quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Uma visão comprometida


 


O local que tínhamos escolhido para acampar estava interdito. Pelo que continuámos, de mochila às costas, em busca de outro.

A escolha recaiu num terreiro, bem liso e horizontal, mesmo ao lado de uma igreja, numa aldeola próxima.

Além da “barraca” que armámos, montámos a tenda e comemos do farnel que levávamos. E, citadinos que éramos, decidimos ir tomar um café no tasco, do outro lado da rua e da igreja.

Mesas de pedra, copos de vinho, dominó… Chegados ao balcão, pedimos as bicas. E fez-se um silêncio denso, pesado. Entreolhámo-nos e olhámos em redor, tentando perceber o que havíamos dito ou feito.

Nessa noite não havíamos feito, que eram colegas que o estavam a fazer: Num velho televisor, alto na parede, havia começado o telejornal e todos ali pararam para o ver.

Nessa noite aprendi, mais que de qualquer outra forma, algo que nunca mais esqueci, tantos anos que já passaram:

Que aquilo que fazemos, tantas vezes com a displicência do quotidiano, são os olhos e os ouvidos dos nossos concidadãos para o mundo.

E que esta actividade é quase uma profissão de fé em que o público, não sendo endeusado, anda lá perto.


By me

Sem comentários: