Encontro uma página onde se recomendam uma série, 47 para
ser mais exacto, de dicas para quem quer iniciar-se na fotografia.
Não possuindo eu todo o conhecimento, gosto de dar uma boa
olhada, já que sempre se pode aprender algo com a experiência dos outros.
Foi este o caso. Mas encontrei alguns “erros” que me
arrepiaram.
Um deles foi o falar-se da regra dos terços. Caramba!
A regra dos terços é algo de que se não deve falar que não a
gente que já lida com composição de imagem há algum tempo! E eu explico o
porquê!
Desde logo porque quem está a aprender gosta mesmo é de
regras. Que uma regra, dita por um mestre, é algo a seguir quase que
religiosamente, mesmo quando ele diz que as regras são para serem quebradas.
Até porque, pensam os novatos, “se isto é uma regra, se eu a usar não falho”.
Nada de mais errado!
A regra dos terços, por si só, é inútil se não se ponderar
tudo o mais que possa existir dentro dos limites da imagem: outros elementos,
fundos, luz, cor, volumes…
Por outro lado, haverá sempre que considerar a importância e
a facilidade ou dificuldade em interpretar os diversos elementos. Códigos,
sinais, letras,…
Acrescente-se a figura humana e como ela interage com eles
ou com a objectiva, mesmo estando em fundo.
A tudo isto, some-se o facto de a regra dos terços (ou o número
de ouro) ser uma questão cultural, originária da Grécia antiga e recuperada
pelo Renascimento até aos nossos dias no chamado “mundo ocidental”. Outras
culturas não a usavam e não a usam. E ficamos encantados com o que produzem,
nas suas proporções, na gestão de espaços e volumes, na facilidade em comunicar
connosco. Mesmo sem a tal “regra dos terços”.
Aprendi eu, com alunos e formandos, que esta regra não se
transmite numa primeira fase. Nem mesmo numa segunda fase.
Eventualmente vai-se sugerindo correcções de composição e
questionando quem aprende sobre o que prefere. E mostram-se-lhes outros
trabalhos de outros autores, onde ela, a regra dos terços, é ou não usada mas
sem a ela se nos referirmos.
Só mais tarde, quando ela é naturalmente aplicada (ou não)
por quem aprende, se lhes deve explicar a dita regra. Depois de se ter
descoberto o equilíbrio de massas, o equilíbrio de luz, o equilíbrio de
significados, a condução do olhar por linhas reais ou implícitas, os jogos de
cor ou de cinzentos…
Nessa altura, quem aprende percebe que usa naturalmente essa
regra mas que nem é de aplicação permanente nem de uso universal.
Matar a criatividade pessoal e a descoberta do belo com
regras é o que de pior se pode fazer a quem começa e quer aprender.
E quem assim ensina, está mais preocupado em ensinar do que em
o formando ou aluno aprenda.
Os meus cinco cêntimos, num assunto que não é pacífico.
By me
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