sábado, 31 de dezembro de 2011
O último
E porque há sempre
quem dê muita importância a estas coisas, aqui fica o último pôr-do-sol de
2011, visto da minha janela.
Desfrutem desta
aberta nas nuvens, como eu a gozei, e que a luz vos não falte nos próximos 365
dias.
By me
Uma questão de economia
Que o “Fast-food”
não é saudável para ninguém não é surpresa. Tem, no entanto, a grande vantagem
de, ao também não surpreender o palato, deixar a mente livre para outras
utilizações que se lhe queiram dar. A escrita é uma delas.
No entanto, e
tenho que o confessar, fiquei realmente surpreendido um destes dias.
Um restaurante
desta cadeia que aqui vedes estava cheio a deitar por fora. Suponho que não o
terão previsto, já que o número de pessoas a trabalhar era o de sempre. E só não
andavam numa fona de um lado para o outro porque cheguei quase no final do período
de almoço e notava-se-lhes algum cansaço.
Quando,
finalmente, necessitei de recorrer ao guardanapo, ia já na disposição de lhe
inverter a dobragem. É que têm a mania de o dobrar de acordo com o desenho e não
da forma que mais conforto na utilização dá.
Foi ao fazê-lo que
me caiu o queixo: mais um sinal da crise que atravessamos e de como, mesmo as
grandes cadeias, estão “nas encolhas”, poupando onde podem.
Repare-se como o logótipo
do restaurante está impresso a uma só cor, ao invés de duas, como aliás é apanágio
ver em tudo quanto é local que o mostre. Em geral, as letras estão a preto e o
desenho a vermelho.
Nem desconfio
quanto esta cadeia de restauração poupa com esta medida, mas bastante será que
ali se consomem mais guardanapos que pizzas.
Aliás, estas
economias forçadas não acontecem só aqui.
Uma outra grande
cadeia de restauração, também de “fast-food”mas desta feita de hambúrgueres,
passou a entregar palhinhas para os refrigerantes “lisas”, sem terem aquela espécie
de harmónio que permite dobrá-las.
Não avaliei, num
supermercado, a diferença de preço de umas para as outras, mas mais baratas serão
e, sem alterar preços nem qualidade, reduzem-se despesas.
Não defensor deste
tipo de alimentação ou de cadeias de lojas, ainda que as frequente. Pagam mal,
facturam muito e o que fornecem não é do melhor.
Mas uma coisa é
certa: quem as gere é perito em fazer dinheiro, pelo que alguns exemplos podem
ser seguidos.
Texto e imagem: by
me
Sobre um soneto
Cá nesta Babilónia
Cá nesta Babilónia,
de onde mana
Matéria a quanto
mal o mundo cria;
Cá, onde o puro
Amor não tem valia,
Que a Mãe, que
manda mais, tudo profana;
Cá, onde o mal se
afina, o bem se dana,
E que pode mais
que a honra e a tirania;
Cá, onde a errada
e cega Monarquia
Cuida que um nome
vão a Deus engana;
Cá, neste
labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber
pedindo vão
Às portas da
Cobiça e da Vileza;
Cá, neste escuro
caos de confusão,
Cumprindo o curso
estou da natureza.
Vê se me
esquecerei de ti, Sião!
Luís Vaz de Camões,
in “Sonetos”
Imagem: by me
Bom ano!
Um bom ano de 2012
se for Cristão.
Um bom ano de 2068
se for Indú.
Um bom ano de 5770
se for Hebreu.
Um bom ano de 2138
se for Budista.
Um bom ano de 1433
se for Islâmico.
Um bom ano, e
todos os que se lhe seguirem.
By me
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
'Tou às escuras com esta
Curioso mesmo é
pensar que a maioria parlamentar portuguesa, bem como o governo de Portugal,
defendem a retirada do Estado do mundo dos negócios. “Menos Estado, melhor
Estado”, ou algo parecido.
Acontece que para
pôr em prática esta política, vende a EDP a uma empresa que é propriedade de um
Estado. Um outro Estado.
Por outras
palavras, aquilo que não queremos (não querem eles, os do governo) para nós,
vendemos a preço de saldo a outro país para que ele possa engordar com as políticas
que não queremos (não querem eles, os do governo) para Portugal.
Pergunto-me se
para impor uma sociedade liberal (ou neo-liberal) haverá que alimentar com o
que produzimos uma sociedade socialista de partido único.
Texto e imagem: by
me
Ditados populares
Nem só de pão vive
o Homem. Também há o vinho, naturalmente!
Mas, para mim, não
fotografar é quase pior que não comer ou não beber.
Nem sempre o
resultado é perfeito, ou mesmo sofrível. Mas também nem sempre se come pão
fresco ou bebe a melhor colheita.
Desde que se coma,
se beba e se fotografe…
By me
Escalas
As cerdas, hoje, são
em nylon, os caixotes em plástico e já quase ninguém os conhece por “Almeidas”.
Mas são aquelas
pessoas que têm aqueles ofícios que ninguém quer, que quase ignoramos que
existem e que, como se tudo isso não bastasse, ganham misérias.
Mas não se enganem
os incautos, que de miseráveis nada têm. É que, por vezes, os extremos de uma
escala de valores ocupam os lugares cimeiros noutras escalas.
Este estava junto
ao seu carrinho, fumando um cigarro e de conversa com um vizinho aqui da rua.
Bem disposto, vi-o e ouvi-o a meter conversa simpática com duas senhoras que
passavam, perguntando-lhes se o cesto que acabavam de comprar era para deitar
fora que ele ficava com a coisa. Risos, ao sol de Inverno, e aquilo ficou por
ali.
E, enquanto eu
mesmo acabava o meu cigarrito à porta do “meu” café, oiço-o gritar:
“Oh patroa! Oh patroa!”
Olho eu e vejo
para onde olhava ele. No café logo abaixo, que tem uns sete degraus de acesso
ao seu interior, uma outra vizinha estava parada, com o seu carrinho de bebé.
“Oh patroa! Quer
que a ajude?” continuou.
E sem esperar
resposta, ei-lo a correr aqueles vinte metros para a ajudar a subir com o
carrinho.
Se a profissão de “Almeida”
está num dos extremos da escala social, o coração deste está bem no outro
extremo na escala de Ser Humano!
Texto e imagem: by
me
P'la janela
Há quem diga que é
só até ao meio-dia.
Outros argumentam
que a fronteira é o almoço.
Encontrei uma vez
alguém que, para evitar as discussões, o usa enquanto o sol estiver acima do
horizonte.
Seja como for,
aqui fica um desejo sentido, reforçado por aquilo que me entra p’la janela:
Bom dia!
By me
Perspectivas ou relativizando o tempo!
Duas pessoas
almoçam marisco estragado.
Quando a urgência
do sanitário se impõe, ambas correm para ele, mas uma chega primeiro que a
outra e entra no único cubículo existente.
Quanto tempo
pensam que dura um minuto para quem está lá dentro e para quem ficou cá fora?
By me
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Horizontal
A questão da
fotografia recorrendo ao enquadramento integral e fazer disso um estilo de
imagem, é velha.
Não querendo entrar
em polémicas, entendo que é pouco prático e que a maior parte das pessoas não o
usam. E, em democracia, a maioria tem razão.
O problema
levanta-se, desde logo, porque raros são os laboratórios que imprimem
integralmente as imagens que lhes entregamos. E como os formatos de papel
standard não é consentâneo com o formatos da câmaras, algo será “cortado”, na
horizontal ou na vertical.
Em seguida, temos
que a imagem original raramente é vista. Exceptua-se o diapositivo (ou slide).
Todo o processo digital implica converter a imagem formada sobre o sensor em
impulsos eléctricos, estes em códigos digitais, estes em impulsos eléctricos
que, por sua vez, serão transpostos para o papel ou para um ecrã. Em tudo isto,
há sempre intermediários, automáticos ou não, que alteram ou mesmo subvertem o
resultado da passagem da luz através da objectiva.
Considerando tudo
isto, o uso de editores de imagem que acrescentem, retirem, ajustem, melhorem
aquilo que o fotógrafo quis fazer aquando da obturação é aceitável.
Diria mesmo que
recomendável, quando não conseguimos nessa altura aquilo que queremos mostrar. Ou
porque nos falhou qualquer detalhe técnico ou porque é essa alteração que irá
fazer passar a mensagem ou sentimento que se quer.
É exactamente por
isso, por ser possível e por ser recomendável, que me incomoda, me faz saltar a
tampa, me faz mesmo evitar ver as imagens que têm o raio do horizonte torto.
Muito principalmente quando esse horizonte é no mar.
Sabemos que a
linha do horizonte não é uma recta mas antes uma curva, já que o planeta é
quase esférico. Mas estar o mar a tombar para a esquerda ou para a direita… Não
só denuncia que esse detalhe não foi considerado na tomada de vista como também
não foi visto no tratamento posterior.
Claro que o mar
pode estar torto propositadamente. Interpretação subjectiva sobre um qualquer
assunto. Infelizmente, imagens dessas serão menos que 0,0001% de todas as
fotografias que têm o mar torto.
E, para aqueles
que lêem este meu desabafo meio cáustico, fica uma pergunta: aceitam ter em
casa, ou numa exposição, um quadro pendurado ligeiramente torto? Ou está
direito ou está assumidamente de lado.
Ver um quadro
assim, na parede, dá vontade de o ir endireitar. Tal como dá vontade de
endireitar o mar descaído de certas fotografias.
Texto e imagem: by
me
Piada velha por pão quentinho
Confesso que é
daquelas a que não resisto. Velha como a Sé de Braga mas, para muitos, novinha
em folha.
Em entrando no café
aqui da rua para comprar pão, diz-me uma empregada que já me conhece:
“É café?”
Como resposta:
“Quem? Eu? Não!
Sou mesmo uma pessoa. Mas o que eu quero é uma bica e duas bolinhas, por favor.”
Fica ela a olhar p’ra
mim, ficam os demais clientes, que me viram entrar a coxear, a olhar p’ra mim,
um sorriso colectivo, e eu lá bebo o meu cafezinho, pago e saio. Com a câmara
dependurada no ombro, o meu pão quentinho e a satisfação de ter feito sorrir
alguém hoje.
Texto e imagem: by
me
Solzinho bom
Ai se eu encontro
o meu anjo da guarda, que deve ter ido passar a quadra festiva aos mares do sul…
Feito este
desabafo, tenho mais é que lhe agradecer, ao anjo da guarda. É que aquela
maldita calha onde pus mal o pé já foi por mim pisada, sem exagero, umas
centenas de milhares de vezes sem que daí visse mal ao mundo ou aos meus
artelhos. A mim ou a todos os outros que por lá têm passado incólumes.
Portanto, o meu
anjo da guarda tem feito o seu trabalhinho bem feito. E, se por uma vez, ele
estava distraído ou a gozar férias bem merecidas, não me posso zangar.
Apesar disso,
digam lá:
Não é mesmo uma
tristeza danada estar um dia tão bonito, com tanto Sol, e ter que se ficar fechado
em casa?
Texto e imagem: by
me
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Entrudo
Chama-se… Não
importa como se chama, pronto!
Mas tem dezoito
anitos e um sorriso simpático, ainda que, por vezes, um pouco triste. O que me
não espanta, já que sei um pouco do que ela trabalha para ganhar a vida e do
que está a passar do ponto de vista emocional.
Mas é simpática e
dinâmica.
Pois ela não
sabia, para espanto de alguns de nós do lado de cá do balcão, o que é o
Entrudo. Tal como não sabia o que são os Domingos Gordos e Magros, a
Quarta-feira de Cinzas ou a Quaresma. Enfim, sabia quem era “O” Quaresma, mas não
“A” Quaresma.
Exactamente a
mesma que, há uns bons meses atrás, me disse que tinha lido apenas um livro (do
qual sabia todo o enredo de faca-e-alguidar). Espero que, entretanto, tenha
lido o “Principezinho”, que então lho comprei e ofereci.
Nem sempre é fácil
quebrarem-se as barreiras do desconhecimento. Umas vezes porque não sabemos
aquilo que desconhecemos. Outras porque se está fechado de tal forma em torno
do “tem-que-ser” que todo o resto fica de fora.
Faço ponto de
honra que, ladeando o meu caminho, fiquem alguns indícios daquilo que se pode
aprender. Um nico aqui, um pouquinho ali, um nadica mais acolá. A troco de quê?
Bem, como disse vezes sem conta no Jardim da Estrela, as coisas boas da vida não
se obtêm a troco de dinheiro. E saber que outros alargaram os seus horizontes não
tem preço!
Texto e imagem: by
me
Brincando com coisas sérias
Não é uma questão
de superstição, mas quem sabe se não será o início de uma mudança radical.
Desde que me
conheço que tem sido a minha perna esquerda a sofrer de maleitas e acidentes. Foi
uma intervenção cirúrgica, que me pôs seis meses a andar de muletas, foram várias
entorses, uma das quais com direito a baixa e inviabilizando um projecto de
reportagem fotográfica alargada, foi uma inflamação no nervo ciático, petisco
que não recomendo nem ao mais valente, foi um cravo no pé que teve que ser
queimado… isto e mais uma série de outras pequenas coisitas, daquelas que podem
acontecer aos membros inferiores, sempre na perna esquerda.
Entretanto o país,
talvez porque ia vendo a perna direita saudável, ia virando para esse lado,
chegando ao ponto em que nos encontramos hoje, com a direita política pujante e
activa, fazendo o que quer, enquanto que a esquerda política vai protestando
como pode, mas sem grandes consequências. Para mal de todos nós, é o que se vai
constatando.
Hoje, para mui
grande surpresa minha, foi a vez da direita me deixar mal. Como consequência
temos um, uma vez por dia; outro, duas vezes por dia; outro ainda, três vezes
por dia; um quarto em permanência durante todo o dia; e um último, que já cá
tinha a título de decoração, que será usado em caso de necessidade.
Acrescente-se uma semana de inactividade quase total.
Com um pouco de
sorte, se desta vez é a perna (o artelho, para ser mais rigoroso) direita a
chatear, talvez o país mude de rumo.
Ok, quando olho
para o espelho também penso ser o Pai Natal, portanto não se admirem. Mas a
primeira parte da equação está certa.
Texto e imagem: by
me
Cores de inverno
E não, não é
preciso fazer saídas demoradas nem andar em busca do assunto ideal.
Pode acontecer tão
simplesmente quanto no relvado do trabalho, imediatamente antes de se entrar ao
serviço, e sob os comentários jocosos de colegas.
Talvez que invejosos,
já que o seu rápido caminhar, em busca do eventual conforto do ar condicionado,
não lhes permitiu ver, mesmo sob a friagem matinal, aquilo que a luz baixa
revelava.
By me
Fatia
Caramba!
Como me sinto
satisfeito por alguém ter escrito nesta embalagem a palavra “FATIA”!
É que poderia alguém
(eu) na sua (minha) ingenuidade, pensar que isto era todo o bolo e pedir uma
fatia apenas, ficando com algo com espessura e translucidez suficiente para, sei
lá, remendar um vidro partido.
E não! Não comprei
nem comi esta fatia de salame. Se o fabricante pensa que sou suficientemente
estúpido para ter que ser informado que se trata de uma fatia, eu sou suficientemente
orgulhoso para não aceitar este tipo de lições.
Além do mais, se
ele gasta tempo e tinta para imprimir isto, sei lá que mais terá ele gasto para
o confeccionar.
Texto e imagem: by
me
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Almoço e café de natal
Juntámo-nos os três
no autocarro: o seu motorista, eu mesmo, com a sacola às costas e a câmara no
ombro e a freira de cinzento, que comigo subiu. O resto… o resto era uma
imensidão de bancos vazios, que p’las duas e pouco da tarde de natal poucos são
o que andam de autocarro.
Ao subirmos,
avisou-nos o motorista com bonomia que tivéssemos atenção, pois que o fazer
sinal de paragem ao autocarro, com ele tão perto, não é garantia que seja visto
a tempo e que pare.
Pedi desculpa e
agradeci, pois tinha sido o caso, e segui para o fundo. Mas a boa da freira,
que se sentou no banco junto à porta, é que não esteve pelos ajustes e
protestou, afirmando com veemência que tinha-o feito com antecedência.
“Temos discussão”,
pensei. “O melhor é ir pôr água na fervura!” E regressei para junto da porta da
frente, ficando a meia distância entre quem conduzia e quem era conduzido, o
primeiro com bom-humor, a segunda deixando escapar entre-dentes um conjunto de
protestos contra tudo e todos, pouco consentâneo com as vestes e o terço que
trazia na mão.
E fomos palrando,
eu e o motorista da Carris, que me parecia que, mais que sinais visíveis,
queria ele era quebrar a solidão de uma autocarro vazio.
Da visibilidade
dos sinais dos passageiros à visibilidade das bandeiras dos autocarros,
passando por carreiras mais ou menos movimentadas nestes dias, houve de tudo um
pouco.
Mas a maior
preocupação dele era, sendo novato nesta linha, nesta tarde de natal onde
poderia almoçar no local de terminus da carreira, ali ao Calvário.
Dei-lhe uma ou
duas sugestões, sem garantias de estarem abertos neste dia, e terminei
alvitrando que na esquadra de polícia, mesmo pertinho da paragem, haveriam de
saber.
Desci ao cimo da
Alvares Cabral, com a esperança de poder tomar um café na esplanada do Jardim
da Estrela. Dos votos de “Boas Festas” com que me despedi, ouvi dele um “Igualmente”.
Da freira, cinzentona por fora e por dentro, nada ouvi que não o seu resmungo
que não sei se oração. Espero que tenha ido encontrar conforto e bom-humor onde
quer que tenha ido. E que não tenha azedado por antecipação o almoço daquele
simpático e bonacheirão motorista da Carris.
Um daqueles que,
nestes dias, estão a trabalhar e de quem nem notamos a presença.
Texto e imagem: by me
Mesmo na tarde de natal
A cidade tem as
suas figuras características, algumas vezes conotadas com algum “desarranjo” na
caixa dos pirolitos.
Eles eram, em
tempos, os internados no hospital da Av. Do Brasil, que pelas grades ou mesmo
na rua, pediam cigarros;
Ele era o polícia
sinaleiro bailarino, que geria o tráfego com passos dignos de um qualquer
palco;
Ele era o Senhor
Adeus, que saudava quem passava na rua.
E muito outros,
mais ou menos visíveis, que com os seus actos incomuns quebram a rotina da
cidade.
Alguns há que
quase se não dá por eles, na sua discrição. Este é um deles.
Conheço-o há mais
de cinco anos, nas minhas idas como fotógrafo À-Lá-Minuta no Jardim da Estrela
ou como mero passeante por ali.
Todas as tardes em
que lá estive o vi, sentado num banco. Ao sol, se de Inverno, à sombra, se de
verão.
Chega como sai,
sem falar com ninguém, sem mesmo saudar com um gesto os demais utentes
habituais. Nem mesmo um sorriso o vi fazer.
Mas nunca fica sozinho!
O seu hábito é dar de comer aos pombos que, sabendo-o, vão ter com ele, amigo
de longa data que é.
E vão-lhe comer à
mão, deixando-se agarrar como um cachorrinho e depenicando do que lhes trás ao
bico.
Deve ele conhecê-los
a todos, quiçá ter-lhes-á dado nomes, pois que enxota os repetentes, fazendo
questão que todos tenham o seu quinhão.
No Jardim da Estrela
há bancos certos para visitantes certos. Juntam-se em grupos mais ou menos
constantes, senhoras com senhoras, homens com homens. E, na tarde do dia de
natal, alguns por lá não estavam, talvez que na “terra”, com as suas famílias.
Mas nenhum tem
tantos amigos quanto este, cuja história e nome não sei.
Texto e imagem: by
me
Manhã 25 Dezembro 2011 na Cidade
Nasce o sol
Aquele eterno problema, mesmo quase de madrugada, de os cidadãos colocarem o lixo nos e junto aos contentores, mesmo sabendo que neste dia não haverá recolha.
Tão ou mais grave que isso é sabermos que a esmagadora maioria desse lixo é inorgânica, pelo que pode, perfeitamente, esperar um dia (ou mesmo mais) em casa sem que isso atrapalhe ou provoque cheiros.
Às oito e meia da manhã em dia de greve de maquinistas, espera-se o comboio que cumprirá o serviço mínimo o faça. Que o anterior passou duas horas antes e o seguinte passará duas horas depois.
Cumpriu-se o decretado, felizmente.
A bordo do comboio, três senhoras vão à conversa.
O tema genérico é, como não podia deixar de ser, a greve dos comboios e como isso perturba a vida de cada um.
Uma dela diz-se particularmente preocupada, já que trabalha no lar de idosos. São quatro neste turno, já lá devia estar há uma hora e sabe que só lá está um colega, que as outras duas estão com os mesmos problemas de transportes.
E, como as cancelas estão abertas, que não oblitera o bilhete. O revisor que viesse que logo ia ver e ouvir.
Não veio, que estava no extremo da carruagem apenas a fazer o comboio seguir em cada estação, deixando de parte a questão das validações e verificações.
Pergunto se esta vertente da greve terá sido equacionada pelos grevistas ou abordada pelos media.
Não me recordo de ver a Rua Augusta tão vazia, incluindo de esplanadas e luminárias natalícias.
A Rua Garrett vazia não é novidade, mas também é estranho, mais ainda se equacionarmos que nada se ouvia na cidade.
O Largo do Camões, sempre tão cosmopolita e internacional, de tão vazio estava que nem pombos tinha.
Mesmo o próprio presépio na cidade primava pela ausência de personagens.
Quem sabe se procuraram, e bem longe tiveram que ir, por um café ou tasca que lhes servisse uma bica p’ra aquecer?
Admitamos a raridade da situação:
Nunca eu tinha visto as costas da cadeira que ladeia a estátua do Fernando Pessoa, sempre tapada por um casaco ou camisa de um turista que ali se quis fazer fotografar.
É que até é bonita, o raio da cadeira.
Para além de meio da manhã, a baixa Lisboeta encheu-se.
Principalmente de turistas, com estranha e abundante presença de orientais: casais, famílias, idosos.
E abriram alguns negócios, maioritariamente encabeçados por gente de outros continentes que nada devem ao Natal.
E, nesta questão dos negócios, duas coisas me surpreenderam à séria:
As bancas de artesanato da Praça do Comércio, que ali assentaram arraiais talvez por ser Domingo;
A ausência de velhos conhecidos ciganos que tentam fazer p’la vida também neste dia, com os seus relógios e óculos genuinamente falsificados e outros produtos também não recomendáveis.
Pergunto-me por onde andarão eles.
Dos portugueses, alfacinhas ou migrantes para a grande cidade, quase só vi idosos.
Boa parte deles a caminho das igrejas, para a missa de Natal ou só pelo hábito.
Dos portugueses, alfacinhas ou migrantes para a grande cidade, quase só vi idosos.
E gente que se deslocava, lentamente ao sol, mais rápido na sombra, tentado que aquele lhes aquecesse os ossos cansados da friagem desta.
Dos portugueses, alfacinhas ou migrantes para a grande cidade, quase só vi idosos.
E, caramba, quase tantas bengalas quanto casacos.
Quando cheguei ao Rossio, já ela ali estava.
Sentada ao sol, no frio banco de pedra, ladeada pelas duas malas de grannde porte e um saco de plástico.
Ali, parada, sem nada fazer, apenas estando.
A única coisa que lhe aconteceu, enquanto eu passava, foi um agente da Polícia Municipal, na sua ronda apeada, tê-la abordado, dizendo-lhe que não poderia ali estar. Não foi convincente, pois ela ficou e ele seguiu.
Duas horas depois, quando por lá passei de novo, continuava ela no mesmo lugar, na mesma pose e com a mesma companhia. Incluindo o mesmo agente policial que lhe terá dito o mesmo, que desta vez não ouvi.
E com o mesmo efeito.
Para onde terá ido ela, quando o banco ficou à sombra?
E depois há os outros. Aqueles que também estão sós e que fazem de tudo para meter conversa.
O pretexto pode ser um cigarro, uma informação, uma moedinha ou uma fotografia ao Pai Natal sem gorro e com mochila.
Com estes faço negócio: em troca do que pedem quero uma fotografia.
Desta feita sem nome. Talvez José, quem sabe?
domingo, 25 de dezembro de 2011
As panelas de Natal
Todos nós temos
episódios na vida. Instantes que mais não duram que isso mesmo: instantes! O que
os faz perdurar é a memória de quem os viveu ou presenciou.
Mas a memória mais
não é que uma copia do que foi e não se repete, por muito que se queira. Aliás,
nem é bom de repetir, pois que a ignorância do futuro é o que nos faz apreciar
o presente.
Mas, tal como as
fotografias que registam momentos irrepetíveis e que são vistas e revistas,
também certas estórias são contadas e recontadas por hábito. Ou porque o
contador se repete porque se esqueceu que a contou, ou porque o contador
entende que, ainda que repetida, se adequa à situação ou momento.
Em qualquer dos
casos, aqui ficam duas repetições: uma fotografia e uma estória, ambas as vivências
irrepetíveis:
Panelas de Natal
A tradição
familiar dizia que o Menino Jesus descia pela chaminé para pôr prendas no
sapatinho.
Assim, depois do
jantar, a cozinha era imaculadamente arranjada, o fogão forrado com papéis “bonitos”
e os sapatos colocados em cima deles.
Na manhã de natal
os pequenos, depois de toda a família acordada, eram autorizados a entrar na
cozinha onde, para deslumbre total, lá estavam os presentes. Poucos, que os
sapatos eram muitos, mas apetecidos e apreciados.
O mais velho dos
quatro foi, naturalmente, o primeiro a ser informado da verdadeira história e a
ser incluído na cerimónia da colocação das prendas. Depois do fogão decorado e
os mais pequenos terem recolhido à cama, foi a sua vez de colocar as prendas
para toda a família, indo então deitar-se, que não poderia ver as que lhe eram
destinadas antes dos outros acordarem.
Acordou ele a meio
da noite, com vontade de urinar, e dirigiu-se à casa de banho. Mas logo lhe
passou a vontade.
Com receio que
furasse o bloqueio à cozinha, tinham atado uma cadeira com tachos e panelas ao
puxador da porta do seu quarto. Quando a abriu, tudo se espalhou pelo chão,
acordando a casa por inteiro.
Não me recordo, ao
certo, qual ou quais as prendas que recebi nesse ano. Tenho a vaga ideia de ter
sido um “Renault 16” do “Tour de France” que esventrei e em cujo interior
coloquei um pesado íman de bicicleta. Com ele ganhava toda as provas de
todo-o-terreno que na rua se faziam.
Mas ainda hoje,
quando a família se reúne, ninguém me acredita que, então, só queria mesmo ir à
casa de banho.
Texto e imagem: by
me
sábado, 24 de dezembro de 2011
Brinde
Para os que gostam
e podem, um cálice de Porto.
Para os que não
gostam ou não podem, um copo de tinto.
Para os que nem
isso, um pouco de água.
Em qualquer dos
casos, Saúde!
By me
Indicadores
Haverá, estou
certo, quem use para definir o estado económico da país, indicadores científicos,
concebidos por doutos lentes de economia.
Por mim, sou bem
mais comezinho: uso o que vejo no dia-a-dia, comparando essas informações
visuais ou a troco de conversas com o percebido em dias ou meses anteriores.
Nada de científico, mas muito palpável.
Já fui tarde para
comprar o bolo-rei, este ano. Eram quase seis da tarde quando entrei na
pastelaria aqui da rua.
Contava eu que, a
esta hora, tivesse que ficar com as sobras, ou muito grandes, ou muito
pequenos.
Pois a essa hora pude
escolher o que quis, forma e tamanho. E, em querendo também, haveria outras
iguarias doces para comprar, de sonhos a rabanadas, de broas de milho a troncos
de natal.
Não acredito que
tivessem feito em excesso, este ano. O arrumar da sala assim mo disse. Tal como
mo disse o sorriso de uma das senhoras que ali estava, destacada para a doçaria,
quando entrei.
O que se passa? Não,
agora não me apetece dizer!
Mas não creio que
algum de vós o não saiba!
Texto e imagem: by
me
Xmas tree
Esta é a minha árvore
de natal.
Cheia de bolinhas
bonitas de dia e forrada de estrelas de noite.
Com a vantagem
adicional de a poder partilhar com todos os que passem nesta rua.
By me
Filas, e filas, e filas
Ir às compras num
sábado de manhã exige uma boa dose de paciência. O dobro se for fim do mês. O
triplo se esse sábado coincidir com a véspera de natal.
Portanto, além do
saco das compras (recuso os sacos de plástico dos super’s) da câmara fotográfica
(que nunca falta) e de algum, pouco dinheiro, enchi o bolso de tolerância e
paciência e fui.
Cheio, como não
dia deixar de ser, com os corredores apinhados, todas as caixas em
funcionamento e filas quase intermináveis para cada um delas.
Fiz aquilo que faço
sempre, nestas datas ainda mais necessário: em chegando à fila para pagamento,
guardei um espaço entre mim e o cliente que me antecedia, criando assim espaço
para que quem quisesse passar paralelamente às caixas o fizesse, sem ter que
andar em zig-zag e a pedir passagem, sempre dada de má-vontade.
Cheguei-me à
frente apenas quando já só tinha um cliente em espera, na esperança que, atrás
de mim, fosse deixado um espaço equivalente. Em vão!
Aquele fulano, na
casa dos vintes, entretido com uns SMS’s e com dois ou três artigos na mão,
logo se encostou a mim e, atrás dele, uma familória de quatro saudáveis pimpolhos
mais os respectivos progenitores.
Com um sorriso tão
natalício quanto o possível, perguntei ao cavalheiro se sabia porque eu tinha
deixado aquele espaço vago e se não poderia ele fazer o mesmo, facilitando a
vida a quem passava.
“Que peçam
passagem, que é como eu faço! E logo vejo se me afasto ou não! Além do mais,
está incomodado por me ter encostado ao seu cesto de compras?”
“Não, não se
preocupe com isso! Bom Natal e paz na terra aos homens de boa-vontade.” Foi o
que ouviu de volta, mostrando eu um sorriso amarelo por entre a minha barba
branca.
Atrás, a mãe da
ranchada de filhos que ouviu a conversa, sorriu também e, como pôde, lá arrastou
um metro o seu carrinho cheio, bem como a pequenada que a acompanhava, deixando
o tal espaço simpático para que os demais passassem.
Há uns anos
disse-me alguém que “Não se pode matar um leão todos os dias!” Mas uma leoa
também serve.
Texto e imagem: by
me
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Uma história
Um photógrapho é
um recolector das histórias dos outros. Un cronista também. Diferencia-os a luz
da tinta. Mas que dizer de um photo-cronista?
Esta história, que
a reconto tal como dela me recordo, foi-me contada em primeira-mão:
“Vivia sozinho e o
meu orgulho impedia-me de ir pedir ajuda aos pais, apesar de, naquela altura,
os pagamentos da empresa onde trabalhava estarem atrasados. Naquele dia não
tinha dinheiro nem para tomar um café. Revirei tudo em casa em busca de uma
moedinha que fosse e nada.
Acabei por me
meter no carro e ir a casa de uma amiga, que me poderia emprestar algum, pouco,
para os dias que ainda faltavam até vir o guito.
Mas acabei por me
enganar no caminho e entrei na via-rápida no sentido oposto. Com a pouca
gasolina que tinha, não sabia se daria para inverter a marcha mais à frente,
pelo que decidi seguir em frente e ir a casa de uma outra amiga, que me haveria
de ajudar.
Não estava em
casa. Mas estava lá uma amiga dela. Não nos conhecíamos, mas já ouvíramos falar
um do outro. Ajudou-me.
É hoje a minha
mulher.
E se isto não é
uma bonita história de necessidade, coincidências, solidariedade e final feliz,
adequada à época que atravessamos, não sei o que o será.
Texto e imagem: by
me
Votos festivos
Juro que é
daquelas coisas que me fazem sair do sério: o egoísmo do ser humano!
Nesta época vê-se
meio mundo a desejar “Um bom Natal” e “Um bom ano novo” ao outro meio, e vice
versa.
Só que, caramba,
se têm votos de coisas boas a dar, não digam apenas “UM”.
Que eu faço questão
que tenham todos os Natais e todos os Anos Novos bons, de preferência sempre
melhores que os anteriores.
By me
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