A nossa existência está prenhe de códigos.
Conduta, vestuário, binário, morse, ... até o escrever é
feito de códigos.
A alguns desses códigos nem prestamos atenção em demasia,
como o falar, outros será particularmente grave não os seguir, como o de
estrada.
Servem os códigos para organizar as relações entre pessoas,
para que um acto de um seja bem interpretado pelos demais. Recordem a
dificuldade em aprender caligrafia e ortografia, dois códigos bem mal seguidos
nos tempos que correm.
A alguns desses códigos damos o nome genérico de etiqueta. E
não me refiro às etiquetas apostas nos objectos, como roupa para identificar
fabricante e qualidade, ou embalagens, para identificar preços ou valores.
Falo da etiqueta social, que rege comportamentos. A forma de
cumprimentar um recém chegado, o cobrir ou descobrir a cabeça ao entrar num
templo, quem se senta ao lado de quem a uma mesa de refeições.
E as mesas de refeições são um verdadeiro labirinto de etiquetas
ou códigos sociais. Qual o copo certo para um determinado líquido, onde fica e
qual é cada um dos talheres, de que lado se serve ou se retira a baixela...
Alguma desta etiqueta, como os restantes códigos, é muito
condicionada pela geografia ou, se preferirem, pela cultura que a pratica. E aprendemos
a etiqueta, ou o comportamento, desde pequeninos: como estar à mesa e o que
fazer. Quem é o primeiro a sentar, mesmo quando todos já estão em redor, a
posição das costas ou o lugar dos cotovelos, como segurar o talher...
Um desses conjunto de códigos refere o que fazer em terminando
a refeição ou parte dela: o que fazer com os talheres.
Manda a etiqueta que devem ser colocados em paralelo, com o
cabo para o mesmo lado. E que nunca, mas nunca, devem ser colocados cruzados,
já que os códigos definem isto como “não gostei do que comi”. Coisa que será
bem mal aceite por quem confecionou a comida ou os donos do lugar onde comemos:
casa ou restaurante.
Há, no entanto, um código ou etiqueta que não é seguido em
demasiados lugares, públicos ou privados: o comer-se o que consta de uma
travessa ou terrina, ou mesmo tacho, comum a todos os comensais.
A refeição, desde sempre, é um local de partilha, de
satisfação comum de uma necessidade básica. Um irmanar na ingestão de
alimentos. E, nos tempos que vivemos, com as imposições laborais e horárias, um
dos pouco momentos em que aquele pequeno grupo de gente está junto. Partilhando,
para além da comida, as vivências e as ideias. Recentes ou distantes.
A não partilha de comida, ou de baixela, ou de talheres, ou
mesmo se os pratos forem servidos fora do olhar de quem ali está sentado, é um
modo de afastar ou separar aqueles que apenas naqueles momentos se partilham.
Toda a vida defendi a partilha. Como elemento de aproximação
e igualização entre individuos ou grupos. É bem mais importante o partilhar que
o dar. Até porque, em regra, dá-se o que sobra, mas o partilhar não define
quantidade ou qualidade.
Quando se está num núcleo social, por pequeno que seja, e
não se consegue que exista partilha, mesmo que muito se insista nessa tecla, o
melhor é fazer uma de duas coisas: desistir do conceito ou desistir do grupo.
A minha opção foi a óbvia. Até porque “Burro velho...”
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By me
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