mutilar um ser vivo, animal ou vegetal, para meu deleite fotográfico.

Não preciso de EXIF’s para o saber.

O universo, nas suas diversas formas e aspectos, merece e tem direito ao mesmo respeito e cuidado que exijo para mim. E para mim quero vida e liberdade.

E se melhor eu não for capaz de fazer, isso será problema meu e nunca daquilo que fotografo.

 

Pentax K100D, Sigma 400mm 1:5,6


By me

Profissional




Há sempre aquela ideia do “Bora lá apimentar a coisa”, com o objectivo de obter novos e melhores resultados. Há circunstâncias em que resulta, outras resulta em caricato.

Um destas situações acontece no campo da publicidade. Em faltando argumentos para convencer os incautos das qualidades do anunciado, introduzem o conceito de “uso profissional” no texto ou na mensagem visual.

Com isto quer-se fazer passar a mensagem (e respectiva condicionante de comportamento do público alvo) de se os profissionais usam então é porque é bom e recomenda-se. E isto é utilizado em tudo quanto é artigos, de automóveis e utensílios de cozinha, de detergentes a vestuário.

As mais das vezes isto é o equivalente a anunciar a “banha da cobra, a que não estica nem dobra”.

A parte divertida disto é ver quem usa este “adicional”. Comum é encontrar nos sites de vendas entre particulares o termo “profissional”, usado por quem pouco ou nada entende da matéria, só para tentar com este isco fisgar alguém que ainda percebe menos que ele.

Há bem mais que um ano que se encontra num destes sites portugueses o anúncio a uma câmara igual a esta: Uma Pentax S1, fabricada entre os anos de 1961 e 1962. Por outras palavras, de uma época em que de digital só se conhecia a impressão e em que a eletrónica na fotografia pouco mais era que uma visão de futuro.

Pois quem a vende faz questão de dizer ser uma câmara sólida (nada a contestar), com boa imagem e de uso profissional. Não sei se na época os profissionais usavam esta câmara, mas hoje só se for um profissional de museu e colecionismo.

Admito que, durante algum tempo, tentei contactar o vendedor para juntar esse exemplar aos que por cá tenho. Nunca me respondeu e acabei por ser presenteado por um amigo com outro exemplar, que jazia num canto e sem utilidade alguma.

Quando vejo o termo profissional, mesmo aplicado a pessoas, lembro-me sempre da banha da cobra.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

 

By me

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Pontos de vista




Eu diria que no processo fotográfico existem quatro tipos de intervenientes:

Quem a imaginou e pediu, quem a executou, quem a utilizou e o consumidor final. Isto é válido desta forma na fotografia comercial, quer seja publicitária, de eventos, de informação...

Estes quatro grupos podem, e frequentemente acontece, fundirem-se: quem imaginou e pediu funde-se com quem utilizou, quem a imaginou funde-se com quem executou, quem imaginou e executou funde-se com quem utilizou...

Já o consumidor final é um grupo autónomo e anónimo: quem vê a publicidade, o album de família, a reportagem, a exposição.

Qualquer um destes grupos fica satisfeito quando um ou mais dos restantes grupos fica agradado com o resultado. Por qualquer ordem dos factores.

No fim de contas, a fotografia é uma forma de comunicação e quando ela acontece a contento de todos o seu objectivo cumpriu-se.

Há ainda um quinto grupo. Marginal na quantidade e “qualidade”. Aquele que funde num só os quatro referidos. O fotógrafo que faz o que faz porque lhe dá na bolha, porque tem prazer nisso, porque é daí que retira a sua satisfação emocional e intelectual e que, acima de tudo, não se preocupa nem um pouco com o que acontece com os outros grupos. Não lhe importa que gostem ou não, que tenham uma reação positiva ou negativa ao que faz. É o fotógrafo que evolui à margem das tendências, que funciona em circuito fechado dele para com ele.

Se a este se pode chamar fotógrafo é discutível. Utiliza a fotografia como meio ou suporte mas não como forma de comunicação. O que, desde logo, destroi o conceito da função original da fotografia.

No entanto, e acima de tudo, importa que o fotógrafo encontre prazer no que faz: solitário ou como um elo numa cadeia comunicativa.

O resto são números, na conta bancária ou nos likes.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Tarifas e consequências




Por aquilo que consegui perceber do que nos foi dito, a Colombia não faz parte dos países abrangidos pelas novas tarifas dos states.

Mas era de esperar!

Já imaginaram os tumultos se o preço do produto nas ruas aumentasse 25%?

Em compensação, Portugal vai ser fortemente atingido no sector vivícula. O que me deixa preocupado com os preços do precioso nectar nas prateleiras das lojas e a respectiva diminuição na minha mesa. Só por causa disso, vou ali beber um copito de branco à saúde de quem trabalha nas vinhas e nas adegas.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

 

By me

terça-feira, 1 de abril de 2025

Just for the fun




 By me

Velharia discreta


 


Aqueles que vão vendo o que por aqui vou publicando talvez já tenham constado que raramente exibo imagens de pessoas. Homens  ou mulheres, novos ou velhos, com mais ou menos roupas. E constataram bem.

Há vários motivos para isso.

Desde logo o respeito pela imagem de quem é fotografado. E muito se pode dizer sobre isto, trate-se ou não de modelos profissionais, tenham ou não autorizado o fazer da fotografia ou o seu uso posterior. Mas não vou enveredar por aqui agora.

Em seguida um outro aspecto, desde sempre contestado: o fotógrafo é um cobiçador. Não podendo possuir o pôr do sol, o objecto ou o sorriso, fica-se pela sua imagem, um ícone substituto do objecto cobiçado. E eu não almejo possuir alguém, corpo ou alma.

Por fim, e igualmente importante, o ser raro a imagem fotografada agradar ao fotografado em pleno. Quer se trate da forma, da pose ou o que se interpreta do registado. Na melhor das hipóteses, em não se tratando de um modelo profissional, sorriem agradecendo, sempre com alguma mágoa por este ou aquele aspecto estar evidente.

Ou, se preferirem, porque entendem que o implícito ou a leitura possível da imagem não corresponde ao que entendem de si ou querem mostrar aos outros. Quer se trate o ego elevado ou modéstia encapotada.

Este canudo é um exemplo.

Trata-se de uma impressão em preto e branco, com uns quarenta anos de existência e não muito bem conservada como se vê.

A pessoa aqui representada sempre contestou que se tratasse de um retrato mas tão só uma fotografia interpretativa. A minha visão dessa pessoa.

O que acaba por ter graça é que, com o passar dos anos, cada vez mais encontro semelhanças entre o original e o aqui iconificado. Tanto no então como no agora. Parecenças físicas e parecenças de personalidade e comportamentos. Ficarei sempre sem saber se antevi o futuro ou se a pessoa se foi moldando à imagem feita.

Com essa contestação permanente, fiz e tenho feito questão de não exibir a fotografia. Nem on-line, nem em exposições físicas, nem mesmo emoldurada e pendurada em minha casa. No fim de contas, há que respeitar a opinião de quem se disponibilizou ao fazer da fotografia. Mas sempre mantive o positivo guardado. Mal guardado, como se vê, acabando por ficar um rolo de papel que mantém na discrição do seu interior a prata que retrata. Física e psicológicamente, achei eu então e acho eu hoje. Cada vez mais.

Talvez um dia mergulhe fundo nas caixas de antanho, encontre o negativo original e faça uma digitalização. E talvez, só talvez, a exiba perante olhares estranhos ao fotógrafo e a quem foi fotografado.

Mas o original – este – irá manter-se assim: enrolado e discreto.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


 By me