A história terá, talvez, uns dez anos. Ou coisa parecida.
Estação de caminho de ferro em Lisboa, onde aguardava o que
me levaria para casa. Já a noite iria adiantada, pelo que recordo das condições
de luz.
Duas mocinhas a rondar os 18/20 anos abordam-me no cais
pedindo-me um cigarro.
Se fosse de dia, e como estava bem disposto, ter-lhes-ia
proposto o negócio habitual: troco um cigarro por uma fotografia dos olhos.
Mas o ser de noite e a fraca iluminação do cais não permitiriam
fazer algo que se visse. Improvisei sobre o tema:
“Dou um cigarro se me souberem dizer o que está no centro
dos desenhos no chão, lá em baixo junto às bilheteiras”.
Ficaram a olhar para mim, com a cara de espanto que se
adivinha, mas aceitaram o desafio. Foram ver.
Quando regressaram vinham sorridentes e bem-dispostas:
“Ohhhh! São corações! Tão giro!”
Dei-lhes o cigarro prometido, que é feio não cumprir
promessas, e a sugestão de olharem com mais atenção para o chão que pisam.
Cheguei mesmo a contar-lhes que alguns mestres calceteiros assinam ou assinavam
os seus trabalhos com desenhos definidos pelos contornos de diversas pedras
brancas: flores ou figuras geométricas.
Entretanto chegou o comboio e cada um foi à sua vida. Mas
acredito que aquelas duas nunca mais pisaram a calçada portuguesa sem prestar
atenção aos desenhos ali existentes e à mestria de alguns em particular.
Sugiro que façam o mesmo, ainda que não a troco de um cigarro
ou sem a promessa de uma fotografia.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário