Uma das recordações da minha infância é o do calor exterior
comparado com a frescura dentro de casa.
Esta era, por regra, acompanhada por uma espécie de
penumbra, já que as persianas, ou veneziadas, estavam descidas, impedindo a luz
solar e a sua radiação de entrar. Junto com a corrente de ar por ter as
vidraças abertas, era uma sensação bem agradável, quando comparada com a
agressão estival da rua.
Nada que hoje não se possa reproduzir em nossas casas,
alternando com os ares condicionados e o que implicam de comsumo energético.
Mas havia um detalhe então que hoje não é comum encontrar. Pelo
menos nas construções modernas: o modelo de persiana.
Tal como estas duas, permitiam descer até baixo mas
angula-las em relação às vidraças, permitindo uma franca circulação de ar sem
que a luz entrasse.
Já vão sendo raras, as janelas assim guarnecidas. Não sei se
por causa dos materiais com que são feitas, se pelo seu custo, se por
modismo...
Certo é que, em passendo aqui pelos nossos vizinhos
espanhóis, nas zonas onde o estio é violento, o sistema mantem-se mesmo que em
construções recentes.
Muito se fala em aquecimento global, em consumos energéticos,
em políticas verdes... mas o certo é que a civilização pouco se preocupa de
facto com isso, ou iria aprendendo com os antigos formas simples de climatizar
as habitações sem grandes tecnologias.
Um outro bom exemplo de como a civilização não se preocupa
com estas questões, é ver como as construções novas, com boas classificações
energéticas, não possuem estendais.
A roupa lavada deverá ser seca em máquinas de secar ou
estendias em estendais interiores e retracteis, que não se pode “desfeiar”
fachadas com cores e peças variadas. Perdendo as características humanas dos
espaços, transformadas em belas réplicas das maquetas a presentadas mas com
poucos sinais de por lá habitarem pessoas.
A habitabilidade e definição territorial do indivíduo
perde-se em favor dos gabinetes de arquitetura, posturas municipais e
uniformização dos espaços.
Já os cidadãos e o seu conforto e preferências pessoais mais
não são que consumidores obrigatórios, normalizados por códigos binários e
conceitos estéticos castrantes.
Nota adicional: esta fotografia foi feita numa bem fresca tarde
de inverno.
By me
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