segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A coladeira




Acredito que a maioria das pessoas que vejam esta imagem não saibam o que é. Talvez algumas possam deduzir pelos elementos expostos e, talvez também, haja alguém que alguma vez tenha usado isto ou parecido.
Também entendo que o não saibam. Hoje os filmes são tratados no computador, com programas e menus mais ou menos evidentes e com recurso a manuais on-line e inclusos. Até porque o que não falta são páginas que ensinam como os usar.
Mas esta coladeira de cinema, em filme mesmo, é uma preciosidade! Está concebida para ser usada com solvente químico e não com fita adesiva, como uma outra que aqui tenho em casa e, pese embora o não bom estado de conservação da embalagem e algumas “descascadas” na tinta, está em perfeito estado, pronta a ser usada quase que como quando este era o único meio de juntar duas imagens animadas.
A sua idade? Não encontrei referências a este aparelho que mo dissesse com rigor, mas posso pensar que tenha a minha, mais coisa, menos coisa.
Onde o encontrei? Numa loja de artigos usados, na Amadora, loja que não conhecia e onde gastei uma boa hora de volta dos artigos que por lá estavam à venda.
O seu preço? Mais barato que o preço de um almoço médio num restaurante médio, quase do mesmo preço que dois rolos de fotografia em preto e branco, muito mais barato que a maioria dos livros “best seller” nas livrarias. A quase ninharia de 12 euros.
Para que me serve, hoje que não se encontra película de 8mm ou super 8mm à venda em Portugal e que, para ser revelada, tem que ser enviada para Espanha. Para que me serve se uma bobine de filme para 4 minutos de filmagem a 18 imagens por segundos não é reutilizada, se pode estragar, rasgando ou riscando, com facilidade e que implica ter um projector e tela para ser visto? Para que me serve se o processo de montagem é mais moroso, dispendioso e exigente, porque sem retorno, que os vídeos que se fazem com qualquer telemóvel, se começarmos a contar de baixo em termos de qualidade? Serve-me para juntar a uma outra coladeira, a uma moviola (visionadora de montagem), a um projector, a uma tela e a uma câmara que tenho guardadas quase religiosamente.
São parte do passado do audiovisual, numa época em que, antes de se fazer o que quer que fosse, se pensava seriamente no projecto. Custo e complexidade não davam azo a brincadeiras inconscientes. Mas uma época em que cada trabalho era Um trabalho e não apenas Mais-Um trabalho.
E serve-me para que, de cada vez que para essas “velharias” olho, lembrar que antes de fazer há que pensar. E ter algumas certezas.
Aqueles que hoje acedem a esta imagem e palavras rir-se-ão daqui a uns vinte ou trinta anos dos equipamentos que agora estão a usar. Espero que nessa altura se pondere um pouco mais que hoje, de cada vez que se registe uma imagem ou som.
E serve-me para deliciar os olhos numa peça feita numa época em que, e para além da função, a forma era igualmente importante e objecto de estudo aturado.
Manias!

Texto e imagem: by me

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