terça-feira, 29 de setembro de 2020

Regras, o tanas!


 


Encontro uma página onde se recomendam uma série, 47 para ser mais exacto, de dicas para quem quer iniciar-se na fotografia.

Não possuindo eu todo o conhecimento, gosto de dar uma boa olhada, já que sempre se pode aprender algo com a experiência dos outros.

Foi este o caso. Mas encontrei alguns “erros” que me arrepiaram.

Um deles foi o falar-se da regra dos terços. Caramba!

A regra dos terços é algo de que se não deve falar que não a gente que já lida com composição de imagem há algum tempo! E eu explico o porquê!

Desde logo porque quem está a aprender gosta mesmo é de regras. Que uma regra, dita por um mestre, é algo a seguir quase que religiosamente, mesmo quando ele diz que as regras são para serem quebradas. Até porque, pensam os novatos, “se isto é uma regra, se eu a usar não falho”. Nada de mais errado!

A regra dos terços, por si só, é inútil se não se ponderar tudo o mais que possa existir dentro dos limites da imagem: outros elementos, fundos, luz, cor, volumes…

Por outro lado, haverá sempre que considerar a importância e a facilidade ou dificuldade em interpretar os diversos elementos. Códigos, sinais, letras,…

Acrescente-se a figura humana e como ela interage com eles ou com a objectiva, mesmo estando em fundo.

A tudo isto, some-se o facto de a regra dos terços (ou o número de ouro) ser uma questão cultural, originária da Grécia antiga e recuperada pelo Renascimento até aos nossos dias no chamado “mundo ocidental”. Outras culturas não a usavam e não a usam. E ficamos encantados com o que produzem, nas suas proporções, na gestão de espaços e volumes, na facilidade em comunicar connosco. Mesmo sem a tal “regra dos terços”.

 

Aprendi eu, com alunos e formandos, que esta regra não se transmite numa primeira fase. Nem mesmo numa segunda fase.

Eventualmente vai-se sugerindo correcções de composição e questionando quem aprende sobre o que prefere. E mostram-se-lhes outros trabalhos de outros autores, onde ela, a regra dos terços, é ou não usada mas sem a ela se nos referirmos.

Só mais tarde, quando ela é naturalmente aplicada (ou não) por quem aprende, se lhes deve explicar a dita regra. Depois de se ter descoberto o equilíbrio de massas, o equilíbrio de luz, o equilíbrio de significados, a condução do olhar por linhas reais ou implícitas, os jogos de cor ou de cinzentos…

Nessa altura, quem aprende percebe que usa naturalmente essa regra mas que nem é de aplicação permanente nem de uso universal.

Matar a criatividade pessoal e a descoberta do belo com regras é o que de pior se pode fazer a quem começa e quer aprender.

E quem assim ensina, está mais preocupado em ensinar do que em o formando ou aluno aprenda.

 

Os meus cinco cêntimos, num assunto que não é pacífico.


By me

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