quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Aprender com os antigos




Uma das recordações da minha infância é o do calor exterior comparado com a frescura dentro de casa.

Esta era, por regra, acompanhada por uma espécie de penumbra, já que as persianas, ou veneziadas, estavam descidas, impedindo a luz solar e a sua radiação de entrar. Junto com a corrente de ar por ter as vidraças abertas, era uma sensação bem agradável, quando comparada com a agressão estival da rua.

Nada que hoje não se possa reproduzir em nossas casas, alternando com os ares condicionados e o que implicam de comsumo energético.

Mas havia um detalhe então que hoje não é comum encontrar. Pelo menos nas construções modernas: o modelo de persiana.

Tal como estas duas, permitiam descer até baixo mas angula-las em relação às vidraças, permitindo uma franca circulação de ar sem que a luz entrasse.

Já vão sendo raras, as janelas assim guarnecidas. Não sei se por causa dos materiais com que são feitas, se pelo seu custo, se por modismo...

Certo é que, em passendo aqui pelos nossos vizinhos espanhóis, nas zonas onde o estio é violento, o sistema mantem-se mesmo que em construções recentes.

 

Muito se fala em aquecimento global, em consumos energéticos, em políticas verdes... mas o certo é que a civilização pouco se preocupa de facto com isso, ou iria aprendendo com os antigos formas simples de climatizar as habitações sem grandes tecnologias.

Um outro bom exemplo de como a civilização não se preocupa com estas questões, é ver como as construções novas, com boas classificações energéticas, não possuem estendais.

A roupa lavada deverá ser seca em máquinas de secar ou estendias em estendais interiores e retracteis, que não se pode “desfeiar” fachadas com cores e peças variadas. Perdendo as características humanas dos espaços, transformadas em belas réplicas das maquetas a presentadas mas com poucos sinais de por lá habitarem pessoas.

A habitabilidade e definição territorial do indivíduo perde-se em favor dos gabinetes de arquitetura, posturas municipais e uniformização dos espaços.

Já os cidadãos e o seu conforto e preferências pessoais mais não são que consumidores obrigatórios, normalizados por códigos binários e conceitos estéticos castrantes.

 

Nota adicional: esta fotografia foi feita numa bem fresca tarde de inverno.


By me

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