Estava escrito num muro
que fica a meio caminho de minha casa para o liceu.
Passado algum tempo, esse
caminho passou a ser o de casa para o trabalho, que muitas vezes fiz a pé.
Por isso o vi muitas
vezes, até ficar indelevelmente gravado na minha memória:
“Liberdade para todos,
menos para os fascistas”
Foi escrito naquele tempo
que se seguiu à revolução de Abril, prolífero em mensagens com sentido nas
paredes, umas mais simples, outras bem coloridas, algumas verdadeiras obras de
arte.
Esta, a preto sobre o já
não branco do muro, sempre me incomodou. Muito! Muito mesmo!
Qualquer um que me
conheça, por pouco que seja, saberá que não defendo a ideologia fascista. Ou
qualquer outra ideologia totalitária, seja qual for o quadrante.
A liberdade é algo de
sagrado na minha cartilha e limitá-la é pecado nela também. A liberdade dos
actos e a liberdade dos pensamentos.
O simples facto de alguém
pensar diferente de mim, por muito oposto que seja, não é motivo para lhe impor
castigo ou impedir de o pensar. Mais ainda: o facto de alguém defender em
público teorias que se opõem ás minhas, por mais opostas ou que me incomodem,
não me dá o direito de o fazer calar.
Liberdade é liberdade,
sem peias ou limites.
Não posso aceitar é que
teorias que me prejudiquem ou que prejudiquem outros sejam postas em prática.
Assim, quem tentar por em
prática teorias totalitárias terá a minha oposição, demonstrando publicamente o
seu erro e perigo e impedindo, mesmo que fisicamente, que as liberdades de
pensamento ou expressão sejam limitadas. Ou a segregação racial, ou religiosa,
ou sexual, ou económica, ou o que quer que seja.
Agora que o possam
pensar, que possam dizer o que pensam…
Se eu exijo para mim a
liberdade de pensar e de dizer o que penso, bater-me-ei para que os demais o
possam fazer. Mesmo que não concorde com o que dizem.
Será pantanoso este
terreno. Mas não poderei aceitar uma “polícia do pensamento”. Ou o regresso dos
lápis azuis. Ou a recuperação de um qualquer Tarrafal. Ou de goulags. Ou de
piras de livros. Ou de índex. Ou…
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